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Os Padres da Igreja e a Mãe de Deus

Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R. (Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.)

Escrito por Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.

22 FEV 2017 - 16H00 (Atualizada em 17 JUN 2021 - 12H36)

Shutterstock/Por Diego Cervo

A tradição da Igreja sempre considerou bem a vida, a missão e a espiritualidade de Maria, a Mãe de Deus. Ao longo da história da Igreja, a presença de Nossa Senhora foi significativa e animadora, inspirando o itinerário espiritual dos cristãos.

Na tradição eclesial os Padres da Igreja são exímios testemunhos sobre a Mãe de Deus. Foram escritores eclesiásticos dos primeiros séculos, que nos legaram belíssimos textos marianos.

Os Padres da Igreja têm importância fundamental no desenvolvimento da reflexão e do culto da Mãe de Deus. “O valor que possuem, mesmo no campo mariano, é imenso e permanente, porque eles são as testemunhas mais qualificadas da fé ininterrupta, os pioneiros da pesquisa teológica, os pilares que servem de apoio ao edifício cultual e santo da Igreja” (Ermanno Toniolo, professor de teologia). 

Inácio de Antioquia



 Depois dos escritores do Novo Testamento, o primeiro Padre da Igreja a falar de Maria foi Inácio, bispo de Antioquia e mártir em Roma, por volta do ano 110. Numa carta à Igreja de Éfeso, ele sublinhou os três mistérios clamorososrealizados no silêncio de Deus: a virgindade de Maria, seu parto e a morte de seu Filho Jesus. São “mistérios que devem ser anunciados em altos brados”. Afirmou também que a Mãe de Deus faz parte do desígnio salvífico da salvação.

São Justino (+ 165), filósofo e mártir, defendeu que o cristianismo é “a única filosofia segura e útil”. Em “O Diálogo com o judeu Trifão”, dizia: “A Virgem Maria concebeu com fé e alegria quando o anjo Gabriel lhe anunciou a Boa Nova de que o Espírito do Senhor viria sobre ela, a Força do Altíssimo a cobriria com sombra, de modo que o Santo, que dela nasceria, seria o Filho de Deus”.

Santo Irineu (130-200), bispo de Lião e mártir, é considerado por vários pesquisadores como o pai da mariologia. Argumentou que Maria é mulher obediente ao projeto do Pai. Em seu tratado “Contra as heresias”, dizia: “Enquanto Eva, seduzida pela mensagem de um anjo, desobedeceu à palavra divina e afastou-se de Deus, Maria, ao contrário, guiada pela anunciação de outro anjo, obedeceu à palavra divina e mereceu trazer a Deus em seu seio”.

Clemente de Alexandria (150-215), fundador e diretor de escola catequética, escreveu a obra “Stromata”, que no uso comum significa “Tapetes”. Esse escrito são “tecidos de comentários científicos sobre a filosofia”, uma espécie de exposição científica da revelação cristã. Nesta obra ele defendia que Maria gera Cristo e permanece virgem, tal como as Escrituras dão luz e verdade permanecendo virgens.

Tertuliano (160-225), jurista e escritor, foi um pensador inquieto. Sua atividade literária foi ampla e de caráter eminentemente polêmico. Dizia: “Assim como não nascendo da Virgem, pode sem mãe ter a Deus por Pai, do mesmo modo, nascendo da Virgem, pode ter a uma mulher por mãe, sem homem pai”. Contra os hereges que negavam a humanidade de Cristo, ele a defendia. Deixava claro que ter Jesus nascido de Maria é a garantia de sua verdadeira humanidade. Graças à sua Mãe pode-se afirmar que Jesus pertence à raça humana.

Orígenes (186-254), grande mestre de escola catequética, teve produção vastíssima. Em seu comentário ao Evangelho de João, não admitia que os “irmãos de Jesus” sejam considerados filhos de Maria, já que ela permaneceu virgem até o fim. Em seu comentário ao Evangelho de Lucas, considerava que ela já era santa antes da Anunciação, conhecia a lei e os profetas, meditava em cada dia as Escrituras. A ação de Maria em favor do gênero humano restituiu a honra à mulher: Eva trouxe a dor e a maldição ao sexo feminino, mas a Mãe de Jesus conferiu-lhe bênçãos e alegria.



Santo Efrém (306-373), diácono, foi poeta e grande compositor de hinos. Dizia: “Semelhante a teu Pai, semelhante a tua Mãe, a quem és tu semelhante? Deus não tem forma nem cor; és semelhante a teu Pai em força, essência, em natureza, em poder; mas és também semelhante a tua Mãe, que te gerou, e de quem tomaste a forma humana; semelhante a teu Pai, semelhante a tua Mãe, és semelhante a ti próprio, ó tu, que tomaste a forma de escravo”.

Santo Ambrósio (339-397), bispo de Milão, foi pastor prudente e homem sábio. Dizia: “Que coisa mais esplêndida que aquela a quem escolheu o mesmo esplendor divino? Que coisa mais nobre que a Mãe de Deus?”. Em seu comentário ao Evangelho de Lucas, ele apresentou Maria como Modelo da Igreja, cuja função, como a da Mãe de Jesus, é de conceber e dar à luz novos filhos com alegria.

Santo Epifânio de Salamina (+ 403) foi autor do “Panarion” (= “Caixa de medicamentos” contra hereges). Destacou a importância fundamental de Nossa Senhora na história da salvação. Dizia: “Maria trouxe a causa da vida, por ela a vida estendeu-se a nós. Foi por isso que o Filho de Deus veio a este mundo, para que, onde abundou o delito, superabundasse a graça. Onde a morte havia chegado, chegou a vida para tomar o seu lugar; e Aquele, que nasceu da mulher para ser nossa vida, haveria de expulsar a morte, introduzida pela mulher”. 

São Cirilo de Alexandria (375-444), pensador profundo, foi grande defensor da doutrina cristã. Contra os hereges, argumentou em favor da maternidade divina de Maria. Nossa Senhora é a Mãe de Deus. No Concílio de Éfeso, em 431, fez a belíssima saudação mariana: “Nós vos saudamos, ó Maria, que trouxestes no vosso seio virginal Aquele que é imenso e infinito; por vós, a Santa Trindade é glorificada e adorada; por vós, a cruz preciosa é adorada no mundo inteiro; por vós, o céu exulta; por vós alegram-se os anjos e os arcanjos; por vós, são postos em fuga os demônios; por vós, o diabo tentador foi precipitado do céu; por vós, a criatura decaída é elevada ao céu; por vós, todo gênero humano, sujeito a insensatez da idolatria, chega ao conhecimento da verdade; por vós, o santo batismo purifica os crentes; por vós, vem-nos o óleo da alegria; por vós, são fundadas as Igrejas em toda a terra; por vós, os povos são conduzidos à penitência”.

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona e escritor fecundo, deixou-nos imensa obra literária. A mais famosa é “Confissões”. Destacando a fé em Maria, escreveu: “Porventura não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, a qual acreditou em virtude da fé, concebeu em virtude da fé, foi escolhida como aquela da qual devia nascer a salvação entre os homens, foi criada por Cristo, antes que Cristo fosse nela criado? Fez sim certamente a vontade do Pai, Maria Santíssima. Por isso conta mais para Maria ter sido discípula de Cristo que ser Mãe de Cristo”.

 

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C.Ss.R.

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Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R. (Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.)
Pe. Eugênio Bisinoto, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, formado em filosofia e teologia. Atuou como formador, trabalhou no Santuário Nacional, onde foi diretor da Academia Marial.

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