Conhecendo os Evangelhos compreende uma série de artigos interpretativos.
Em cada artigo será apresentada uma passagem bíblica e uma reflexão.
EVANGELHO – Mc 3, 22-30
22 Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído por Belzebul: é pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios”. 23 Mas, convocando-os, dizia-lhes em parábolas: “Como pode Satanás expulsar a Satanás? 24 Pois, se um reino estiver dividido contra si mesmo, não pode durar. 25 E se uma casa está dividida contra si mesma, tal casa não pode permanecer. 26 E se Satanás se levanta contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá. 27 Ninguém pode entrar na casa do homem forte e roubar-lhe os bens, se antes não o prender; e então saqueará sua casa”. 28 “Em verdade vos digo: todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as suas blasfêmias; 29 mas todo o que tiver blasfemado contra o Espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno”. 30 Jesus falava assim porque tinham dito: “Ele tem um espírito imundo”.
REFLEXÃO
Esta passagem não é fácil de ser interpretada, como vocês já percebem ao lê-la! A palavra Beelzebul (Βεελζεβούλ), em grego, significa: senhor das moscas; esta palavra tem a sua proveniência da língua hebraica: Ba’al Zebub (בעל זבוב). Na realidade, essa divindade era adorada pelos filisteus, na cidade bíblica de Ekron (עֶקְרוֹן), a mais ou menos 30 km de Jerusalém.
Os cananeus depositavam oferendas perecíveis ao que eles chamavam Senhor dos Exércitos, com o tempo, elas apodreciam nos altares nos quais eram colocadas, por isso os judeus começaram a zombar dessa divindade estrangeira, dando-lhe o nome de “senhor das moscas”, pois esses insetos tomavam conta das oferendas pútridas. Ba’al, na realidade, também significa senhor, em hebraico. Mas ninguém poderia adorar outra divindade que não IHWH (Javé), muito menos se fosse Ba’al essa divindade.
Para aqueles que acusavam Jesus de operar curas e milagres em nome de Belzebu, os feitos miraculosos do Mestre eram realizados pelo poder de más divindades. Não se tinha ainda a noção de que Belzebu estava no inferno de enxofre comandando os diversos demônios, pois essa concepção demonológica só apareceu no século XVI, dividindo espaço com a figura de Lúcifer (Lux + Ferre: portador da luz!!!). Chefe dos demônios, para os judeus, queria dizer que era a divindade estrangeira mais odiada e temida da época de Jesus.
"Jesus sabe que os seus milagres não tinham nenhuma relação com Satanás ou Belzebu, ou com qualquer outra divindade ou ser mitológico da época. Suas obras são realizações de Deus..."
O Mestre usa o mesmo argumento para rebater seus acusadores. Jesus sabe que os seus milagres não tinham nenhuma relação com Satanás ou Belzebu, ou com qualquer outra divindade ou ser mitológico da época. Suas obras são realizações de Deus, para mostrar que seu projeto transcendia a realidade palpável. Jesus fala a respeito de divisões nas famílias ou nos grupos, para que eles se convencessem do erro que estavam cometendo. O Mestre não podia expulsar os demônios (Satanás) em nome de Belzebu, pois estaria lutando contra o seu próprio grupo. Com esse argumento, muitos creram que aquelas obras de Jesus eram divinas.
A última ideia de Jesus é bem assustadora; sempre repercute em todos os ouvidos cristãos. Mas quem sabe dizer o que, na realidade, vem a ser um pecado contra o Espírito Santo? Muitos já tentaram responder, mas cada um dá uma opinião diferente. É certo que essa linguagem usada por Jesus é para convencer os seus adversários. Mesmo os escribas investindo contra ele, Jesus não quer vê-los distante do Reino de Deus. Por isso, ameaça duramente àqueles homens inteligentes da época, que sabiam escrever e interpretar as Escrituras, porque queria que eles aderissem ao projeto salvífico do Reino de Deus.
Pecar contra o Espírito é destruir um ser humano, que possui o Espírito de Deus; que tem o Espírito Santo. É fechar-se em si mesmo, e esquecer o sofrimento à sua volta. É tratar as pessoas ao seu redor como objetos descartáveis. Mas como diz São Paulo: “... mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça!” (Rm 5, 20b). Jesus nunca condenou ninguém (nem mesmo a Judas Iscariotes), e morreu na cruz para a salvação de todos (sem condenar aqueles que o matavam)! Por isso, todos os pecados podem ser perdoados, se houver arrependimento sincero de coração, reparação dos erros cometidos e mudança radical de vida! Este foi o maior sonho de Jesus: que todos acreditássemos que as suas obras eram da parte de Deus!
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