“...e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro da casa” Lc 2,7
O Natal do Senhor é um acontecimento que mudou o curso da história da humanidade. Santo Irineu nos afirma que “Deus se fez homem para nos tornar filhos de Deus” e esta filiação é uma alegria que inunda o ser humano, pois Cristo luz do mundo se fez homem para apagar as trevas do pecado: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1-6). Maria de Nazaré é a porta pela qual adentra no mundo o Filho de Deus, essa luz que nos banha dissipando nossa escuridão. O nascimento do Salvador realiza-se em um cenário com inúmeras dificuldades das quais poderíamos dizer que não havia motivos para alegria alguma: uma longa viagem empreendida por José e Maria grávida para recensear-se em sua cidade natal, a falta de um lugar digno para o nascimento do menino, o silêncio da fria gruta de Belém na Judeia. O reinado do Messias inicia-se na pobreza e na simplicidade. Um reino sem honras e pompas terrenas que nos faz refletir as palavras ditas por Jesus: “O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58), um reino que mostra a sua predileção pelos pobres.
No momento da Anunciação, Maria de Nazaré, dócil à vontade de Deus, manifesta sua disponibilidade à vontade do Pai: “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A alegria desta decisão tomada de livre e espontânea vontade se faz presente e visível no momento do Nascimento no bendito fruto de seu ventre, Jesus. O parto vivenciado na pobreza da gruta de Belém é motivo de alegria para Maria e para José, mesmo na humildade e simplicidade, uma alegria que se estenderá também a todos os que esperavam a vinda do Messias: “hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor”. (Lc 2,11-12). São Basílio de Cesareia afirma que "a alegria deve ser constante na vida de todas as pessoas” e esta alegria “é dada a pessoa que vive o Cristo em sua vida, mesmo passando por situações de pobreza, de fome, de martírios. A vida evangélica impõe uma vida de cruzes que trarão alegrias no Senhor”¹. Nas palavras de Basílio de Cesareia compreendemos a alegria de Maria e José no nascimento de Jesus, o jovem casal já vivencia esta alegria de ter uma vida vivida com Cristo e recolhem como frutos desta missão as alegrias no Senhor.
O Cristo de Deus que entra no mundo, vem para nos encorajar e dizer a cada um de nós “não temais”, sua presença nos traz a alegria da filiação adotiva, dissipa as diferenças uns dos outros, vem para nos dizer que, sendo Filho do Eterno Pai, se compromete com a nossa humanidade e que por ele seremos redimidos na cruz, nossa humanidade ferida pelo pecado será resgatada. Em Jesus experimentamos a alegria de sermos amados e como Maria e José também nós vivenciamos as alegrias no Senhor.
A noite do nascimento transcorria calma e sem nenhum acontecimento extraordinário para os pastores até uma luz angelical invadir aquele ambiente pitoresco. O Anjo anuncia aos Pastores uma grande alegria, que o será para todo o povo (Lc 2,10). É um convite à alegria: não temais. Assim como para a Virgem de Nazaré na Anunciação, também aos pastores a notícia do nascimento do Filho de Deus é o grande sinal da bondade e da misericórdia do amor de Deus para com a humanidade. Os Anjos entoando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”, revela que este Deus amoroso e misericordioso tem uma predileção especial para com os humildes e pobres. A certeza dessa predileção empreende agora uma viagem daqueles homens na busca da alegria que chegou através Daquela que é feliz porque acreditou: “Vamos a Belém, ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou” (Lc 2,15). E "encontraram Maria, José e o Menino” (Lc 2,16). A alegria é dom de Deus, é fruto do Espírito Santo. Quando os pastores encontram a Mãe e o Menino puderam contemplar o que José desde o momento do nascimento já admirava, a alegria que transbordava e contagiava a jovem de Nazaré porque, por sua pureza, simplicidade e humildade, refletia perfeitamente a ação de Deus no meio dos homens. A alegria da jovem mãe vem da ação do Espírito Santo que lhes dá a fé. Maria nas promessas que Deus fez ao seu povo, acreditou no poder do Deus Altíssimo, e a alegria salvadora de Jesus se firmou em seu coração. A alegria do nascimento se consolida na docilidade da entrega total a ação do Espírito Santo e no serviço aos mais necessitados. Na alegria, Maria enfrentou as dificuldades e também as dúvidas de José. Na alegria, “a Virgem Maria viveu, acolheu, ofertou, silenciou, esperou, sofreu e viu a Ressurreição”².
"A alegria pelo Natal toma conta de nossos corações porque é a vida do Senhor na realidade humana, mas ela é também na vida de cada um de nós, como discípulos e missionários em saída. O nascimento do Messias é vida, é paz, é amor. A alegria do Natal que o Senhor nos traz, tome conta de nossas vidas para a construção da paz e do amor no mundo de hoje".³
Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial de Aparecida
Bibliografia:
1. Cfr. Basilio, Il Grande. Omelia sul ringraziamento, 1-3. In: La teologia dei padri, v. 3. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 184-185.
2. REIS, Raquel. O poder da Alegria de Maria. comshalom, 2023. Disponível em: <https://comshalom.org/o-poder-da-alegria-de-maria/>
3. CORBELLINI, Vital. O advento aponta a alegria do Senhor. VaticanNews, 2021. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-12/dom-vital-o-advento-aponta-alegria-do-senhor.html>. Acesso em 04, Janeiro de 2023.
Consulta de Pesquisa:
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