Por Academia Marial Em Artigos Atualizada em 21 FEV 2020 - 16H45

Bodas de Caná e Maria: os símbolos – Maria em João parte I

Shutterstock - Por jorisvo
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A cena do Sinal de Caná está recheada de imagens, analogias e símbolos. Vamos desvendar alguns deles, para compreender melhor o sentido do gesto de Jesus e da atuação de Maria. Leia Jo 2,1- 4 e acompanhe.

No terceiro dia (v.1) ou “três dias depois”: A cena de Caná está “costurada” pelo evangelista João no início da missão de Jesus. Conclui a sua semana inaugural, que começa quando João Batista aponta Jesus aos seus discípulos (Jo 1,19.29.35.43). A festa aconteceria dois dias depois do encontro de Jesus com Filipe e Natanael. Neste encontro, Jesus relembra a imagem do sonho de Jacó, da escada que liga o céu e a terra (Ver Jo 1,49-51). O céu aberto, com os anjos subindo e descendo, significa que Deus irá se comunicar conosco e nos dará sua graça. O primeiro sinal mostra que, com Jesus, começa este tempo novo de presença de Deus junto de seu povo.

A festa de casamento (v. 1-2): No tempo de Jesus, a festa de núpcias era muito importante. As famílias se uniam em torno do casamento dos filhos. Renovava-se a confiança na vida e se esperava a vinda de filhos, primeira garantia da continuidade do povo de Deus. Além disso, evocava um sentido simbólico. Os profetas usaram a imagem da união amorosa do homem e da mulher, que se celebra no casamento, para falar da Aliança, do amor de Deus e de sua intimidade com o povo eleito (Is 62,4b-5; Os 2,18-22).
Era comum oferecer um banquete na festa de casamento (Gn 29,22; Jz 14,10). Nas vilas e cidadezinhas do interior, como Caná, a festa durava normalmente sete dias (Gn 29,27; Jz 14,12; Tb 11,18). O vinho era a bebida básica, espalhada por toda a parte, pois as famílias produziam e consumiam vinho caseiro. Numa festa, especialmente a de casamento, não podia faltar vinho. A festa acabaria tristemente.

A falta do vinho e o pedido de Maria (v. 3): Maria está na festa. Jesus e seus discípulos também. Mas parece que chegaram separadamente. Então, o vinho está terminando e Maria se dirige a Jesus. Ela está dizendo: “Tenha pena deles, senão a festa vai acabar”. Há um pedido claro, não somente uma constatação. No evangelho de João, quando alguém precisa de algo, basta apresentar a Jesus sua necessidade, que ele entende. Por exemplo, o paralítico em Jo 5,7; as irmãs de Lázaro em Jo 11,3. Mas ao contrário destas pessoas, Maria não pede para si, e sim para os outros.

A resposta de Jesus (v. 4) parece indelicada e até desrespeitosa: “O que nós temos a ver com isso? Algumas bíblias traduzem com expressões ainda mais duras essa frase de Jesus: “Que queres de mim”, ou “que há entre mim e ti”. Esta frase, de difícil tradução, expressa que Jesus não deseja se envolver com o problema, e que há um distanciamento, uma diferença de percepção entre Ele e Maria.

“Mulher” (v.4): Muita gente estranha porque Jesus chama sua mãe de “mulher”. Mas João está nos dizendo algo mais profundo: para Jesus, Maria é mais do que sua mãe, é mulher. O evangelista é muito sensível à participação das mulheres na missão de Jesus e na comunidade dos seus amigos. Jesus não as trata pelo nome, mas com o título de “mulher”. Maria, sua mãe, presente no início e no final de sua missão, é chamada em Caná e na cruz de “mulher” (Jo 2,4 e 19,26). Jesus denomina também “mulher” à samaritana (Jo 4,21), primeira anunciadora do messias para os não-judeus (Jo 4,28.41s). Por fim, trata da mesma forma a Madalena (Jo 20,15), a primeira testemunha da ressurreição (Jo 20,17s). Ora, os profetas usavam a imagem da mulher para representar o povo de Deus em relação ao Senhor da Aliança (Os 1,2; Is 26,17; Jr 31,4). Portanto, quando Jesus chama sua mãe de “mulher” não a ofende. Ao contrário, mostra o valor dela, como mulher e figura efetiva e simbólica da comunidade cristã.

“Minha hora ainda não chegou” (v.4): Um homem ocidental moderno imaginaria a cena de uma maneira banal. Jesus olharia para o relógio e diria que não estava no momento ainda. Mas não se trata disso. A “hora”, no evangelho de João, tem um sentido simbólico. Quer dizer o momento em que Jesus vai manifestar quem ele é, sua identidade de Filho, e comunicar de forma ímpar o amor do Pai. Isso só vai se completar na morte e ressurreição (Jo 12,23.27; 13,1; 16,32; 17,1). Ali será “a hora h”, como a gente diz. Mas, enquanto isso, cada palavra ou sinal de Jesus é uma parte dessa hora e a prepara. “Minha hora ainda não chegou” significa que Jesus acha que não é ainda o momento oportuno de começar sua missão e se manifestar plenamente como Filho.
No próximo artigo da série, veremos ainda outros símbolos do relato de Caná e descobriremos o sentido da ação de Maria. Clique aqui para ler.

Oração

“Maria, mulher atenta em Caná,
faze de nós pessoas com olhos abertos e mãos disponíveis.
A humanidade sofre por falta de pão e pela ausência de vinho.
Necessitamos do vinho da alegria e da esperança,de uma vida com sentido,
com sabor, com beleza.
Cada vez mais homens e mulheres se embriagam com o vinho ruim da falsa felicidade.
Distanciam-se de Deus e de seus semelhantes.
Poluem e destroem a natureza.
Maria, dá-nos o vinho de Jesus.
Que ele transforme nossas existências, da mesmice para a qualidade,
da indiferença para a fé apaixonada.
Que ele multiplique o nosso amor,
pois as talhas do nosso coração são rígidas e imperfeitas.
E que assim, crendo nele e fazendo a sua vontade,
nós inauguremos nesse mundo a festa da fraternidade e da alegria,
que só se consuma no céu.
Amém.”

Texto: A. Murad, Maria Toda de Deus e tão humana, Paulinas.

Ir. Afonso Murad,Marista
Doutor em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Professor de Teologia no ISTA, na Faculdade Jesuíta (FAJE), em Belo Horizonte e da Pós-graduação em Mariologia da Faculdade Dehoniana em parceria com a Academia Marial de Aparecida.

 Assista aqui o sexto  capítulo da série o Trem da Mariologia.
Neste vídeo está a análise e compreensão sobre Maria no Evangelho de João

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