Para discorrer sobre o significado das romarias como espaço de êxodo, nos pode inspirar a reflexão feita pelo antigo Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, no texto “A Peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000” , que descreve as etapas da “peregrinação do êxodo” como “modelo exemplar da própria história de salvação”.
Neste sentido, nas mais diversas romarias aos santuários espalhados pela “geografia específica da fé” de nossos povos, podem-se identificar e reviver, na forma de um “memorial sempre vivo”, com valor permanente, as mesmas etapas do êxodo:
- a saída, com a decisão de partir, de desacomodar-se rumo a uma esperança ainda incerta;
- o caminho pelo deserto, com seus dons e suas tentações;
- e a entrada na terra prometida, com a alegria da comunhão e libertação desejada.
O êxodo se inicia com a decisão de sair, graças a um convite que parte de Deus – pois é Ele sempre que tem a iniciativa – mas que interpela a vontade própria daqueles que confiam na promessa divina de libertação.
Leia MaisRomaria como espaço do Êxodo (Parte I)Ao longo do caminho pelo “deserto da vida”, a liberdade do homem se encontra com os dons de Deus, que se revela, fortalece o peregrino com o maná e a água material e espiritual. Durante o caminho, porém, o homem se confronta também com duras provas, tem a tentação permanente de desistir, de cair na infidelidade, no pecado e na idolatria. Na luta por perseverar experimenta o encontro e a comunhão almejada.
E a chegada ao santuário é a confirmação de que a terra prometida existe e pode ser alcançada. A celebração dos sacramentos, oferecidos em abundância nos santuários, realiza já aqui na terra a plena comunhão com Deus e os irmãos, antecipação da promessa definitiva que se cumprirá no céu.
Portanto, o gesto milenar e intercultural de peregrinar é uma valiosa expressão da existência humana enquanto todo ser humano é um homo viator inacabado, em caminho à realização plena, só alcançável na eternidade. A peregrinação ou romaria é, ao mesmo tempo, imagem plástica do Povo de Deus peregrino, uma Igreja em caminho ao Reino, antecipação imperfeita dos valores do Reino e servidora da humanidade.
Entre as muitas representações simbólicas presentes nas romarias, destaca-se a peregrinação como espaço de êxodo, ou seja, como um memorial vivo da experiência do êxodo. A romaria expressa, assim, um ciclo permanente tanto da vida do homem como da Igreja peregrina: a necessidade constante de partir, de passar pelo deserto das provas e do encontro com os dons de Deus, para chegar finalmente à terra prometida onde as promessas, em maior ou menor medida, se cumprem.
Leia MaisExperimentar o deserto na vida espiritualPor fim, o retorno do peregrino, convertido e revigorado, à terra de onde partiu, permite que se inicie um novo ciclo, tanto para ele como para outros que serão agora convidados a refazer a mesma experiência existencial do peregrinar, que tem no êxodo de Israel do Egito seu ancestral milenar e seu modelo perene.
Referências:
GONZÁLEZ, op. cit., p. 177.
CONSELHO Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. A Peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000.
JOÃO PAULO II. Redemptoris Mater, 28.
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