Estamos terminando o Tempo Pascal e estamos celebrando Pentecostes. Assim como os judeus celebravam essa festa, na qual agradeciam a Deus pelos primeiros frutos das plantações, nós também agradecemos a Deus por esse “primeiro fruto” da semente que Jesus plantou no mundo com sua vida, morte e ressurreição, que é o dom do Espírito Santo. Nos lembramos daquela época inicial da Igreja e elevamos nossas preces agradecendo que esse dom, que continua atual e se renova de alguma maneira a cada celebração litúrgica.
Estamos no tempo do Espírito Santo. Ele é a alma da Igreja, é quem nos guia com suas moções até a “verdade total” (Jo 16, 13), como prometeu Jesus. Uma das características de nosso tempo, que o Espírito Santo está suscitando, é a diversidade de carismas, de comunidades e de espiritualidades que, a serviço da Igreja, ajudam a que os homens se encontrem com o amor de Deus e possam ser santos.
Essa diversidade pode, muitas vezes, parecer uma falta de unidade. Como podem grupos com estilos diferentes fazerem parte de uma mesma espiritualidade? O Espírito Santo é a resposta. Nele está a diferença entre a Torre de Babel, que sempre podemos voltar a construir, e a Igreja de Jesus que caminha rumo a Pátria Eterna, ao encontro definitivo com Deus.
Babel é, segundo o Papa emérito Bento XVI, “a descrição de um reino no qual os homens concentraram tanto poder que pensaram que já não precisavam de fazer referência a um Deus distante e, deste modo, eram tão fortes que podiam construir sozinhos um caminho que leva ao céu para abrir as suas portas e pôr-se no lugar de Deus”.
Vemos que é um desejo de ser como Deus, mas sem Ele, muito semelhante ao pecado original de Adão e Eva. Essa é uma tentação muito antiga e também bem atual. Podemos perceber em nossa sociedade como o homem, em geral, cresceu tanto com os avanços tecnológicos e científicos que pareceria não ter mais necessidade de Deus. Muitos pensam que realmente não O necessitam. Mas justamente aí está o erro tão antigo e tão novo.
Todas as vezes que tentamos fazer as coisas por nossas próprias contas, nos voltamos uns contra os outros. Onde aparentemente havia uma unidade (como em Babel, onde todos construíam juntos), percebe-se um afastamento das pessoas, um buscar-se primeiro, colocar-se no centro da realidade em detrimento do outro, algo que sem muito esforço podemos notar na nossa realidade atual. E esse projeto está fadado a se autodestruir.
Talvez porque sabia disso foi que Gamaliel disse, como nos relata São Lucas nos Atos dos Apóstolos, “Agora, portanto, digo-vos, deixai de ocupar-vos com estes homens. Soltai-os. Pois, se o seu intento ou sua obra provém dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de Deus, porém, não podereis destruí-los. Não aconteça que vos encontreis movendo guerra a Deus. ” (Atos 5, 38-39).
Em Pentecostes acontece justamente o contrário. Uma vez que os apóstolos receberam o Espírito Santo em Pentecostes, eles passaram de discípulos amedrontados a anunciadores convictos da Boa Nova de Deus. Essa língua de fogo ardia em seus corações e em suas bocas e eles falavam em várias línguas diferentes e todos entendiam no seu próprio idioma.
Onde parece haver divisão, o Espírito Santo traz a união, sem que ninguém perca a sua identidade pessoal. É uma unidade na diversidade. E isso é maravilhoso! Deus sabe como chegar ao coração de cada um, por mais diferente que sejamos uns dos outros.
Se voltamos agora nosso olhar novamente às diversas comunidades que existem no seio da Igreja, podemos entender melhor como não são contraditórias, mas, muito pelo contrário, são expressões da riqueza infinita dos dons de Deus, que estão no mundo com o propósito de chegar a todos e a cada um dos corações que ainda sentem o frio da ausência do Senhor.
Que o Espírito Santo venha com mais força à Igreja nesse Pentecostes. Que seja Ele quem realmente nos guie até a Verdade Total. Que seja Ele quem atue por meio de nós, frágeis instrumentos, para tocar os homens de hoje, a fim de que percebam que a grandeza que desejam não pode ser encontrada sozinha, mas apenas em Deus.
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