Existem muitas histórias sobre a origem dessa que é uma das mais populares orações da Igreja Católica. Muitas pessoas são indicadas como possíveis autores. Existe até quem sustente que seria um hino dos combatentes da Primeira Cruzada. Leia MaisComo surgiu a oração da Ave Maria?
Mas o mais provável é que tenha sido mesmo composta pelo monge alemão beneditino Herman Contrat, em 1050. Ele nasceu no dia 18 de julho de 1013, com graves problemas de saúde e num tempo de crises, pestes e calamidades.
Os povos bárbaros vindos do Leste invadiam as cidades destruindo igrejas e conventos, provocando medo, sofrimento, dor e mortes.
Conta-se que ao nascer, sua mãe, Miltreed, o consagrou à Virgem Maria. Era portador de uma doença chamada raquitismo, que o deixaria progressivamente paralítico; tinha o palato fendido; era vítima de paralisia cerebral e esclerose amiotrófica ou atrofia muscular espinal. Resumindo: tinha enorme dificuldade para se movimentar e quase não era capaz de falar.
Não foram poucos os desafios e sua vida. Era uma dessas pessoas que tinha tudo para dar errado e fracassar na vida. Seus pais não suportaram o peso de criar uma criança com estes problemas e o confiaram, aos sete anos, aos monges beneditinos, que o acolheram no mosteiro para os estudos em regime de internato.
Naquele ambiente de silêncio, trabalho, estudo e oração, Contrat foi superando cada um dos seus limites por meio da disciplina perseverante. Jamais perdeu a fé na vida e a vida de fé. Era um apaixonado pela ciência e pelas artes. É notável seu exemplo de auto superação. Tornou-se astrônomo, matemático, físico, teólogo, poeta e músico. Compôs diversas antífonas e canções para a liturgia.
É preciso situar o tom dramático de seus poemas e melodias na Europa do século XI que passava por guerras, devastações e muitas calamidades. A Salve rainha é uma dessas preces que reconhece as dificuldades desta vida, em que muitas vezes “gememos e choramos neste vale de lágrimas”.
Conhecendo um pouco a história deste autor é possível entender o significado da prece. Mas no último acorde, a oração não estaciona na tragédia. Contrat é um homem de fé e esperança. Ele acredita que Deus sempre prepara um final feliz para quem se coloca em seus braços e confia na sua misericórdia providente. A prece que sai de seus lábios é uma declaração de confiança amorosa do Deus que jamais nos abandona.
Aos vinte anos, Herman Contrat se tornou monge beneditino e passou toda a sua vida na Abadia de Reichenau, que fica numa ilha no Lago Constança, no sul da Alemanha. Acabou se tornando o Mestre dos Noviços.
Além da famosa Salve Rainha, outras obras chegaram até nós. Compôs ofícios em memória de alguns santos; elaborou todo um tratado de música; tem alguns escritos sobre geometria e aritmética e são famosos seus tratados sobre astronomia.
Ofereceu importante contribuição para o aperfeiçoamento do astrolábio, instrumento que iria tornar possível as grandes navegações. Foi um fecundo historiador, que compilou em uma única obra os diversos relatos do cristianismo desde o nascimento de Jesus Cristo, até por volta do ano mil.
Aprendeu diversos idiomas, inclusive árabe, grego e latim. Dedicou-se a construir novos instrumentos musicais e astronômicos.
Naquele ambiente de silêncio, trabalho, estudo e oração, Contrat foi superando cada um dos seus limites por meio da disciplina perseverante.
Sua vida foi assim: os limites aumentavam e ele os ultrapassava um a um. Ao final da vida, como se não bastasse mais nada, ficou cego. Parece que este seria o limite determinante para parar a força de superação de Herman Contrat.
Mas foi justamente nesta fase que ele compôs a obra prima que deixaria sua marca diária na história da humanidade até os nossos dias: a Salve Rainha. Faleceu no mosteiro de Reichenau no dia 24 de setembro de 1054. Foi beatificado pela Igreja Católica em 1863.
Entre os textos profundos e marcantes deste homem santo, selecionamos o seguinte, para que possamos ouvir o respiro de sua alma:
"De três modos pode-se sofrer: estando inocente, como Nosso Senhor na cruz; estando-se culpado, como o bom ladrão; e para fazer penitência. Eu quero carregar minha cruz para satisfazer por meus pecados e pelos pecados dos outros. É este o meio mais seguro de se chegar à glória do céu. Mas, sinto-me muito fraco. O demônio quer fazer-me vacilar. Mãe do céu, ajudai-me, para que, como vós, eu não murmure e não me queixe, mas reconheça no sofrimento uma prova do amor de Deus."
Mas Contrat não compôs toda a Salve Rainha como a conhecemos hoje. A oração originalmente terminava na frase: “Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre. Amém”. É curioso que o poema orante não pronunciava em nenhum momento o nome de “Maria”.
Passaram-se cerca de cem anos. A prece se tornou rapidamente muito popular. Era cantada rezada com frequência em muitos lugares. Numa dessas ocasiões, foi a oração escolhida para uma importante celebração na Catedral de Espira. Estavam presentes personalidades importantes, como o Imperador Conrado.
No meio do povo, quase anônimo, estava um jovem desconhecido que mais tarde o mundo conhecera como São Bernardo, o “cantor da Virgem Maria”. Foi ele quem popularizou, por exemplo, o título de “Nossa Senhora”. O jovem Bernardo naquele dia se uniu ao coro que entoava a Salve Rainha na catedral.
Mas quando todos terminaram e fez-se aquele silêncio reverente, a voz do jovem continuou com a inspirada frase em latim que ele criou naquele momento: “ó clemens, ó pia, ó dulcis Virgo Maria”. A partir daquele dia, o verso improvisado passou a integrar a oração da Salve Rainha e é assim que a terminamos até hoje: “ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre, Virgem Maria”.
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