Ao concluirmos a Oitava do Natal com o Dia Mundial da Paz e com a Solenidade de Maria, Mãe de Deus, recordamos também o Santíssimo nome de Jesus e sua circuncisão. Ao iniciar um novo ano civil, a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o Deus feito homem.
Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o seu Filho, reconhecemos Nele o Deus perfeito, e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos”! – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria.
Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade”? Com efeito, cada uma das vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe! Eis, pois, caríssimos irmãos, nosso presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, o mais belo membro da Igreja, a Virgem Maria!
Há um segundo aspecto hoje. O Primeiro dia do ano é também chamado de Dia da Confraternização Universal, início do ano civil. A pedido do Papa Paulo VI, a ONU transformou esta data em dia festivo para todas as nações. É dia da paz, dia da confraternização entre os povos, nações, culturas. Ora, nós cristãos sabemos que a paz não é uma ideia, um sonho, um desejo; a paz é uma pessoa. São Leão Magno dizia, no século V: “O Natal do Senhor é o Natal da Paz. Cristo é a nossa paz”! Não foi a respeito Dele que o profeta afirmou: “Ele será chamado Admirável, Deus, Príncipe da Paz, Pai do mundo novo”? (Is 9,2-6) Não foi Ele mesmo quem disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos sou; não vo-la dou como o mundo a dá”? (Jo 14,27). Que tenhamos cada vez mais sólida esta convicção: a paz que almejamos, a paz tão sonhada, a paz para o mundo e para a nossa vida somente no Cristo poderá ser encontrada de modo definitivo e pleno! Nele, nem as tristezas, nem as desilusões, nem as angústias, nem as provações, poderão nos fazer perder a paz! Cristo, nossa Paz!
Maria é a Senhora cheia de graça e de virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus em corpo e alma. A Bíblia fala-nos dela como a mais excelsa de todas as criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, a cheia de graça (Lc 1,28), Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada (Lc 1,48). A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade divina. Diz o Concilio Vaticano II, na Lumen Gentium, 63: “Ela, pela graça de Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os homens”. E sabemos que todos os dons de Maria vêm pelos merecimentos de seu Filho Jesus Cristo.
:: Nossa Senhora, mãe e modelo
Ensina São Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei…” (Gl 4,4). Jesus tornou-se realmente homem, como nós, tomando a nossa natureza humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado. Enquanto homem, nasceu de Santa Maria. “Muito me admira – diz por isso São Cirilo – que haja alguém que tenha alguma dúvida de que a Santíssima Virgem deve ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que a Santíssima Virgem, que O deu à luz, não há de ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, ainda que não tenham empregado essa expressão. Assim nos ensinaram os Santos Padres”.
Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento em que, pregado na Cruz, dirigiu à sua Mãe estas palavras: “Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe”. (Jo 19,26-27). Desde aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe, e todos os homens a têm por Mãe. Todos entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz.
A Escritura diz que “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19) e que “sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51). Maria, Mãe de Deus – porque Jesus é Deus – pensava e repensava nos acontecimentos da história da salvação, da qual o seu Filho é o centro e ela está profundamente inserida. A meditação de Maria é uma meditação de Mãe; ela pensa no seu Filho continuamente. E como bem se sabe, as mães têm uma espécie de ‘sexto sentido’.
Paz a todos os homens e mulheres de boa vontade! Iniciemos este novo ano iluminados pelo Senhor e abertos para contagiarmos, com a paz e a esperança, este novo tempo cronológico que está à nossa frente.
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