A mariologia insere Maria na história da salvação, pois aí ela encontra seu sentido e seu papel específico. A história da salvação constitui o desenvolvimento da ação salvadora de Deus através do tempo. É uma série de fatos bem unidos e concatenados entre si que formam uma linha ininterrupta. O que dá coesão é o projeto de Deus. Cada fato se une ao outro. Nada fica separado.
A salvação dá-se na história humana. Por isso, a história da salvação abrange todos os acontecimentos humanos nos quais Deus quer realizar o seu projeto de amor. No “plano de Deus não há duas histórias paralelas, isto é, uma história humana e uma história de salvação. A história humana seria, pois, como um marco, uma ‘ocasião’ onde cada homem individualmente vai sendo fiel ou infiel à lei de Deus, no caminho da salvação ultraterrena” (Segundo Galilea, teólogo latino-americano).
Sentido pleno
Para que possamos compreender a figura e a missão de Nossa Senhora, é necessário inseri-la no marco da história da salvação. Ela não é uma personagem isolada, independente dos eventos salvíficos de Deus na história humana. Pelo contrário, pertence ao conjunto da ação salvadora. Na história da salvação Maria adquire sentido pleno. Em sua missão, Nossa Senhora é parte integrante e essencial da história da salvação.
Em sua missão, Nossa Senhora é parte integrante e essencial da história da salvação. Em 24 de abril de 1970, o Papa Paulo VI afirmava que ela “não é uma circunstância ocasional, secundária, insignificante: ela é parte essencial do mistério da salvação. Cristo, para nós, veio de Maria. Dela o recebemos. É dela que o recebemos, na sua primeiríssima relação conosco. Ele é Homem como nós, é nosso irmão pelo mistério maternal de Maria. Se almejamos ser cristãos, devemos ser marianos, isto é, devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial que une a Virgem com Jesus, abrindo-nos o caminho que ele conduz”.
Maria está intimamente ligada a Jesus Cristo, nosso salvador. No mesmo discurso, Paulo VI perguntava: “Quem é Cristo, como veio entre nós, qual sua missão, sua doutrina, seu ser divino e sua influência nos destinos da humanidade? Como veio Cristo entre nós, veio de si mesmo, veio sem nenhuma relação, sem nenhuma cooperação por parte dos homens? Pôde ser conhecido, compreendido, considerado, prescindindo das relações reais, históricas, existenciais, que necessariamente implicam sua aparição no mundo? Claro que não. O mistério de Cristo está extremado, por desígnio divino, da participação humana. Veio entre nós palmilhando a senda da geração humana. Quis ter uma Mãe, encarnar-se mediante o ministério vital de uma Senhora, da Senhora bendita entre todas”.
Presença real
A salvação humana não é uma conjectura, uma hipótese, mas uma realidade histórica e verdadeira. Nela nós deparamos com Nossa Senhora e sua missão junto ao Cristo. A presença de Maria não é uma suposição ou algo que poderia dispensar. Ao contrário, é um fato real, que marca a história da salvação. Para a teologia cristã séria, não interessa o que Deus poderia ter feito no passado, mas o que fez e como fez. Jesus Cristo não veio ao mundo por si mesmo, sem participação humana. Ele se encarnou, tornou-se pessoa humana real no seio puríssimo de Maria, por ação do Espírito Santo.
Jesus Cristo é o centro da história da salvação, pois é a suprema, decisiva e perfeita intervenção salvadora de Deus. Em sua bondade e sabedoria, Deus realiza a nossa salvação através de uma longa história que ainda não acabou. Na Bíblia, o Antigo Testamento descreve a criação e a história do povo de Deus, marcado pela promessa e espera do Reino de Deus. No Novo Testamento Deus realiza tudo o que o povo esperava: manifesta inteiramente o seu projeto de salvação através da ação e palavra de Jesus Cristo. Ele próprio é a chegada e a concretização do Reino de Deus.
A encarnação de Jesus Cristo dá-se através de Maria. “Chegada a ‘plenitude dos tempos’ (Gl 4,4), Deus Pai envia ao mundo seu Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, Deus verdadeiro ‘nascido do Pai antes de todos os séculos’, e homem verdadeiro nascido da Virgem Maria por obra do Espírito Santo. O Filho de Deus assume o humano, e no humano o universo todo, que desde a criação é orientado para o homem, restabelece a comunhão entre o Pai e nós” (CNBB. Catequese Renovada, nº. 187). Feito filho da mulher Maria de Nazaré, Jesus assume a nossa natureza humana para que pudéssemos receber a filiação adotiva (cf. Gl 4,4). Junto de Jesus, Maria cooperou e continua a cooperar no seu projeto de salvação na história.
Figura bíblica
A história da salvação é narrada nas Sagradas Escrituras, que têm como fio condutor a aliança de Deus com a humanidade. “Quando lemos a Bíblia, devemos estar atentos para perceber como ela vai contando a história da aliança entre Deus e os homens. É como a aliança dos noivos e casais. Nasce da escolha livre de Deus e da resposta livre do homem. Manifesta-se como relação de compromisso, isto é, de relação em que um e outro se empenham. Exprime-se através do amor, que gera vida nova em todos os sentidos; e através da fidelidade, que produz uma relação de liberdade e de libertação” (Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, biblistas brasileiros).
Na história da salvação, a figura e a missão de Maria, a Mãe do Salvador, são entendidas à luz das Sagradas Escrituras. “A figura bíblica de Maria é o primeiro degrau indispensável para compreender sua pessoa e sua missão, tanto na vida, morte e ressurreição de Jesus, quanto na vida da Igreja hoje” (Ir. Afonso Murad, mariólogo brasileiro).
O estudo da Sagrada Escritura deve ser como que alma da mariologia.
Os documentos da Igreja têm insistido em situar Maria no âmbito da Bíblia. A Carta da Congregação para Educação Católica afirmou de maneira incisiva: “O estudo da Sagrada Escritura deve ser como que alma da mariologia” (25 de março de 1988, no. 24). A formação mariana inspira-se na Bíblia.
Nas Sagradas Escrituras, Antigo Testamento esboça e indica a figura da Mãe do Salvador, que se clarificará somente com a perspectiva do Novo Testamento. Existe uma “revelação autêntica da Mãe do Senhor nas páginas veterotestamentárias, mas revelação apenas esboçada e que se descobrirá através do Novo Testamento, ‘revelador’ do Antigo, e na interpretação oficial da Igreja” (Ir. Aleixo Maria Autran, mariólogo brasileiro).
Já o Novo Testamento apresenta Maria de forma explícita, sempre associada a Jesus Cristo e à sua obra de salvação. Ali ela aparece em cerca de 183 versículos, os quais se encontram em 17 textos. São 7 livros que se referem à Mãe de Jesus.
Como devotos, nós necessitamos estudar a pessoa e a missão de Maria na história da salvação, tendo como referência as Sagradas Escrituras. “Se amamos Nossa Senhora, precisamos conhecê-la, e a fonte primeira de nosso conhecimento é a Bíblia” (Pe. João Batista Megale, teólogo brasileiro).
Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C.Ss.R.
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