A aparição de Nossa Senhora em Paris, no ano de 1830, é cercada de simbologias que a piedade católica, ao menos os menos esclarecidos em Mariologia, exageram no seu significado. As teorias, sem nenhum fundamento histórico e teológico são um abuso e ofuscam o verdadeiro sentido de um objeto de piedade.
Leia MaisCuriosidade sobre os raios de Nossa Senhora das GraçasMagnificat: Nossa Senhora das Graças ou Medianeira?
A Medalha Milagrosa de Nossa Senhora é um sacramental com as devidas aprovações eclesiásticas e, por esse motivo merece toda uma atenção, pois esse símbolo passou a ser utilizado por muitas pessoas que, muitas vezes, não têm nenhum conhecimento religioso.
Por isso, merece um aprofundamento especial.
Este objeto surge quase na meados do séc. XIX, em um período histórico, político e religioso bem preciso. É neste contexto que deve ser entendido, pois os acontecimentos que o circundam ainda são os mesmos dos nossos dias, com matizes diferentes.
Uma sociedade abalada pelas novas teorias da Revolução Francesa e do Iluminismo; uma Igreja inquieta e insegura nas forças espirituais e políticas; a política que outrora se espelhava em uma formação cristã, se torna avessa e de interesses desumanos frente à religião.
Mas, o que a Virgem Maria quer nos comunicar? Só uma medalha devocional? É obvio que não. Uma verdadeira mariofania possui um peso estrutural e ontológico de alta dimensão teológica e espiritual que muitas vezes é banalizada pelos crentes e sem apoio das devidas orientações das autoridades eclesiásticas. Comecemos o nosso estudo!
A frase dourada: "Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós". Revela o mistério da Imaculada Conceição, que ainda em 1830 não estava reconhecido como dogma católico e a intercessão/mediação de Maria. Ambos mistérios estão interligados e são inseparáveis, pois para se alcançar um favor divino se deve estar isento de culpas.
A Virgem não insiste no tema em modo verbal, mas no sinal físico, com letras de ouro e que, a partir deste momento, do uso da medalha e da jaculatória se corrobora o futuro dogma, pois a voz misteriosa no momento da aparição diz:
“É preciso cunhar uma medalha com este modelo, e as pessoas que a trouxerem consigo e que fizerem esta curta prece com piedade receberão uma proteção especial da Mãe de Deus”.
Vejam que não é só o uso em si, mas o uso e a oração que dá sentido à medalha. Portanto, as graças recebidas são frutos provenientes do grande mistério da Imaculada Conceição.
Para se chegar à definição dogmática de 1854, parece que Nossa Senhora antecipa o desejo da trindade em que este seja proclamado, isto é, a Medalha seria um caminho com a graça/milagres a querer dizer que Deus é favorável a que este mistério seja cultuado como verdade de fé.
A forma da Medalha é ovalada: Mas porque a medalha tem a forma oval? Não poderia ser circular, quadrada, retangular ou triangular como muitas medalhas já em uso no séc. XIX? Sabe-se que era comum às Irmãs de Caridade usarem a Medalha de São Bento. Portanto, para esta congregação não seria novidade o uso de uma medalha, mas sim a forma e o conteúdo.
A forma ovalada está relacionada à vida, pois o ovo tem uma conotação simbólica da vida, assim como sugere o mistério da Imaculada Conceição. O concebimento imaculado de Maria é, no seu sentido mais profundo, ligado ao mistério da vida original sem o pecado.
Maria, toda agraciada pelos méritos de Cristo, é para o mundo o sinal perfeito da misericórdia divina a favor dos homens. Sinal de esperança de que não fomos deixados na lama do pecado, mas restaurados em Cristo Jesus.
Maria, portanto, é a primeira redimida e sinal de que tudo será continuado em nós, a Igreja, pelo beneplácito de Deus.
A forma da Medalha difere do escapulário carmelita e outros, quadrado ou retangular, por indicarem uma vestimenta.
O gesto de Maria
Maria de pé: Muitos de forma errada interpretam Nossa Senhora estar de pé e pisando a serpente com o texto bíblico de Gn 3, 15. O texto bíblico não se refere a Maria e sim a descendência que esmagará a cabeça. O Maria estar de pé e pisando a serpente, é um símbolo que indica o mistério da Imaculada conceição e sua isenção ao pecado original. Parece exagerado a má interpretação deste triunfo de Maria como que ela por si mesma foi merecedora de algo ou que tem uma força extraordinária igual a Deus.
O estar de pé significa ter autoridade e no sentido da Medalha se refere ao poder intercessor de maria junto a Deus. Também significa prontidão e a este gesto se liga às mãos estendidas como gesto de generosidade e acolhida. Maria é generosa e acolhedora para os pecadores que a buscam verso à santidade.
As mãos de Maria
a) Anéis: Catarina fala que nos dedos da virgem tinham anéis e destes saiam raios. Pois bem, o anel no contexto bíblico indica autoridade (cf. Gn 41,42 e Ester 3,10), assim como servia como selo, onde indicava a autoridade de quem selava um documento ou emitia um favor; contudo no NT testamento, a parábola do filho pródigo nos chama atenção par ao anel que o pai põe no dedo do filho que se arrependeu: ele alcançou novamente a o favor do pai e é reabilitado ao poder da herança que perdera (cf. 15,22).
Na visão de Catarina, ela recebe a explicação do significado dos anéis e que não era um só nos dedos da virgem e sim vários anéis e que estes simbolizavam as graças pedidas e alcançadas.
b) Abertas: sinal de generosidade e acolhimento: Acolhimento quanto aos nossos pedidos, a nossa conversão, a nossa santificação; generosidade quando a Virgem alcançando de Deus a graça desejada esta é disposta.
c) Raios: Muitos pensam que das mãos de Maria saem raios, como que de Maria as graças proviessem. Ora, pensando deste modo seria uma ofensa a Deus e uma mariolatria, coisa que a própria mensagem de Nossa Senhora a Catarina Labouré não quer enfatizar.
O que realmente a jovem noviça ouviu no momento da aparição? A voz parecia não ser de Maria e sim de um outro interlocutor. Seria o mesmo anjo que lhe aparecera na noite de 18/19 de Julho?
A voz dizia:
"Esses raios são o símbolo das graças que Maria obtém para os homens" (27/1171830) e “Esses raios são o símbolo das graças que a Santa Virgem obtém para aqueles que as pedem” (30/12/1830).
Notemos que a voz explica o que seria os raios que saem das mãos da Virgem: símbolos. Símbolos do que Maria santíssima nos obtém de Deus e do que dela mesma emana. Isto diminui o papel da Mãe de Deus na nossa devoção pessoal? Não, pelo contrário, explica e reforça do poder da Virgem em interceder por nós. Mas voltemos o olhar para o dia 18/19 de Julho de 1830, quando da primeira aparição. A virgem revela de onde as graças provêm:
“Mas venha ao pé do altar. Aqui, as graças serão concedidas a todas as pessoas que as pedirem com confiança e fervor: grandes e pequenos. As graças serão concedidas particularmente às pessoas que as pedirem”.
Vejamos que a Nossa Senhora não diz, ‘venha a Mim? e sim à Eucaristia. Eis o sentido grandioso da mensagem da Rue du Bac.
O vestuário: Embora na medalha não indica as cores do vestuário, nas anotações de Catarina e do seu confessor, o Pe. Aladel sobressai alguns elementos de significado importante. Se fala que a Virgem estava vestida de branco, com um véu branco aurora (cor de pérola?) …
Mas nas anotações do sacerdote ele fala de um manto azul, um véu de rendas (branco) na cabeça da Virgem e que dá para ver seus cabelos repartidos ao meio. Tal representação de Nossa Senhora das Graças ficou como tradição nas iconografias posteriores. O véu branco, pode indicar a consagrada Virgem pela sua Virgindade perpétua; o manto azul, que ela está revestida do Altíssimo e seu vestido branco, mais uma vez indica sua pessoa imaculada, sem mancha.
Tempo litúrgico: a revelação de Nossa Senhora que se tornou conhecida como da Medalha Milagrosa ou Nossa Senhora das Graças ocorre no Tempo litúrgico do Advento. Como sabemos este tempo é um tempo forte de preparação para o natal, contudo outro indicativo está escondido para escolha desta data revelar este sacramental.
Advento significa, preparação para novos tempos que a liturgia indica o Natal, a vinda do Salvador. No caso da mariofania a Catarina indica um novo tempo que vai abrir caminho a um novo olhar à pessoa de Maria e no grande mistério que Deus operou nela na sua Imaculada Conceição. Para a Igreja e para o mundo será um novo tempo de graça e não de desgraça. O mundo, mergulhado nas teorias do Iluminismo, vai encontrar na pessoa da Mãe do Senhor o verdadeiro sentido do ser humano, não voltado ao material, mas revestido de Cristo Nosso Senhor.
A cor litúrgica é o roxo, tal qual o tempo da Quaresma. Está é a tônica penitencial, onde se caracteriza as dificuldades pessoais que cada pessoa leva.
No verso da Medalha, quatro imagens aparecem. O M, a Cruz, as estrelas e os Corações de Jesus e Maria.
A Cruz e o M (aria) têm fortes indícios do mistério da Encarnação, da relação materno divino de Maria. Toda está realidade associa Maria ao mistério da redenção que por sua vez, foi efetivado no mistério da Imaculada Conceição. A simbologia do entrelaçar é o sinal de que Maria depende totalmente da obra salvadora do Filho em beneficio da Igreja, onde ela mesma é arquétipo singular.
Os Corações de Jesus e Maria são evidenciados por quê? É justamente uma tradição secular esta relação dos corações, principalmente na França, onde se divulgou esta devoção. Mas no contexto da medalha um coração reflete o outro. Vejamos que o Coração de Jesus vem em primeiro lugar, mas cercado de espinhos. Tal imagem faz lembrar as queixas que Jesus fez a Margarida Maria pelas ingratidões da humanidade. Mas o Coração de Maria está transpassado pela espada, sinal de associação incondicional na imitação do Filho e sua Sócia no sofrimento salvífico. As dores de Maria são as dores do Filho e tais dores, associadas as do Filho, são colaboração também na salvação do mundo.
Ambos os corações são envolvidos por chamas, onde mostra a chama de amor incondicional de Jesus e Maria pelos homens.
As Estrelas parecem circundar as três imagens que se mostram. É como que o coroamento ou o triunfo destas realidades simbólicas: a Cruz da nossa redenção, Maria/Igreja vencedoras em Cristo e o Amor de Jesus e Maria que vencerão as barreiras das indefensas humanas.
As estrelas no Apocalipse 12 está mais voltado ao triunfo da Igreja que propriamente a pessoa de Maria. Maria e a Igreja se representam mutuamente e todos os dogmas marianos indicam também a Igreja. Dai que se aplica erroneamente as 12 estrelas da Medalha à “Mulher vestida de sol”, coroada com doze estrelas, etc. Portanto, as 12 estrelas na Medalha nos impele a ver um futuro triunfante do projeto de Deus, a vitória da obra de Cristo com a participação da Serva do Senhor.
Por que Maria tem tantos títulos e nomes?
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.