Por Pe. Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça Em Artigos Atualizada em 11 FEV 2019 - 09H14

Lourdes confirma a Imaculada Conceição no amor de Deus aos pobres


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Em Lourdes, na França, há mais de cento e sessenta anos, em 11 de fevereiro de 1858, a Virgem Maria, luminosa e bondosa, aparecia numa gruta à jovem pobre e piedosa Bernadette Soubirous. Bernadette, nascida a 07 de janeiro de 1844, na cidade de Boly, num moinho onde seu pai trabalhava, próximo a Lourdes. Filha primeira de nove filhos, com os pais Francisco Soubirous e Luísa Castérot, se mudou para Lourdes e, não tendo onde morar, viviam num porão úmido e miserável, insalubre, prédio da antiga cadeia municipal abandonada. Na infância, trabalhou como pastora e criada doméstica. Com a saúde sempre debilitada, devido à extrema pobreza, fora acometida de cólera com pouca idade. E, por causa do forte inverno, adquiriu asma aos dez anos. Tinha dificuldades de aprendizagem e, na catequese, não frequentando escola e mantendo-se estritamente analfabeta até os quatorze anos, teve a visão da Senhora vestida de branco com uma faixa azul à cintura, um terço nas mãos e rosas douradas aos pés.

Era uma visão fascinante que, ao mesmo tempo que embevecia a menina, exortava a humanidade à penitência e à conversão. Nossa Senhora, em sua mensagem do dia 25 de março, também confirmava o dogma recém proclamado pelo Papa Pio IX da Imaculada Conceição. Era Maria que dizia, com o eco do céu, respondendo à jovem que perguntava sobre o seu nome: "Eu sou a Imaculada Conceição". A verdade, já intuída e celebrada pelo senso da fé das comunidades cristãs dos primeiros séculos, em 1854, pela Bula Papal Inefabilis Deus, se tornara uma afirmação perene, imutável, essencial e irrefutável: Maria, escolhida desde todos os tempos para ser a Mãe de Deus feito homem Salvador, Jesus Cristo, foi concebida , preservada do pecado original, imaculada, em previsão dos méritos do seu Filho na cruz, conforme a bela e brilhante fórmula do teólogo franciscano Duns Scoto, do século XIII.

A Redenção preservativa que acontecia para a digníssima Mãe do Redentor, era diferente da Redenção liberativa para todos os outros. Segundo o pároco local, Dominique Peyramale, que conhecia bem a jovem, era impossível que ela, pobre, sem ter feito ainda a primeira comunhão e sem acesso às letras, conhecesse o significado do dogma da Imaculada Conceição, promulgado em tempo tão recente. É Deus que escolhe os mais simples e pobres para confundir os que se julgam doutos e fortes (cf 1Cor 1,27s) e, para manifestar a sua Sabedoria, pelo Amor maternal de Maria.

Era Lourdes uma cidade com população em torno de quatro mil habitantes. Na gruta de "Massabielle", que significa "pedra ou rocha velha" no dialeto local, às margens do rio Gave, a Virgem exortava diante da dócil Bernadette: "Reze a Deus pela conversão dos pecadores" (21 de fevereiro), recomendando a penitência (24 de fevereiro) e a rezar pela paz. No dia 2 de março, Nossa Senhora diria a Bernadette que pedisse aos padres que construíssem ali uma igreja, reiterando o pedido no dia seguinte. Foram dezoito "aparições-visões" de Nossa Senhora, de 11 de fevereiro a 16 de julho de 1858.

Neste contexto, sofria a menina Marie-Bernard, conhecida pelo carinhoso apelido de Bernadette, alvo de descrédito, discriminação e zombaria. Submetida a humilhações e constrangimentos, com intimidações em duros interrogatórios, inclusive pelo comissário de polícia, Monsieur Jacomet. Diante de todas essas pressões e mesmo perseguições, a adolescente de pouca idade, de têmpera humilde e obediente, de nível sócio-econômico miserável, sem instrução, sustentou e defendeu com dedicação e firmeza incomuns a autenticidade das aparições, enfrentando a opinião geral da localidade, familiares, clero e autoridades públicas.  Era a pureza simples e tenaz de quem sabia que experimentava a verdade e a beleza do Divino, que tocava a pobreza de sua história. E assim, nunca vacilou nesta convicção até a sua morte. O assunto era analisado e investigado com prudência pela hierarquia eclesiástica, dentro dos critérios básicos de honestidade do vidente, seu equilíbrio e sanidade, a qualidade das mensagens, na coerência com a Revelação e os frutos espirituais, com sinais de conversão, na esteira da normativa do Papa Bento XIV.

Mas, em 25 de fevereiro daquele ano, algo mais contundente e impactante aconteceu, por ocasião de uma das visões: surgiu debaixo das mãos da jovem uma fonte de água pura no lugar onde a Virgem pediu que ela cavasse, na presença de uma multidão de pessoas. E, nesses mais de 160 anos, nunca cessou de propiciar o milagre de Deus, as curas medicamente inexplicáveis que somam até hoje.

A jovem corajosa e piedosa não se ateve ao crescimento da fama dos feitos milagrosos e à afluência curiosa de muitos. Seguindo a humildade dos que sabem que são apenas servos e pontes do Sagrado, e não proprietários do Poder divino, em 1860, recolheu-se como pensionista indigente no hospital das Irmãs da Caridade de Nevers, em Lourdes, recebendo instrução para depois registrar o primeiro relato escrito das aparições. Em 1862, o Bispo de Tarbes, Monsenhor Bertrand Sevère Laurence, deu o seu reconhecimento público e oficial às aparições.

O Magistério da Igreja reconhece e aprova o culto, após uma criteriosa avaliação do fenômeno. A aprovação não se refere à aparição em si, mas à mensagem, à devoção, respaldadas pelos efeitos místicos, espirituais e outros comprovadamente transnaturais. A aprovação da mensagem também não implica que ela seja inserida no Depositum Fidei, no patrimônio essencial e universal da Fé, mas apenas afirma que ela pode ser orientação para a vida e piedade cristã dos devotos, que podem invocar o título de sua devoção, com a nominação, inclusive, dos templos e a prática do respectivo culto.

A flor Bernadette se planta em julho de 1866, no Convento de Saint-Gildard , iniciando seu noviciado, fazendo a sua profissão religiosa em 30 de outubro de 1867 na Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers, levando uma vida de penitência e oração. As suas mãos, que abriram a terra para trazer a água da cura e da libertação, agora continuavam a missão na dedicação à enfermagem, no cuidado com os doentes, até o dia em que foi impedida pela doença, em 1878, a tuberculose, que a levou à morte em 16 de abril de 1879. Era o cumprimento do verdadeiro e principal anúncio de Nossa Senhora em Lourdes “Cada um deve ser a mão estendida de Deus, na misericórdia e na cura do Amor que se dá pelo outro, na oferta de sua própria vida pela conversão e salvação de todos. Como a água silenciosa e pura, humilde e generosa que restaura, alimenta e purifica, lava e traz de volta a vida, a fortaleza e o viço.”

E esta água da graça de Deus, do poder infinito divino, vem surpreendendo a lógica médico-científica de todos os séculos, realizando curas extraordinárias, impossíveis aos limites e circunstâncias positivas da realidade humana. Estes sinais, assinaturas de Deus na história e no cosmo, são alternâncias e alterações do milagre rotineiro e natural que já é a vida humana e do universo. Só mesmo Ele poderia levantar, modificar ou reordenar as suas próprias leis para ser sinal de que Ele é o Senhor, e que seu Amor se derrama para a cura, a salvação e a libertação de todos nós.

Na última aparição,em 16 de julho de 1858, Nossa Senhora nada diz;  apenas sorri. E exclama Bernadette: "Nunca a tinha visto tão bonita antes!". O mesmo sorriso que pôde rever aos 35 anos, já na visão de sua páscoa, no seu encontro com a Água Viva. A Mãe e o Filho, abraçando-a e recebendo-a, a pobre missionária da gruta da Pedra Velha, a Santa Bernadette, perseverante e fiel diante de tudo e de todos, porta-voz da Materna Intercessora, a Medianeira das Graças, ponte firme, simples e pura da plena cura de Deus.

Pelos olhos ternos da Mãe, pelo seu sorriso de paz, pela sua luz amorosa, não só Bernadette entende, mas todos os povos, para além da França, que quando nos convertemos e buscamos a graça de Deus, todo deserto se torna fértil e todo mal é curado.


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Nas três exumações do corpo desta bela santa, em 1909, em 1925 e em 1933, os médicos-legistas o encontraram em perfeito estado de conservação. Mais um sinal, dentro de todo o contexto extraordinário. Foi beatificada em 12 de junho de 1925 e canonizada em 8 de dezembro de 1933, na festa da Imaculada Conceição, pelo Papa Pio XI. O Papa São João Paulo II instituiu em 1992, o dia 11 de fevereiro como Dia Mundial dos Enfermos, data da primeira aparição, em 1858. A Basílica de Lourdes foi construída em 1876, no lugar das aparições, atendendo ao pedido da Virgem, Santuário onde atualmente se realiza intensamente a adoração ao Cristo Eucarístico.

Podemos concluir, em consonância com toda a Revelação do Verbo-Amor-Doação, que o Senhor olha misericordiosamente para a pequenez de seus pobres e faz neles maravilhas, mostrando o Seu poder através da Kénosis, o esvaziamento de si, na humildade, o despojamento total, na entrega confiante dos simples, a pobreza maior evangélica, verdadeira riqueza do encher-se do Tudo, abrindo mão de todas as coisas, para transmitir a liberdade do Reino de Deus. Ele mesmo, que se fez homem e pobre para nos enriquecer. É assim também o exemplo e a mensagem da Mãe do Verbo Encarnado, a Virgem fiel, pobre Serva do Senhor, que nos trouxe o Redentor, pelo seu sim total, o sorriso divino-humano da nossa salvação.

Pe. Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça
Teólogo, Mariólogo
Membro da Academia Marial de Aparecida e da Academia Friburguense de Letras

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