Por Eduardo Gois Em Igreja Atualizada em 22 OUT 2018 - 12H24

Católicos intolerantes na internet têm desejo de morte simbólica

A Era digital tem mostrado muitas mudanças e quebra de paradigmas. A Igreja procura acompanhar esse caminho em constante transformação, o que é sempre muito importante. O A12 mostra uma sequência de matérias que falam a respeito do assunto.

Leia MaisEvangelizar na cultura digital vai muito além de criar uma páginaNa reportagem anterior tivemos a participação do professor, mestre e doutor em Ciências da Comunicação, Moisés Sbardelotto, que aborda a necessidade de repensar a própria ideia de ser Igreja em tempos de redes sociais digitais. Agora o professor fala sobre a intolerância na internet e como isso também se espalha em meio aos fiéis católicos.

Para Sbardelotto, o próprio Papa Francisco reconheceu isso em um documento do magistério pontifício, a sua recente exortação apostólica Gaudete et exsultate, sobre o chamado à santidade no mundo atual. Ele dedicou um parágrafo inteiro do documento a esse “pecado digital”: “Pode acontecer também que os cristãos façam parte de redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital. Mesmo nas mídias católicas, é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia”, pontuou o Papa.

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Segundo o professor, quando a intolerância explode nas redes, a pessoa que está do outro lado da tela já não é mais um “irmão ou irmã na fé”, mas apenas alguém sobre o qual se descarrega toda a raiva e rancor pessoais, camuflados de defesa da tradição, da doutrina, da liturgia, de um posicionamento político, com citações artificiosamente pinçadas da Bíblia e do Catecismo para tentar justificar o injustificável, ou seja, a própria intolerância.

“Não se trata apenas de não tolerar alguém, o que já seria uma atitude não-cristã. O problema é a raiva, o ódio, a agressão, o desejo de ‘morte simbólica’ da outra pessoa. Supostamente agindo pelo bem da Igreja e a salvação das almas, esses cristãos e católicos apedrejam simbolicamente tudo e todos que forem ‘diferentemente católicos’, inclusive o Papa, se acharem necessário. São verdadeiros ‘linchamentos em rede’ por parte de certos católicos, que se arrogam o direito – e até o dever –, em nome da ‘sã doutrina’, de atirar a primeira pedra. Prega-se a exclusão de tudo o que seja ‘catolicamente diferente’ e de todos os ‘catolicamente outros’”, aponta o professor.

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Além disso, ele acrescenta que, na mesma exortação apostólica, o Papa Francisco afirma que o testemunho de santidade, no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem. E também envolveria a alegria e o senso de humor. Diante da violência em rede, não é necessário manter uma atitude retraída, tristonha, amarga, melancólica. O mau humor não é sinal de santidade. Sem perder o realismo, afirma o Papa, "o santo ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é ter alegria no Espírito Santo”.

Então, responder ao chamado à “santidade digital” é reconhecer que, por trás das telas dos computadores, tablets e celulares, de seus números e dígitos, estão pessoas humanas. “Está o nosso próximo, a quem devemos servir e amar. Em rede, o santo digital age, interage e reage, se for preciso, sempre a partir da fé e da caridade” conclui.

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