Quarta dor de Maria Santíssima
Encontro com Jesus no caminho do Calvário
(Evangelho Segundo Lucas 23,27-31)
“Uma grande multidão do povo o seguia. E mulheres batiam no peito e choravam por Jesus. Jesus, porém, voltou-se e disse: “Mulheres de Jerusalém, não chorem por mim! Chorem por vocês mesmas e por seus filhos! Porque dias virão, em que se dirá: ‘Felizes das mulheres que nunca tiveram filhos, dos ventres que nunca deram à luz e dos seios que nunca amamentaram.’ Então começarão a pedir às montanhas: ‘Caiam em cima de nós!’ E às colinas: ‘Escondam-nos!’ Porque, se assim fazem com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?”
Uma piedosa e antiga tradição nos recorda que levando sobre os ombros a pesada cruz para o Calvário, Jesus se encontra com Sua Mãe, Maria Santíssima. A tradição recorda que logo após a primeira queda, Maria fica frente a frente com o Filho em um encontro silencioso e doloroso. “As quedas de Jesus, ao longo do Caminho da Cruz, não pertencem à Sagrada Escritura; são um legado da piedade tradicional, guardado e cultivado no coração de tantos em oração.
Na sua primeira queda, Jesus dirige-nos um convite, abre-nos um caminho, inaugura uma escola para nós. É o convite para ir ter com Ele na experiência da impotência humana, a fim de descobrir nela o enxerto da Potência Divina. É o caminho que conduz à fonte da autêntica saciedade, a da Graça que basta. É a escola onde se aprende a mansidão que acalma a rebeldia e onde a confiança toma o lugar da presunção”¹.
Nesta escola inaugurada por Jesus está a sua Mãe Santíssima. Como verdadeira Discípula Missionária do Filho, Maria torna-se nesta escola “Mãe e Mestra da Verdade”. São João Paulo II, em sua visita ao Santuário Nacional de Aparecida em 1980, nos exorta em sua homilia a “Permanecermos na escola de Maria, escutar sua voz e seguir seus exemplos. Ela nos orienta para Jesus e nos convida a todo instante a fazer tudo o que Ele nos disser (Jo 2,5)”.
No caminho doloroso do Calvário está a mulher que não fugiu e não esmoreceu ao seu “Sim” primeiro. Maria acompanhá-lo-á até a cruz (cf. Jo 19,25). “Sim, Maria estava ali como ‘sua mãe’ e isto muda tudo, pondo Maria numa situação totalmente diferente. Maria ouviu os gritos: ‘Esse não, mas Barrabás!’, assistiu ao Ecce homo, viu a carne da sua carne açoitada, sangrante, coroada de espinhos, seminua perante a multidão, estremecendo sacudida por arrepios de morte na cruz”.² Cantalamessa nos recorda que diante dos acontecimentos “Maria ficava calada. Sua resposta para tudo era o silêncio. Não um silêncio de resignação e de tristeza.
O de Maria era um silêncio bom”, e explica que isso não significa que para Maria tudo seja fácil, que “não precisa superar lutas, fadigas e trevas”. “Ela estava isenta do pecado, não da luta e daquela que São João Paulo II chama ‘a fadiga do crer’.”³ Maria é uma mulher que acredita sem duvidar no coração. “Ela acreditou esperando contra toda esperança. Esperar contra toda a esperança significa sem ter nenhum motivo de esperança, numa situação humanamente de total desesperança, continuar esperando unicamente por causa da palavra de esperança pronunciada por Deus”4
No caminho doloroso, os olhos de Maria e Jesus se encontram. Do coração da mãe e do filho jorram as dores que sentem. A alma de Maria de Nazaré está mergulhada em amargura, na amargura do Filho que doloroso como seu coração se encaminha para derramar a todos os homens a Salvação. Maria sofria no coração o que o Filho sofria na carne. Entre eles, neste momento existe algo em comum: o mesmo sofrimento. Boaventura Baduário fala de um atalho que a mãe aflita tomou para ficar depois esperando numa esquina pelo Filho atribulado. “Aí estava a espera dele, quando foi reconhecida pelos judeus e deles teve de ouvir injúrias contra seu amantíssimo Jesus. Talvez tivesse de escutar até motejos contra si mesma. E, ai! Que martírio lhe não causou a vista dos cravos, dos martelos, das cordas, funestos instrumentos da morte do Filho!”5.
Do meio do grande alvoroço de soldados e transeuntes que se apertavam nos estreitos caminhos da via dolorosa surge diante dos olhos de Maria o Filho Jesus com a cruz às costas. Depois de passar por todo o sofrimento da flagelação dos algozes e a condenação no pretório, diante dos olhos de Maria estava a plena realização do cumprimento da Profecia de Isaías “Não tinha beleza nem atrativo para o olhar, não tinha aparência que agradasse. Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos” (Is 52,2-3), tão desfigurado ele estava, que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano (Is 52,14). Na dolorosa mãe que à beira do caminho se vê empurrada de todos os lados por aqueles que imploravam pelo sangue do condenado, o profeta Jeremias descortina a face da dolorosa “suas lagrimas correrem pelas faces; não há quem a console entre todos os seus amados” (Lm 1,2). Na face de Maria de Nazaré desagua em prantos e lamentações a espada de dor que lhe atravessou alma (Lc 2,34-35).
“Vocês todos que passam pelo caminho, olhem e prestem atenção: haverá dor semelhante à minha dor?” (Lm 1,12). Alguém teria feito caso das lágrimas daquela mulher na via dolorosa? Alguém teria consolado aquela aflita mãe? Para quem pensava que seu Filho era ‘um chagado, golpeado por Deus e humilhado’ na ‘verdade ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores. Ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura. Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós. Foi maltratado e submeteu-se, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca. Foi atormentado pela angústia e foi condenado’ (Is 52,4-8)”.
“Assim a Bem-aventurada Virgem avançou em peregrinação de fé. Manteve fielmente sua união com o Filho até à cruz, onde esteve não sem desígnio divino. Veementemente sofreu junto com seu Unigênito. E com ânimo materno se associou ao seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada”.6 Terminado o breve encontro na via dolorosa resta a Maria de Nazaré chegar ao pé da cruz e contemplar o projeto salvífico do Pai se consumar na morte redentora de Jesus Cristo.
“A relação de Maria com Jesus pertence ao desenvolvimento temporal da comunidade de fé em vista da participação dela na Comunidade divina eterna. Maria mostra que é pessoa inserida neste desenvolvimento, à medida que, irrompendo de Deus e dependente de Deus, se mantém de pé, junto ao filho na cruz, no momento crucial da concretização histórica do projeto salvífico da Comunidade divina. O Pai está crucificado no Filho que derrama todo o seu sangue para a libertação universal dos povos. E o Espírito cobre o Pai e o Filho com sua ternura, sua sensibilidade e sua leveza. Maria, então, silencia diante do mistério e dialoga no silêncio com as pessoas do Deus comunidade de amor”.7
Bibliografia:
1.MANGANELLI, Elena Maria. Via Sacra. Vatican News, 2011. Disponível em: <https://www.vatican.va/news_services/liturgy/2011/via_crucis/po/station_03.html>
2.NOGARA, Jane. Cantalamessa: “Perto da Cruz de Jesus estava Maria, sua mãe”. Vatican News, 2020. Disponível em:<https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-03/reflexao-cantalamessa-quaresma-curia.html>
3.MASOTTI, Adriana. Fr. Cantalamessa: Maria, guia e modelo neste tempo de provação. Vatican News, 2020. Disponível em:<https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/raniero-cantalamessa-segunda-pregacao-quaresma-2020-maria.html>
4.CLARO, Denise. Em pregação da Quaresma, Cantalamessa recorda Maria no Calvário. Canção Nova, 2020. Disponível em:<https://noticias.cancaonova.com/mundo/em-pregacao-da-quaresma-cantalamessa-recorda-maria-no-calvario/>
5. LIGÓRIO, Afonso maria. Glórias de Maria. 3 ed. - Aparecida, SP: Editora Santuário,1989.
6. Lumen gentium, 58.
7. BUCKER, B; BOFF, L; AVELAR, M. Maria e a Trindade: implicações pastorais - caminhos pedagógicos - vivência da espiritualidade. 2 ed. - São Paulo, SP: Editora Paulus,2002.
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