Desde os apóstolos a Igreja professa que Jesus Cristo é o único mediador do Pai, no sentido absoluto, original e exclusivo da palavra. Só por Ele somos salvos. Na plenitude e mediação da Revelação, Jesus age e quer comunicar-nos o amor de Deus através de “mediações subordinadas”. Movendo-nos por seu Espírito, Jesus nos integra na Igreja que é assembleia ou comunhão vital regeneradora pela santidade dele. Ele, cabeça do corpo, une e santifica os membros. Comunica-nos os bens espirituais, os quais nele comungamos e partilhamos: sacramentos, carismas, virtudes, caridade etc. Devido à comunhão misteriosa com Ele somos todos mediadores uns para os outros nas obras da salvação. (1Cor. 3,9). O papel ‘salvífico’ de Nossa Senhora é o da mediação materna e subordinada. O Pai a chamou à vocação de Mãe do Verbo na carne e mãe espiritual da Igreja. Maria aceitou e assumiu com fé, esperança e caridade totais o desígnio divino. Não é uma coadjuvante com poder paralelo ao de Deus. Ele não precisava de ajuda. O sim oblativo da Virgem nada acrescentou à ação salvífica de Deus em Cristo. Aliás, sua “cooperação” ou resposta ativa mostra exatamente isso. A teologia católica sobre a intercessão de Maria, dos apóstolos, santos e evangelizadores etc. nada tira da mediação única de Cristo.
Entretanto, a relação entre graça de Deus e liberdade humana no “sim” da Virgem é tão inimaginável que não encontramos conceito perfeitamente adequado à sua realidade. Os adjetivos ‘corredentora e medianeira’ têm sido evitados oficialmente desde o Concílio Vaticano II. A própria palavra “cooperadora” é vista com ressalvas devido a sentidos ambíguos. Como expressar o diálogo do amor que se revela e elege (Deus), com o amor que responde e se doa, (Maria) sendo que o doar-se nela é disponibilidade na obediência da fé e ao mesmo tempo graça divina antecedente? “Deus quis fazer existir seu Cristo na carne pelo fiat de Maria” (pg.122).¹
A reflexão quanto ao papel de Maria sobre nossa fé em Cristo nunca pode centralizar-se só nela. Talvez haja esse desvio fácil na vivência da piedade popular hoje. É preciso sempre purificar a maneira de apresentar ao povo cristão a doutrina e a piedade marianas. Hoje seria insustentável a expressão: doce coração de Maria, sede a nossa salvação! (Schillebeeckx entende por ‘mariolatria’ o atribuir em surdina à Virgem o culto devido a Cristo). Os santuários são praça-forte de evangelização e são oásis de conforto espiritual. Isto é ótimo! Mas, é correto e autêntico do ponto de vista mariológico subordinar romarias aos critérios do “turismo religioso”? A Pastoral do turismo estará a serviço de uma Igreja povo de Deus peregrino se e na medida em que conduzi-lo para a vida comunitária e paroquial.
¹Fonte da citação em questão: Grupo de Dombes, Maria no desígnio de Deus e a comunhão dos Santos, Ed.Santuário, 2005
¹Fonte da citação em questão: Grupo de Dombes, Maria no desígnio de Deus e a comunhão dos Santos, Ed.Santuário, 2005
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