Felicidade. Essa palavra sempre causou um distúrbio no interior do homem. Todos a buscam, mas parece que são poucos que a alcançam. Durante a história da humanidade, a felicidade foi identificada com muitas coisas: com o conhecimento, com o sentido da vida, como buscar um certo tipo de prazer (mas não muito, porque isso traria também dor), com o encontro com o divino e, principalmente, com a descoberta da falta do divino e a aceitação da falta de sentido da nossa existência.
Enfim, como ser feliz? Depois de tantos anos, essa ainda é uma busca que tem sentido?
Albert Camus, filósofo francês, começa um de seus livros dizendo que a única pergunta verdadeiramente importante de ser respondida é a que versa sobre o suicídio: “Devo suicidar-me?”. Se viramos essa pergunta do avesso, podemos encontrar a pergunta pela felicidade. Existe na vida, algo pelo qual valha a pena viver? É possível ser feliz? A julgar pelo fato que Camus não se suicidou, podemos imaginar que ele encontrou uma resposta a essa pergunta. Ele, em poucas palavras, disse que, por mais que a vida não tenha sentido, que seja um sofrimento atrás do outro, precisamos, cada um, agarrar a grande pedra dos sofrimentos dessa vida e carregá-la morro acima, sabendo que ela vai rolar morro abaixo e que vamos ter de recomeçar esse trabalho uma e outra vez. E nessa repetição, podemos encontrar a felicidade.
Estranho? Com certeza não parece ser o ideal de felicidade que temos em mente quando dizemos que estamos buscando ser felizes. Outros filósofos de linha parecida com a de Camus, como Sartre e, talvez, Nietzsche, descobrem uma vida sem sentido e estão dispostos a abraçar essa condição humana miserável e sem resposta. Aproveitar o que temos na nossa frente para fazer disso o máximo que pudermos no curto tempo que julgamos ter (afinal, ninguém sabe realmente o tempo que dispõe ainda para viver).
Por que falar desses filósofos em um texto sobre a felicidade? Porque muita gente, inclusive pessoas que frequentam a Igreja, parecem ter comprado esse discurso de falta de sentido e, na prática, vivem muito mais como se isso fosse verdade do que de acordo com a fé que professam. E é importante saber que a nossa fé não é um refúgio de bons pensamentos no qual nos escondemos de um mundo perverso que não queremos aceitar.
Pelo contrário, Jesus Cristo, com sua encarnação que acabamos de celebrar no Natal, vem justamente para mostrar que esse mundo é uma criação de Deus e que a nossa existência participa, junto com toda a criação, de um Dom de Deus inicial, de um plano amoroso, de um sentido.
Hoje em dia gostamos muito de listas do tipo: "10 coisas a fazer para ter sucesso" ou "7 dicas para ser mais eficiente". Mas não existe a lista de coisas a fazer para ser feliz. E quem vende esse produto, certamente não fala a verdade.
O que nos trouxe Jesus foi a reconciliação com Deus, que tínhamos perdido no pecado original. A felicidade é estar em comunhão com Deus. Agora, isso se faz concreto na vida de cada um como fruto de um relacionamento com Deus. Alguns serão padres, outros irmãos, outras serão freiras, vários desenvolverão uma família cristã, participarão de alguma atividade pastoral, serão católicos, empresários, formarão um grupo de oração. As possibilidades são, literalmente, tão amplas quanto o número de pessoas que existem, porque cada pessoa é única e sua relação com Deus é única também.
Do que se trata, então? Para nós, cristãos, ser feliz é simplesmente descobrir, no nosso batizado (no sacramento mesmo que recebemos), a semente de uma vida nova. A vida que, se for regada e cuidada, crescerá e florescerá. Se trata de viver em coerência com a nossa identidade de filhos e filhas de Deus. Todo o resto é acessório e, muitas vezes, desnecessário, senão prejudicial.
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