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Soberana Rainha: A devoção a Nossa Senhora Gregoriana

Escrito por Academia Marial

07 ABR 2025 - 09H57 (Atualizada em 14 ABR 2025 - 14H01)

Maria Santíssima possui muitos títulos, e entre eles, sabemos que alguns foram atribuídos pela piedade popular, outros por papas e teólogos ao longo dos séculos. Alguns títulos trazem referência às virtudes da Virgem Maria, outros se relacionam a fatos históricos, aparições ou mariofanias acontecidas ao redor do mundo. Há também os títulos relacionados a elementos simbólicos. O fato é que a Virgem Mãe de Deus se revela sempre próxima de cada povo, especialmente dos mais simples homens e mulheres de cada época ou nação: é a padroeira de muitas gentes!

A Virgem Maria possui uma característica admirável em seu relacionamento com as pessoas, assume em si os traços e as vestes dos povos, parecendo estar enculturada, tomando os hábitos de cada região, de cada época e de cada etnia. Mãe e modelo de criatura, é dotada por Deus de especial beleza, chamando a atenção de todos ao seu encontro, atraindo multidões ao redor de suas imagens, ícones e milagres. Também é interessante que, entre tantas aparições e formas assumidas por Maria Santíssima, sempre há uma mensagem central em sua figura: revelar a humanidade, o rosto de seu Filho Jesus, Nosso Redentor.

Conhecer os títulos de Nossa Senhora é uma forma especial de contemplar a beleza de seu ser, tão humana e tão unida a Deus. Maria quer ser conhecida, para que docemente, através dela possamos encontrar Jesus, o Deus verdadeiro, que em seu puríssimo seio se encarnou. Talvez seja a bela relação entre a Virgem Maria e seu Filho Jesus, que explique o porquê de tantos títulos, para que seu Imaculado coração possa se alargar para milhares de filhos espalhados em todo tempo e lugar.

Virgem singular, que nasceu do ventre ditoso de Ana, mulher de Joaquim, que viveu em Nazaré, que aceitou o plano de Deus e que por isso, recebeu as maravilhas que o Todo-Poderoso havia prometido. Sempre ao contemplar, ao parar diante de uma imagem de Nossa Senhora, lembremo-nos de sua figura simplesmente humana e humilde, mas cheia de fé. A flor da humanidade, porém, foi pobre em Nazaré, foi prometida a José, passou pela vida de forma natural, bela e firme, conforme as circunstâncias de seu estado. Se a vemos gloriosa e bendita entre todas as nações da terra, atribuamos a Deus seu louvor, pois Ele mesmo a escolheu e a exaltou!

NOSSA SENHORA GREGORIANA



Este é um título pouco comum no Brasil. Conforme uma gravura do século XIX, trata-se de uma bela representação de Nossa Senhora, em pé, num pedestal magnífico. Rosas adornam as laterais de sua imagem, traduzindo o bom odor de suas virtudes e a suavidade de seu coração de mãe. Cercada de anjos entre o sol e a lua, traz em seu braço esquerdo o Menino Jesus, e no direito, um cetro real. Há uma coroa em sua cabeça da qual saem raios de luz, como um arco-íris, e um pequeno sol sobre a cabeça de Jesus, que parece indicar ser Ele, o sol da Justiça. Aos pés da Santa Virgem, encontra-se uma faixa dobrada simetricamente, com uma inscrição impressionante: “MARIA MIRACULOSA CODENENSIS”. Também há dois anjos maiores, ao lado da Virgem que trazem um estandarte cada qual, com algumas inscrições, sobre a história da imagem. É justamente na faixa com as inscrições e nos estandartes portados pelos anjos, que é possível conhecer o título de Maria nesta representação de longa história.

Há uma lenda que explica o surgimento da devoção a esta imagem e o porquê de ser chamada “Gregoriana”. A pintura original teria sido feita no século VI pelo Arcebispo Agostinho de Cantuária, a pedido do Papa Gregório I, como uma cópia de uma escultura da Virgem Maria que estava em sua capela particular. O Papa Gregório I decidiu entregar a pintura a Leandro, Arcebispo de Sevilha (Espanha) que a colocou no Santuário espanhol de Guadalupe. A figura de Maria, logo passou a ser associada a Guadalupe, porém, se diferenciando da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe no México, que possui outra história, sem ligação com esta. Conta-se que a imagem de Nossa Senhora Gregoriana veio como um presente oriundo da Espanha para Roma, e permaneceu na capela papal até a época do Papa Urbano VII, quando em 1630 foi roubada.

A história do roubo foi narrada e publicada pela primeira vez por Jan Fryderyk Sapieha, que nos aponta detalhes interessantes. Por volta dos cinquenta anos de idade, o Príncipe polonês, Mikolaj Sapieha, contraiu uma doença, que o privou de força e energia, causando-lhe um grande desânimo. Acusado de covardia por isso, o que lhe era muito vergonhoso, decidiu realizar uma peregrinação a Roma, na esperança da cura. Após um grande período de longas orações, diante da imagem de Nossa Senhora Gregoriana, ele alcançou a cura. Comovido com a intercessão de Maria, ele decidiu levar a imagem para a Polônia a todo custo. Sua decisão, não era legalmente possível, a imagem já era famosa por muitos milagres, e os cardeais da época, sequer fizeram esforço, nem ousavam falar ao Papa Urbano VII sobre o assunto. Para ajudar o piedoso príncipe polonês. Naquele ano de 1630, Mikolaj Sapieha, conhecido por “o Piedoso”, subornou um sacristão, e tomou a mão, o quadro milagroso de Nossa Senhora Gregoriana, fugindo para a Polônia.

A fuga foi muito difícil, pois rapidamente o roubo foi detectado. Entretanto, para não ser descoberto, Mikolaj Sapieha evitou cidades e caminhos conhecidos, liderando seu grupo armado, por vales, montanhas e florestas da Itália, depois passando perto de Zagreb e através da Hungria e Lviv na Ucrânia até chegar às suas propriedades na Polônia. Já em solo polonês, o Piedoso príncipe Sapieha, colocou a imagem na igreja, em Koden. Por isso, mais tarde, a imagem ganhou outro título: “Nossa Senhora de Koden (ou Codena)”. Nas reproduções posteriores, principalmente no século XIX, é possível identificar a inscrição acrescentada aos pés da imagem, nas belas faixas: “Maria Milagrosa de Codena” (em tradução livre).

A história do roubo, apesar de ser reproduzida oralmente, por muito tempo, e por escrito, não é historicamente comprovada. Há outra versão a qual diz que Mikolaj Sapieha realizou uma peregrinação à Espanha, e lá encontrou e comprou a bela imagem de Nossa Senhora, que possui o estilo típico das pinturas espanholas do século XVII. A imagem, então, ganhou os outros títulos, devido a tantos incidentes em sua história: Nossa Senhora de Guadalupe (da Espanha); Nossa Senhora Gregoriana, e finalmente, Nossa Senhora de Codena. Fato é que a imagem continuou a atrair devotos de todas as partes e a fama de misteriosa e milagrosa a acompanharam. Ainda hoje é uma imagem rara da Virgem Maria e muito preciosa.


Igreja de Koden

Foi coroada na Polônia em 15 de agosto de 1723 por Stefan Rupniewski, bispo de Luck, como a terceira imagem de Maria a ser coroada sob direito papal nas terras da Comunidade Polaco-Lituana, após a imagem de Nossa Senhora de Czestochowa, Padroeira da Polônia, e Nossa Senhora de Trocka. Mas a história da imagem, não parou após a coroação... A igreja de Koden foi tomada pelos ortodoxos em 06 de abril de 1875. Do mês de agosto daquele ano, até 1927 a pintura foi alojada em Jasna Góra em Czestochowa, donde foi transferida, posteriormente, para Varsóvia. Em 1981, foi celebrado 150 anos da presença da imagem em Koden.

Como poderia uma imagem espanhola, atrair o coração do povo italiano e polonês? Somente os olhos misericordiosos de Maria podem explicar. Nesta imagem, intitulada de Nossa Senhora Gregoriana, a Mãe de Jesus mostra sua bondade e ternura como soberana Rainha. Diante dela, o mal é afugentado, pois o cetro real de sua mão direita indica poder, remetendo-nos ao título de Virgem Poderosa: seu poder, em verdade, é o Poder de Deus, que age por sua intercessão.

Mais uma vez, a imagem de Nossa Senhora aponta Jesus, o Caminho a Verdade e a Vida. Reafirma a Santa Virgem, que ela por si, não é o caminho, mas nos instrui da melhor maneira para o caminho que é Jesus. Maria é a ponte da verdade, pela qual Deus assumiu sua missão e se fez homem, rompendo as barreiras da carne e se revestindo de nossa pobreza. Nos braços de Maria, podemos encontrar sempre, embalado no amor, o Menino Deus.

A imagem é majestosa e simplesmente inspira confiança na intercessão de Maria Santíssima. Faz lembrar a quem a contempla o Salmo 44(45):

“Majestosa, a princesa real vem chegando,
Vestida de ricos brocados de ouro.
Em vestes vistosas ao rei se dirige,
E as virgens amigas lhe formam cortejo”.

Somos encantados com a beleza da Sempre Virgem Maria, e a ela sempre recorremos em nossas maiores dificuldades, porque Maria, sempre haverá de ser o seguro porto, para aqueles que se afogam ou se sufocam no mar da vida.

Ir. Ian Lucas Lopes de Castro, C.Ss.R.
Missionário redentorista

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