Os elementos basilares que tratam da relação entre Maria e o Espírito Santo na Tradição eclesial encontram-se nas Sagradas Escrituras e na forma como os Santos Padres e a Liturgia dos primeiros séculos da Igreja compreenderam essa relação, à luz do Espírito Santo.
Dentre esses elementos, o aspecto que melhor visibiliza essa singular relação é a concepção virginal de Jesus, uma vez que tal concepção caracteriza-se pelo envio do Verbo da parte de Deus Pai, na força do Espírito Santo. Assim, afirmando ser o Espírito a força de vida que gera o Filho no ventre de Maria, afirmamos algo que a Revelação Bíblica paulatinamente foi nos ensinando sobre o Paráclito: que Ele é a “força de vida” que, desde a criação do mundo, vem agindo no universo como vida, proteção, cuidado, restauração político-social-religiosa, e muitos outros elementos que, se reunidos, nos fazem ver que o Espírito divino é a “Grande Mãe” que, no seu seio, tudo cura, recria, santifica e conduz ao Pai.
As ações maternas do Espírito Santo partem desde a criação do mundo e alcançam sua plenitude na encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus. Gostaríamos de destacar três tópicos que evidenciam esse caminho que o Paráclito fez conosco, a partir do Antigo Testamento.
Primeiramente, tomemos Gn 1,2, quando se diz que 'o Espírito pairava sobre as águas'. Tal expressão indica que a força de Deus é um elemento ativo na criação do mundo; é a fecundidade de Deus apresentada como que uma “grande ave a chocar” toda a criação, provocando, com seu amoroso calor, o surgimento da vida.
Mas a força divina, que fez a vida surgir, a mantêm de diferentes formas. Por isso, destacamos, nesse segundo tópico, a fecundidade divina na vida das matriarcas que, dando à luz seus filhos e que, enquanto verdadeiros líderes carismáticos, contribuíram para que a vida do povo não fosse arrebatada. Em cada mulher forte do Antigo Testamento, tem-se algo de singular do Espírito, como elemento ativo de conservação da integridade do povo, fazendo dessas mulheres as “mães de Israel” e, por isso, um sinal da presença do Sopro de vida de Deus na história.
Mas, mesmo com a atuação desses líderes carismáticos, muitas vezes o povo de Israel se viu à beira da aniquilação. Nessas horas, os profetas, denunciando a violação da aliança, anunciam que Deus enviará do alto sua força, que operará algo semelhante a uma “ressurreição do povo”, em situações em que tudo parecia estar perdido.
Este terceiro tópico liga-se ao artigo do Símbolo Niceno-constantinopolitano que afirma ser o Espírito que “falou pelos profetas” e sua palavra foi mais que esperança; foi promessa e concretização de vida, quando o caos pareceu engolir o povo de Deus.
Desse modo, são muitos os indicativos escriturísticos que nos falam da força de Deus, realizando um movimento de saída do caos à ordem, do pecado à santidade, da morte à vida, do abandono ao cuidado. E, de um modo excelso e único, destacamos a concepção de Jesus, pois, assim como Deus, do nada, criou o mundo pela força do Espírito Santo, do seio virginal de Maria fez conceber e nascer o Verbo, também pela força do Espírito Santo, realizando o movimento que é próprio daquele que é “Sopro de Vida”, de tudo reconduzir ao Pai. Porém, agora de modo definitivo, pela encarnação do Verbo.
Em tudo isso, percebemos ser a Virgem Maria a expressão privilegiada da maternidade fecunda do Espírito Santo. Logo, tudo em Maria nos remete ao Espírito Santo, pois, aquela que é a sua mais singular morada, seu “sacrário”, foi quem melhor o acolheu em sua vida, deixou-se totalmente ser guiada por Ele e fez-se, para todos, um modelo dos que querem viver uma vida segundo o Espírito de Deus.
Concluímos afirmando que a concepção de Jesus deveria ser qualificada como uma “concepção pneumatológica”, a fim de que o acento dado ao Espírito seja melhor enfatizado e que essa compreensão nos ajude a retirar o divino Paráclito de uma sombra de esquecimento por parte da Teologia e da piedade ocidental, que durou aproximadamente um milênio, obscurecendo a compreensão do Espírito em sua divina maternidade.
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