A alteração o DNA humano cria uma zona cinzenta que na verdade assusta a humanidade. De um lado, temos centenas de milhares de pessoas que hoje sofrem de doenças de origem genética, que se beneficiariam com as pesquisas e aplicação desta nova técnica do CRISPR-Cas9 para a cura destas doenças. Por outro lado, trata-se de um empreendimento profundamente arriscado quando ainda não temos um conhecimento profundo de como o DNA realmente funciona. Existe muitas pesquisas em curso que procuram entender como as diferentes peças do genoma humano funcionam juntas. Temos um exemplo interessante. Até recentemente, os cientistas pensavam que boa parte do nosso material genético não servia para nada. Chamavam de “DNA lixo”. Hoje sabemos que o “DNA lixo” tem um papel fundamental na regulação da expressão genética.
Leia MaisEntusiasmo cientifico e inquietações éticas sobre o Crispr-Cas9Uma descoberta revolucionaria na área genética - O Crispr-Cas9Estamos diante de uma realidade em que podem surgir cenários sombrios. E se ocorrer que um cientista muito bem-intencionado desenvolver a cura para uma doença e aplica esta nova técnica em centenas de milhares de doentes, sem antes saber que os efeitos colaterais podem ser devastadores e mesmo mortais? Ou seja, trata-se do caso em que a busca da cura é muito pior do que a doença em si mesma. Este cenário poderia ocorrer frente a um cientista com boas intenções. Agora, podemos nos perguntar e imaginemos essas poderosas ferramentas nas mãos de bio-hakers sem escrúpulos, que poderíamos denomina-los de terroristas genéticos! Eles poderiam alterar o genoma da gripe por exemplo, tornando-a mais potente e desencadeando uma epidemia que certamente colocaria em risco a vida de muita gente.
Entre os bioeticistas que refletem sobre estas novas técnicas de edição gênica em embriões enfatizam que estas têm um grande potencial promissor porque poderia erradicar doenças genéticas devastadores e incuráveis antes de um bebe nascer. Outros mais cautelosos dizem que esta técnica ultrapassa uma linha ética de grande perigo, pois mudanças da linha germinal, são hereditárias, e poderiam ter um efeito imprevisível sobre as gerações futuras, além da ameaça sempre presente da pratica da eugenia e de criação de “super-raças”. Os processos científicos que interferem no genoma humano devem ser feitos com um mínimo de segurança, transparência e controle social da sociedade. Além disso os cientistas devem sempre se questionar, se perguntar: “Isto é realmente necessário de ser realizado ou implementado? ”
Nem tudo o que pode ser feito deve ser feito, especialmente por razoes de biossegurança identificadas com a própria genômica das gerações futuras. Não se trata de precaução exagerada, mas de responsabilidade ética em relação a procedimentos cujos resultados ainda não são seguros, e que podem colocar em risco a vida futura da espécie no nosso planeta. Falamos mais de prudência e precaução do que em temor, numa perspectiva bioética. O problema é que pelo conhecimento que temos hoje, ainda que precário em várias áreas, já sabemos que certas modificações radicais inseridas no genoma humano poderão torna-se irreversíveis, inviabilizando a reprodução da espécie. E frente a uma catástrofe dessas proporções, de quem seria a responsabilidade? É por isso que necessitamos de uma ética de proteção. A Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos da Unesco, ainda nos anos 90 do século passado, deixa muito claro que todas as pesquisas com o genoma humano “devem levar em conta suas implicações éticas e sociais”.
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