Por Joana D'arc Venancio Em Opinião Atualizada em 02 ABR 2019 - 16H24

Volta às aulas: um ritual de esperança pelo toque do Sagrado

Está chegando a hora de retornar ao cotidiano escolar! A volta às aulas, é um ritual social também atingido pelas ondas do consumismo, assim como muitos outros rituais. Para nós católicos, o ritual é um momento especial e que deve ser vivenciado pelas vias da espiritualidade. Como assim?

 

"O retorno às aulas deve ser momento de renovação de nossas escolhas".  

Precisamos marcar com os sinais da fé todos os momentos do ano e assim dar respostas cristãs, às propostas seculares. O retorno às aulas deve ser momento de renovação de nossas escolhas. A Escola e os seus aparatos devem ser fontes de crescimento humano. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.(Lc 2, 52). Dom Orani Tempesta, nos apresenta uma excelente reflexão em seu artigo "Um olhar de Fé”: 

Quando nossos olhos se voltam para 2014...temos certeza de que a mesma união que nos fez vencer tantos obstáculos também nos ajudará a fazer a diferença no ano que inicia. É um novo caderno que está em nossas mãos, com suas páginas a serem preenchidas: peço a Deus que nos inspire a preenchê-las sempre com a fé que nos faz testemunhar a alegria do evangelho de Cristo, que transforma vidas e contagia as pessoas para o bem.Temos certeza de que assim como o Senhor nos concedeu a graça deste ano todo especial, Ele também estará presente em nossas vidas e nossas atividades a cada dia deste ano que iniciamos. 

 

"O toque do sagrado deve permear a nossa rotina, nos inspirando a fazer jus ao ensinamento de Jesus: 'E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará'".

O toque do sagrado deve permear a nossa rotina, nos inspirando a fazer jus ao ensinamento de Jesus: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Para que possamos, como católicos, preencher as páginas desse caderno com o testemunho do Evangelho de Cristo, é preciso que retomemos os sentidos da Educação e da Escola em nossa sociedade. Não podemos e não devemos nos guiar pelos modismos das mídias que fazem da volta às aulas um apogeu do consumismo.

A educação se constitui como lócus, essencial e insubstituível, da criação de sentidos, os pessoais e os partilhados da vida. Ela é a própria vida, pois orienta próprias transformações do Mundo e da Vida. Como diz Kant: 

Um animal é, por seu próprio instinto, tudo aquilo que pode ser; uma razão exterior a ele tomou por ele, antecipadamente, todos os cuidados necessários. Mas o homem tem necessidade de sua própria razão. Não tem instinto, e precisa formar por si mesmo o projeto de sua conduta. Entretanto, porque ele não tem a capacidade imediata de fazê-lo e vem ao mundo em estado bruto, outros devem fazê-lo em seu lugar.

 

"O ensino (ato de se fazer educação) deveria ter como finalidade a preparação dos homens do futuro, formando-os para as diversas modalidades da vida, sem perder de vista o sentido profundo da existência humana". 

Se o homem, como afirma Kant, precisa adquirir algo que não pertence naturalmente a si próprio, compreende-se que necessita ser educado. No entanto, em razão mesmo da liberdade humana, esse processo não é uma atividade simples. A Educação não se limita à aplicação de fórmulas, técnicas ou práticas pedagógicas. Não parece possível pensar numa Educação que seja redutora em sua análise do que é o homem. Educação é por sua inerente condição Poiética, ou seja, “ação criadora”, que não se repete e nem se esgota, mas que se refaz continuamente pela ação, intervenção e criação do ser humano. O ensino (ato de se fazer educação) deveria ter como finalidade a preparação dos homens do futuro, formando-os para as diversas modalidades da vida, sem perder de vista o sentido profundo da existência humana. Uma preparação que não pensa somente num futuro estanque, mas que se compreende em um tempo que se chama hoje. Kant (1996, p.20) diz que:A educação, portanto, é o maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos homens”. Portanto é necessário que nós católicos, sejamos: “Sal da Terra e Luz do Mundo” (Mt. 5,14) como anunciou o Mestre Jesus. 

À escola é conferido o legado da promoção dos “homens novos” para a nova sociedade. Afirma Anísio Teixeira sobre a função da mesma: 

Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para o futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro, ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manualzinhos escolares(...) ... urge reformar a escola para que ela possa acompanhar o avanço “material” de nossa civilização e preparar uma mentalidade que moral e espiritualmente se ajuste com a presente ordem das coisas.

Kant revela uma Educação que não se esvazia em sua ação imediata, mas que acredita no “Sujeito da Educação” para além de seu estado atual. À Educação cabe esse desvelamento do “Sujeito” ocultado pelas adversidades cotidianas. A educação é o caminho proposto para que o ser humano vença os obstáculos e limites que o jogam no ocultamento de suas potencialidades. Por isso Kant é contundente ao afirmar a educação, como o mais árduo e maios problema a nós proposto.

Está na Educação a possibilidade de reconstruir as afirmações quanto às origens do homem. Somente ela é capaz de buscar resposta às indagações que rondam essa origem e onde se apoiam os fundamentos que justificam as mesmas, pois nela se assenta a necessidade de sintonia entre a subjetividade e o mundo objetivo. A subjetividade humana, interrogada pela Educação, situa-se nos cenários de suas relações sociais do mundo objetivo, onde por muitas vezes são confundidos com determinismo. O ser humano, nos cenários de convivência, responde através de suas múltiplas atividades, às condições de sua existência. Muitas vezes, tais atividades cumprem a repetição mecânica sublimando a subjetividade e as interrogações sobre ela, podendo dessa forma, estabelecer ou reafirmar o determinismo de sua existência.

A história humana é uma história do fazer e refazer humano, como tempo do possível e não de algo pré-determinado que limita a ação humana pelo imobilismo. Paulo Freire afirma que: “A História como tempo de possibilidade e não de determinismo; o futuro como problemático e não inexorável". Portanto, a Educação não pode ser um viés para o fechamento da esperança, tampouco para o afastamento da responsabilidade humana na construção de seu tempo e de sua humanidade. “...nossa passagem pelo mundo não é pré-determinada, preestabelecida. Que o 'destino' não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade não podemos nos eximir". 

O sentimento da Esperança faz a sintonia entre a Teologia (Os fundamentos de nossa Fé) e a Pedagogia (as práticas educacionais). Ambas estão em busca, através da Educação, do sentido da existência humana e para qual é necessário redimensionar a condição humana. Por isso urge que sejam derrubadas as estruturas que desumanizam e impedem o Ser Humano de viver plenamente o seu Ser. É na esperança que se refaz certeza do inacabamento e a possibilidade de recriação ou religação da humanidade ao sentido próprio de sua existência. E neste sentido a Religião é essencial. Daí a importância de nosso conhecimento profundo sobre o pensamento da nossa Igreja Católica Apostólica Romana acerca da Educação, da formação humana.

O diálogo sustentando, tendo a esperança como referencial, possibilita refazer a reflexão, superar as contradições, evidenciar novas perguntas e acrescentar novas dimensões à formação humana. E nessa dimensão a ligação com a transcendência não pode perder de vista a íntima ligação com a realidade do sujeito. Neste sentido, à Teologia é também entregue o legado da “esperançosa busca”. Por sua ação educativa, colocando Jesus Cristo como o Centro da renovação das esperanças humanas, anunciando a “Parusia” como o ápice de sua essência. Na “Parusia” está contida a esperança de que muito há para acontecer e que um dia o que já é, será ainda mais. A Teologia é uma reflexão que envolve teoria e prática numa simbiose que pretende ser perfeita, pois não quer ser especulativa, mas caminho para redimensionar a condição humana que se faz nas ações libertadoras entre os homens. Neste sentido, a existência e as vivências humanas, não são consideradas como fatalidades, mas escolhas claras e reais. Se eu escolho ser reto vou pronunciar e executar a retidão. “Diante de ti ponho a vida e ponho a morte, mas tens que saber escolher” (Dt 30, 19). A deliberação é a capacidade de escolher á própria condição. É nesta condição de escolhas que impedem as fatalidades, que a Educação é chamada à reflexão por sua condição a priori criadora, por isso Poiética.

É pertinente deixar algumas sugestões que podem fazer da volta às aulas um ritual de esperança:

- No ato da matrícula, na escola da Rede Estadual ou da Rede Municipal, pergunte sobre o Ensino Religioso e faça sua opção clara e escrita sobre o mesmo. Lembre-se de que muitas escolas omitem a existência e legalidade do mesmo.

- Se a Escola particular for opção, conheça as bases que a fundamentam: fundadores, história, valores defendidos, posição frente às questões humanas, políticas, religiosas e sociais e o pensamento sobre o Cristianismo e a Igreja Católica. Precisamos manter a sintonia entre os ensinamentos do Evangelho, de nossa Igreja e de nossas escolhas cotidiana.

- Leia os documentos que fundamentam a Escola (Pública ou Privada): os Regimentos e Projetos Políticos Pedagógicos da Escola, pois neles estão apresentadas a visão e as ações educacionais.

- Acompanhe ao longo do ano letivo a coerência entre o que foi apresentado nos Regimentos e Projetos Políticos Pedagógicos e o desenvolvimento pedagógico;

- Apoie os Professores na orientação acerca da disciplina, organização e respeito no convívio escolar;

- Converse com a Equipe Pedagógica e busque compreender o papel de cada um e como pensam a formação para os valores;

- Faça grupo de estudo para reflexão dos documentos da Igreja sobre o papel da Educação e da Escola.

- Conheça as Leis que fundamentam a Educação no Brasil, entre elas e essencialmente a LDB 9394/96;

- Tome conhecimento dos endereços e telefones dos órgãos e serviços que possam ajudar o desenvolvimento de um ano letivo coerente, produtivo e ético: Conselhos de Educação, Secretarias de Educação; Conselho Tutelar...

- Forme o Conselho de responsáveis e mestres, caso a escola não tenha e promova a representação do mesmo na escola;

- Converse com os Professores, no início do ano letivo, e ao longo do mesmo.

Que Maria, Mãe de Jesus e nossa, nos envolva com o seu manto e nos conceda a Graça de construir um mundo novo através da Educação. Que possamos também dizer Sim!

 

Joana Darc Venancio
Professora e membro do
Serviço Católico de Formação Acadêmica 

Diocese de Nova Iguaçú (RJ)

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