Domingo passado encerramos a 380ª Festa da Penha. Uma antiga e sempre nova tradição dessa maravilhosa cidade. Como tempo de reavivamento, o Santuário da Penha desempenhou sua missão importante neste Ano da Esperança, que tem como gesto concreto a missão nas paróquias, bem condizente com o mês que vivemos, e indicou os caminhos para iniciarmos o Ano do Jubileu da Misericórdia.
Ao concluir uma atividade intensa como esta, o olhar se volta para as consequências: supõe-se que as pessoas ainda mais motivadas retomem com renovado ardor suas vidas, com participação ainda melhor em suas comunidades paroquias e movimentos. É como se saíssemos de um grande retiro espiritual e nos relançássemos no caminho da missão de discípulos de Jesus Cristo, que O querem anunciar cada vez mais na grande cidade.
Maria tem essa missão: além de rezar por nós e estar próxima de nós, nos ajuda a ouvir a voz do Senhor
Todo Santuário Arquidiocesano é aberto a todos para ali fazerem uma experiência de Fé. Nestes tempos tão difíceis, necessitamos de lugares de oração e peregrinação que nos coloquem – no silêncio do coração – bem mais perto de Deus. Maria tem essa missão: além de rezar por nós e estar próxima de nós, nos ajuda a ouvir a voz do Senhor, como também ela o fez quando o anjo lhe anunciou que seria a mãe do Salvador.
Por isso a importância dos Santuários, e em especial desse nosso, que é histórico e de antiga tradição.
O Santuário da Penha é um símbolo que marca a nossa cidade maravilhosa, pois lá inúmeras pessoas vão para pedir e agradecer a tão Querida Mãe de Deus e Nossa. Posso dizer que ao me fazer presente por várias vezes ao Santuário, pude perceber como o povo bem participa das orações e das Santas Missas. Além de fazer parte do patrimônio religioso, o Santuário da Penha também faz parte do patrimônio cultural do Rio de Janeiro, pois, quem ao passar próximo, já logo avista aquela bela Igreja construída no topo de uma pedra. Anualmente, o Santuário realiza os festejos da padroeira no mês de outubro, como agora estamos encerrando, promovendo a celebração de missas de hora em hora aos domingos, shows religiosos, procissões luminosas, missas campais, apresentação de grupos folclóricos, apresentação de corais e a festa na ladeira de subida ao Santuário, com as tradicionais barracas de comidas típicas, doces diversos e música ambiente.
Temos várias versões da origem da devoção. Além da explicação local do milagre ocorrido no alto do Penhasco do Rio de Janeiro, uma versão (que não é a única) vem de Portugal: ali o culto de Nossa Senhora da Penha teria se iniciado após a batalha na qual o rei Dom Sebastião morreu (na época os portugueses não acreditavam que o rei havia morrido). Entre os portugueses que conseguiram escapar da escravidão muçulmana, encontrava-se um escultor chamado Antônio Simões, o qual prometeu à Virgem Santíssima fazer sete imagens se ela o conduzisse novamente à sua pátria. Alcançando a graça solicitada, iniciou o trabalho esculpindo as imagens e dando-lhes títulos por ele conhecidos de Nossa Senhora. Ao chegar à sétima imagem e não sabendo que invocação dar-lhe, foi aconselhado por um padre jesuíta a fazer a imagem de Nossa Senhora da Penha, cujos milagres estavam sendo muito comentados. Executada a obra, colocou-a ermida de Vitória, mas, algum tempo depois, edificou uma igreja próxima a Lisboa, que se tornou conhecida como “Penha de França”. Esta é uma das versões da devoção. Existem muitas outras, que se perdem nos tempos da história.
No Brasil, a devoção a Nossa Senhora da Penha veio com os portugueses, e, entres as várias ermidas, é conhecida como a primeira igreja em sua honra. Foi erguida em Vila Velha, Espírito Santo, por volta de 1570. A segunda foi edificada no Rio de Janeiro, após a fundação da Fazenda Grande ou Fazenda de Nossa Senhora da Ajuda, na freguesia de Irajá. Tudo começou no início do século XVII, por volta de 1635, quando o Capitão Baltazar de Abreu Cardoso subindo o penhasco (a grande pedra) para ver as suas plantações, uma vez que era proprietário de toda a área ao redor do atual Santuário, foi atacado por uma venenosa serpente. Ele, que era devoto da Virgem Maria, quando se viu incapaz de se defender, pediu socorro à Mãe de Deus, gritando: "Minha Nossa Senhora, valei-me!". Nesse preciso momento surgiu um lagarto, que é inimigo das serpentes, e aconteceu uma luta mortífera entre os dois animais. Baltazar não perdeu tempo e fugiu.
Edificado à entrada da cidade, com o sorriso de Nossa Mãe Santíssima aos que chegam quer pela Avenida Brasil ou Linha Vermelha, quer pela ponte Rio-Niterói ou mesmo pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Santuário de Nossa Senhora da Penha é, por excelência, o trono que Maria, Mãe de Deus, escolheu no Rio de Janeiro para ser o centro de sua devoção entre nós. A este Santuário acorrem milhares de peregrinos vindos de todo o Brasil e do exterior, para lhe agradecer as preciosas graças alcançadas ou pedir a sua poderosa intercessão junto ao Senhor. À medida que subimos a colina sagrada, sentimos que o ambiente se torna mais místico, com as inúmeras e variadas demonstrações de fé e amor, de uma profunda confiança na Virgem e em nosso Deus. São incontáveis as pessoas que sobem a escadaria rezando, algumas ajoelhadas, e, sobretudo, murmurando as orações do Rosário.
O Santuário da Penha é um espaço de amor, devoção e fé que está presente na vida dos cariocas há 380 anos (numa cidade que completa neste ano 450). No ano de 1819, o Santuário da Penha ganhou sua famosa escadaria, com 365 degraus – um para cada dia do ano. Um tempo depois, vieram mais dezessete degraus, totalizando 382. Ao longo desse tempo, milhares e milhares de fiéis sobem a escadaria para pagar promessas, agradecer as graças recebidas por nossa Senhora da Penha e fazer novos pedidos. Atualmente, também é possível subir o Santuário usando um plano inclinado em 3 estágios desde o Largo da Penha.
Queremos neste título de Maria, Nossa Senhora da Penha, pedir a Virgem que sempre nos ilumine e nunca nos faça perder a esperança. Esperança de uma cidade, país e mundo melhor e, sobretudo, uma vida melhor e com mais alegria. Maria é a mãe da esperança, o ícone mais expressivo da esperança cristã. Toda a sua vida é um conjunto de atitudes de esperança, a partir do "sim" proferido no momento da Anunciação. Maria não sabia como poderia tornar-Se Mãe, mas confiou-Se totalmente ao mistério que estava para se cumprir, e tornou-Se a Mulher da esperança.
Depois desses momentos de reavivamento, o nosso desejo é que todos retomemos com maior ardor nossa vida na caminhada cristã como presença transformadora nessa cidade. Ao concluir o mês de Nossa Senhora da Penha dentro do mês Missionário e do Rosário, confio a Maria toda a nossa busca de semearmos esperança e misericórdia. E agradeço a Deus por este sinal colocado no alto do monte como indicador que aponta para cima para todos os que passam por nossa região.
Nossa Senhora da Penha, rogai por nós!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Membro da Academia Marial
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