O que parece ser um novo título mariano, é na verdade uma constatação muito oportuna a respeito da Virgem Maria, que muito tem a nos dizer em tempos de pandemia.
“Tudo está consumado” (Jo 19,30) – essas foram as últimas palavras de Jesus na cruz. E Maria estava lá: bem na hora da morte de seu filho, assim como estará presente na hora da morte de cada filho que invocar sua presença através de uma simples Ave-Maria. Em tempos de luto nacional, a hora da morte tem se apresentado cotidianamente diante de nossos olhos, senão como um dilacerante acontecimento familiar, ao menos como uma possibilidade imprevisivelmente angustiante. E o que Maria, a Virgem da Consumação, teria a nos dizer nesta hora?
O mesmo que disse a Jesus com seu silencioso olhar: Estou aqui, meu filho, tua mãe está aqui. De onde lhe vinha esta força, senão de seu próprio filho, que consumava sua oferta de amor ao Pai pela humanidade com uma viva coragem, própria de quem era a própria Vida e mesmo assim, por amor, abraçava a morte? São nos lábios da Virgem que poderiam ser colocadas as palavras da Carta aos Hebreus: “Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus. Em vez de gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12, 1s). A mãe do Consumador de nossa fé é a Virgem da fé consumada.
Ela suportou a morte do filho. Só uma mãe que perde violentamente seu filho ou sua filha para uma bala perdida ou para um vírus mortal pode se aproximar do que foi aquele momento de dor consumado na vida de Maria. A Virgem da Consumação é a “virgem oferente sem igual” – é assim que uma bela canção de ofertório1 se refere a ela. Na consumação de amor do Filho, ela também consuma sua oferta maternal, ela também oferece sua vida, seu filho, seu Senhor. Maria se entrega na entrega do Filho e porque se entrega, também recebe dele a missão de cuidar de cada um de nós (Cf. Jo 19,26).
Além disso, a Virgem da Consumação também enfrentaria sua própria morte. Embora não saibamos detalhes a respeito da morte de Maria, não haveriam motivos para imaginar que ela não tenha consumado serenamente seus dias sobre a terra, abandonando-se ao desígnio pascal de entrar na vida através da morte. Um grande teólogo assim se pronunciou:
“não podemos duvidar de que Maria morreu: já que esta foi a verdadeira consumação de sua vida terrena, assumindo o destino de todos os homens, à imitação da morte de seu Filho. Com efeito, embora imaculada, devia representar não o esplendor do paraíso, mas a vitória perfeita da graça de Cristo na debilidade da carne; E isso por um duplo motivo: porque sua inocência não foi uma herança do paraíso, mas o fruto da redenção de Cristo, operada por sua morte na cruz, e porque Maria viveu numa carne capaz de sofrer, sujeita à dor, e que, portanto, só encontrará sua perfeição através da consumação do sofrimento na morte²” Karl Rahner
É diante do mistério do sofrimento e da morte que a vida humana se ilumina a partir da história vivida e testemunhada. A morte consome a todos, mas só alguns, por Cristo, com Cristo e em Cristo, são capazes de consumá-la como oferta pascal. Embora possuam a mesma raiz, os verbos consumir e consumar apontam para realidades diferentes. Em um mundo onde se consome desenfreadamente, não sobra tempo para descobrir a beleza de um cotidiano consumado na alteridade, na fraternidade e na partilha. Consumar significa realizar, viver em prol de um ideal, de uma meta, de um chamado. Foi através do sim de Maria que a encarnação, início de nossa salvação, consumou-se pelo poder do Espírito Santo em seu ventre virginal. Ela é a Virgem da graça consumada.
Para que um matrimônio seja canonicamente válido, além do consentimento dos noivos e das promessas matrimoniais, é necessário que haja a consumação da união celebrada. E isso acontece nas núpcias do casal. Refletindo na extraordinária singularidade de Maria, como não lhe dar razão quando declara em seu canto nupcial “realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso” (Lc 1,49)? Se na cruz o amor do Céu foi consumado, foi porque antes disso, a Virgem da Consumação consumiu sua vida por amor para que a vinda do Verbo fosse consumada na terra.
E o que faremos diante disso? Vamos continuar achando que somos perdedores? “Realmente está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro (Sl 42,23). Mas em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou” (Rm 8,36s). O gado destinado ao matadouro é rebanho de Cristo, e por isso, “ainda que morra, viverá” (Jo 11,25). E como não sabemos a hora de nossa consumação final, rezemos à Virgem para que esteja ao nosso lado no momento derradeiro de nossa vitória: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém. Virgem da Consumação, rogai por nós, que recorremos a Vós.
Vinícius da Silva Paiva
Membro da Academia Marial e da Equipe de Assessoria teológica
Mestrando em Mariologia pela PUC/RS, especialista em Mariologia pela Faculdade Dehoniana e Academia Marial
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1 Canção SOBE A JERUSALÉM de Dom Carlos Alberto Navarro e Valdeci Farias
2 RAHNER, K. María, madre del Señor, p.18
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Ela é toda do povo e está onde o povo está.
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