Um dos grandes desafios que a fé enfrenta hoje é o de não ficar restrita ao âmbito pessoal. É grande a pressão do mundo para que, supostamente em nome de uma tolerância maior e de um respeito a todos, cada um viva sua fé como lhe parece melhor, desde que não extrapole a própria experiência para fora dos muros da própria casa. Mas a realidade é que se um cristão vive dessa maneira ele, como disse o Papa Francisco falando sobre uma Igreja fechada em si mesma, adoece e acaba não vivendo a verdadeira fé que implica, necessariamente, o compromisso com a comunidade.
Comunidade que pode ser entendida em diversos sentidos. A família, por exemplo, como Igreja doméstica, pode ser também a primeira comunidade da qual fazemos parte. E não é possível viver a fé sem se preocupar com que os filhos tenham uma boa educação cristã em um mundo que insiste em promover valores contrários aos do Evangelho. Uma fé pessoal que não se transforme em um conjunto de bons hábitos cristãos em casa, como a oração em família, a benção dos alimentos a participação na Sagrada Eucaristia, acaba sendo uma fé não vivida. E como diz a escritura, uma fé sem obras é morta.
Depois da família, podemos lembrar da comunidade paroquial ou do movimento católico que fazemos parte. Fica ainda mais claro que não podemos ser católicos sozinhos. Deus, em sua infinita misericórdia e sabedoria, distribuiu os carismas na Igreja para que, acentuando esse ou aquele aspecto da única espiritualidade cristã, os fiéis possam encontrar-se com Ele a partir de um carisma de especial identificação. Existem muitas formas de participar da vida da Igreja, e a insistência para que encontremos o nosso lugar não é uma preocupação da Igreja consigo mesma, mas antes é uma preocupação com a salvação de cada um de nós. Se podemos resumir a espiritualidade cristã em viver o amor, esse amor se vive de forma concreta, com pessoas concretas, em um esforço muito concreto por sermos santos e levar outros ao encontro com Jesus.
"Que a nossa fé seja sempre uma fé comprometida com aqueles que nos rodeiam, porque sem isso, corremos o risco de que essa mesma fé deixe, em algum momento, de ser a luz que ela está chamada a ser no mundo".
A fé realmente possui uma dimensão pessoal que é importante ser lembrada. Um cristão é alguém que se encontrou, pessoalmente, com Cristo. E esse encontro transforma desde o mais profundo a vida da pessoa. Essa é uma experiência que, se bem pode acontecer junto com outros (Em um grande retiro por exemplo) é sempre pessoal. E isso é um tesouro que precisamos guardar com carinho e fazer crescer através de uma vida de oração cada vez mais profunda e verdadeira. Mas esse encontro com Jesus sempre possui um segundo momento, onde também escutamos aquele chamado de anunciar o que vimos e experimentamos. Sem essa segunda parte, podemos dizer que a vida cristã fica incompleta, enferma.
Maria é sempre um exemplo paradigmático desse dinamismo. Ao escutar o anúncio do Anjo, diz sim à sua missão e Jesus se encarna em seu ventre. A Palavra Viva de Deus vai crescendo em seu interior e logo depois desse primeiro momento, ela sai depressa ao encontro de sua prima Isabel para anunciar sua grande alegria e se colocar ao seu serviço. Que a nossa fé seja sempre uma fé comprometida com aqueles que nos rodeiam, porque sem isso, corremos o risco de que essa mesma fé deixe, em algum momento, de ser a luz que ela está chamada a ser no mundo. Lembremos da passagem desse Domingo que disse: “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade edificada sobre um monte não pode ser escondida. Igualmente não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto. Ao contrário, coloca-se no velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa”.
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