Por Lina Boff Em Artigos Atualizada em 08 JUL 2020 - 16H30

Apresentar Maria como garantia da grandeza feminina

A grandeza feminina se expressa, sobretudo, na sua vocação de ser mulher, a de ser mãe, promotora e defensora da Nova Criação. Esta penetra a feminilidade, redime-a e exalta-a. Foi o modo de ser mulher de Maria. Como mãe ela testemunha sua vocação de ser a alma dos fatos da história da salvação de seu povo, pois ela encarna o espírito desses fatos, identifica Deus e seu mistério na história de milhões de mulheres, sobretudo dos meios populares de todos os Continentes, quando afirma um Deus histórico, porque intervém com sua justiça, um Deus ético porque liberta. Daí nasce a identificação de tantas mulheres pobres com Maria de Nazaré.

Thiago Leon
Thiago Leon

Maria nos dá a conhecer o modo de ser feminino e o modo de ser masculino do Deus Comunidade relacionada com a pessoa humana. Ela nos mostra um Deus que irrompe como um Deus pessoal, capaz de entrar em relação com as pessoas, capaz de manifestar o seu modo de ser feminino e o seu modo de ser masculino como caminho novo a ser feito pela mulher e pelo homem, juntos, ombro-a-ombro, na promoção e na defesa da Nova Criação, para que o Projeto da Comunidade divina, chegue à sua plenitude em Jesus Cristo.

O ser mulher e o ser homem tem, agora, um novo conteúdo: o de viver o Novo céu e a Nova terra ainda encobertos, evocando o mistério de Deus que transcende o masculino e o feminino, mistério que está além, e acima das imagens, dos nomes que lhe atribuímos, e ultrapassar as experiências de fé que fazemos a partir do nosso contexto. Deste modo, Maria garante a prática solidária da mulher de hoje.

O Espírito que fecundou Maria de Nazaré protagoniza a solidariedade concreta de todas as pessoas de boa vontade; resgata a presença de Maria na promoção da vida; garante a palavra do Espírito na boca de profetas e profetisas, sejam estas e estes, menores e maiores, mesmo que sejam rechaçados antes que acolhidos. A Mulher de Nazaré dá testemunho destas qualidades humanas e divinas doadas pelo Espírito. Dá provas deste testemunho quando Lucas nos apresenta Maria que se dá pressa em ajudar Isabel que necessita de seu serviço para acolher o filho prestes a nascer, João Batista. Neste momento histórico Maria prorrompe, sem meias medidas, com o Cântico da libertação salvadora, o Magnificat. O Evangelho, defronte às múltiplas servidões do mundo moderno e pós-moderno, terá uma das suas fortes expressões no testemunho fraterno e sororal de todas as comprometidas com a causa dos povos excluídos, para garantir a presença da mulher promotora da vida. Defronte a tal realidade, homem e mulher, precisam alimentar-se de uma mística intimamente ligada à espiritualidade que nasce da fé-vida para se abrirem ao Espírito que dá sentido a toda a ação evangelizadora.

Apresentar Maria como garantia da grandeza feminina nos dá uma visão global conhecida como o Retorno do Feminino, que não é referente somente à mulher, mas ao homem e à mulher juntos. É o retorno da outra metade da humanidade que espera ser libertada da servidão da modernidade e da violência. É o retorno da espiritualidade que irrompe do Espírito que vem em socorro da nossa fraqueza e intercede por nós com gemidos inexprimíveis (cf. Rom 8).

  

Irmã Lina Boff, teóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Com dezenas de artigos publicados na Revista de Aparecida, esta grande teóloga agora é articulista do A12.com.

 

 

Leia mais sobre Maria e estudos mariológicos no site da Academia Marial do Santuário Nacional.

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