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Maria na Ressurreição de Jesus

Silêncio ou falta de interesse dos evangelistas em relatarem?

Escrito por Academia Marial

28 MAR 2018 - 11H00 (Atualizada em 04 ABR 2024 - 11H44)

Thiago Leon

Não encontramos nenhum relato nos Evangelhos que apresenta a participação de Maria como aquela que viu por primeiro o RessuscitadoLeia MaisA veneração à Imagem de Nossa Senhora Aparecida ao longo dos anosA força da oração: a história de uma humilde devota de Nossa Senhora

Alguns podem dizer: “Mas por que Jesus não apareceu primeiramente à sua mãe, em vez de aparecer a Maria Madalena?” Será que a mãe não era mais importante que os apóstolos?

Quais respostas a teologia mariana deve dar para estas perguntas? Veremos!

João ao relatar que o Ressuscitado aparece primeiramente a Maria Madalena (4), quis o evangelista dar veracidade ao fato da ressurreição.

Qual o motivo? Primeiro porque o testemunho da mãe ou de alguém ligado à família de Jesus não teria a validade necessária para se dar crédito de fé ao evento; segundo, ele imputa à Maria Madalena a autoridade de testemunha ocular porque conforme os estudos exegéticos, Maria Madalena vem de uma região onde a compreensão teológica herdada por aquele povo, incutida pelos saduceus, não acreditava na ressurreição dos mortos (5), por isto que João registra as palavras saídas da boca dela: “Eu vi o Senhor”! (Jo 20, 18).

Quanto à crença de que o Ressuscitado tenha, por primeiro, ir visitar Sua Mãe para consolá-la, isto a Tradição do Cristianismo nascente teve sempre presente em seu coração.

Vamos encontrar diversos relatos nas Fontes Litúrgicas do primeiro milênio da história da Igreja, partindo exatamente do Oriente, tendo como divulgadores deste magnífico evento diversos teólogos ou comentadores da fé, dentre eles, Santo Efrém (+373) e Gregório de Nissa (+392). Já na Igreja no Ocidente temos o grande Santo Ambrósio (+397) e Paulino de Nola (+431), e tantos outros. Estes relatos encontramos em textos homiléticos, poemas, pinturas e arte em geral (6).

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Sendo assim, o evangelista João oferece um implícito retrato espiritual da Virgem Maria dentro dos tempos quaresmais e pascais, ao registrar as palavras de Jesus que diz: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).

Estas declarações são dirigidas aos discípulos, mas podem ser aplicadas em máximo grau justamente Àquela que é a primeira e perfeita seguidora de Jesus. Foi ela a primeira que observou plenamente a palavra do seu Filho, demonstrando assim seu grande amor, não somente como mãe, mas primeiramente como serva humilde e obediente.

No coração, a Virgem Maria meditava e interpretava fielmente tudo aquilo que o seu Filho Jesus dizia e fazia. Deste modo, já antes, e, sobretudo, depois da Páscoa, a Mãe do Ressuscitado se tornou também a Mãe e o modelo da Igreja. Eis o motivo de o Papa Paulo VI, após o Concílio Vaticano II reafirmar com toda a Comunidade de Fé que “Maria é Mãe da Igreja”, por causa de sua participação ativa no Projeto de Salvação de Deus e não pelo mero afeto dos cristãos. Vejamos:

“Remida de um modo mais sublime, em razão dos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a sublime missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo, e com este insigne dom da graça, ultrapassa á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça». É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto de piedade filial. (7)” Papa Paulo VI

Maria não se torna mãe da Igreja por afinidade dos cristãos, repito, mas por dom de Deus dado aos novos membros de Jesus Cristo por meio do Batismo. É aqui que entendemos com toda a sua força o testamento material e espiritual do Senhor no alto da Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho, filho eis aí tua mãe! Daquela hora em diante, o discípulo a recebeu em sua família” (cf. Jo 19, 27-28).

Concluo dizendo: “A multifacetada missão de Maria, em relação ao povo de Deus, é, efetivamente, realidade sobrenatural, operante e fecunda no organismo da Igreja” (8).

Em nossa vida cristã devemos estar dispostos a seguir o exemplo de vida que nos mostrou o Senhor, mas também podemos seguir o exemplo que nos deixou Maria quando amou, bendisse a Deus, protegeu, cuidou, seguiu e obedeceu a Jesus Cristo nosso Messias na aceitação dos homens redimidos como seus filhos adotivos, desde o evento da Cruz.

Imploro a Nossa Senhora da Conceição Aparecida a graça de ver sempre a Igreja no Brasil sempre impelida a ser uma Comunidade eucarística, missionária e conhecedora da mensagem de vida contida nas Escrituras.

Cônego José Wilson Fabrício da Silva, crl
Membro da Academia Marial de Aparecida

::Baixe o artigo na íntegra: A participação ativa de Maria na Paixão, Morte e Ressurreição

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(4) “Madalena” não era o seu sobrenome, como popularmente se acredita. No seu tempo de vida o conceito de "sobrenome" não existia entre o povo judeu. O nome Madalena na realidade é um adjetivo que a descreve como sendo natural de Magdala, cidade localizada na costa ocidental do Mar da Galileia.
(5) Os Saduceus (em hebraico: צְדוּקִים Ṣĕdûqîm bn ê Sadôq, sadoquitas, em grego: Saddoukaios) é a designação da segunda escola filosófica dos judeus, ao lado dos fariseus. ³ Também para esta seita ou partido é difícil determinar a origem. Sabemos que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus, porém, conviviam em harmonia no tempo de Jesus.
(6) Para aprofundar mais sobre este assunto, sugiro a leitura do livro: “Maria, a Senhora da Páscoa” de Dom Rafael Maria Francisco da Silva, osb – membro da Academia Marial, publicado em 2014, aqui no Brasil pela Martyria.
(7) DOCUMENTOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. São Paulo: Paulus, 2001, p. 180 – (Clássicos de bolso).
(8) PRINCIPAIS DOCUMENTOS DOS PAPAS SOBRE NOSSA SENHORA: do beato Pio IX a Francisco/ Edson Luiz Sampel (organizador). São Paulo: Fons Sapientiae, 2017, p. 172.

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