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A Noiva de Caná

Escrito por Vinícius Paiva

13 SET 2018 - 09H30 (Atualizada em 05 JAN 2024 - 11H51)

Thiago Leon
Thiago Leon
Thiago Leon
Nicho de Nossa Senhora Aparecida


No Santuário de Aparecida, mais precisamente no nicho onde está a imagem de Nossa Senhora Aparecida, temos referência a um dos versículos bíblicos do Apocalipse: "O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Que o sedento venha, e quem o deseja, receba gratuitamente água da vida" (Ap 22,17). Vale a pena contemplarmos o conjunto da obra, que muito tem a nos ensinar.

No evangelho das Bodas, é comum nos perguntarmos quem seria a noiva de Caná. A noiva é a Igreja. Por mais estranho que possa parecer, a narrativa do evangelista João não tem apenas a intenção de nos contar o primeiro sinal realizado por Jesus, mas de nos revelar um mistério muito maior. O mesmo mistério que, de outra forma, explica Paulo na Carta aos Efésios:

"E vós maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (...). É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja" (Ef 5,25-27.32).

O "Vem" do Apocalipse é o grito do Espírito Santo e da Igreja que aguarda seu Esposo. E Maria? Maria é justamente aquela que é figura da Igreja, pois desfruta de todas as qualidades elencadas por Paulo: gloriosa, sem mancha (imaculada), santa e irrepreensível. É por isso que a Igreja olha para Maria como modelo de Esposa. Maria viveu não só a dimensão do amor maternal, mas também a dimensão do amor virginal. Veja o que diz a Carta Encíclica Redemptoris Mater de João Paulo II:

“Maria une em si, de maneira perfeita, o amor próprio da virgindade e o amor característico da maternidade, conjuntos e como que fundidos num só amor. Por isso, Maria tornou-se não só a 'mãe-nutriz' do Filho do homem, mas também a cooperadora generosa, de modo absolutamente singular, do Messias e Redentor. Ela - como já foi dito - avançava na peregrinação da fé e, nessa sua peregrinação até aos pés da Cruz, foi-se realizando, ao mesmo tempo, com suas ações e os seus sofrimentos, a sua cooperação materna e esponsal em toda a missão do Salvador” RM 39

Em outras duas citações, o documento vai falar do "amor esponsal" de Maria. É o amor "que consagra totalmente a Deus uma pessoa humana" (Rm 39). É o amor da esposa, é o amor que a Igreja deve ter a seu Esposo, pois, assim como Maria, a Igreja é chamada a viver o amor esponsal. Jesus não era apenas seu filho - como se isso já não fosse, por si, algo grandioso - mas ele também era seu Senhor. Esse foi o itinerário de fé que Maria trilhou, da Anunciação até a Cruz.

Um grande teólogo do século XX, Hans Urs Von Balthasar, afirma que a união nupcial entre Cristo e a Igreja se realiza na cruz, onde a Igreja está representada por Maria (1). Então, se o casamento da Igreja com Cristo se realiza na cruz, na teologia joanina de Caná, essa mesma Igreja, prefigurada em Maria, é a noiva. Nessa ótica, a voz aflita dizendo "Eles não tem mais vinho" (Jo 2,3), não era apenas a fala de uma mãe, mas da noiva para seu noivo. E o noivo não decepcionou. E a festa não acabou. E Caná perdurou até a consumação no Calvário.

A contemplação da noiva de Caná nos permite mergulhar nesse mistério maior que é nossa relação pessoal e eclesial com o Noivo, com aquele que vai chegar, como na parábola das dez virgens: "O noivo vem aí! Saí ao seu encontro! (Mt 25,6). Que belo ver que a Virgem Aparecida responde em nome da Igreja e em nosso nome: Vem! Vem Senhor Jesus!

Aprendamos, na escola de Caná, a amarmos Jesus de todo nosso coração, e que esse amor se traduza na prudente vigilância do serviço ao próximo e que nunca falte em nossas lâmpadas o azeite do Santo Espírito.


Vinícius Paiva é teólogo, mariólogo, associado da Academia Marial de Aparecida e coordenador da rede digital Escola Maria de Caná

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BALTHASAR, Hans Urs Von apud
HACKMANN, G. A imagem da esposa de Cristo na eclesiologia de Balthasar. In: Horizonte, Vol 13, No 37, p. 446-477. Belo Horizonte: PUC Minas, 2015.


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