O atual calendário litúrgico católico inclui 4 solenidades marianas ao longo do ano: Maria Mãe de Deus (01/01), Anunciação do Senhor (25/03), Assunção de Maria (15/08) e Imaculada Conceição (8/12). Dentre estas, a mais importante é a Solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus, com a qual se encerra a Oitava do Natal. Destaca-se porque este é o maior dom que Maria recebeu da Misericórdia do Altíssimo!
Na Idade Antiga, a “Memória da Mãe de Deus” (Mnéme tés Theotókou) era celebrada em Bizâncio, centro oriental do Império romano. Antes do século VII também se comemorava em Roma o papel de Maria como Mãe do Filho de Deus que assumiu a natureza humana, no contexto das festividades natalinas.
O Espírito prometido por Cristo foi aos poucos revelando aos cristãos a profundidade deste mistério (cf. Jo 14,26; 16,13), que na Sagrada Escritura tem o seu ponto de partida. Em Lc 1,43 Maria é saudada como “Mãe do meu Senhor [Kyríou]” (cf. Catecismo, n. 495) – ou seja, Mãe de Deus. Até o momento, podemos afirmar que este título pode ser encontrado já no início do século III d.C. tanto em área romana (Europa) como alexandrina (África) (Sträter; Schmaus; Schulz; Scheffczyk; Voss).
De fato, a sua utilização é testemunhada na antiqüíssima oração Sub tuum praesídium (“À vossa proteção”), que pode ser datada deste período (séc. III), quando Setímio Severo e Constâncio Cloro perseguiam as comunidades cristãs do Egito. O texto (papiro 470, em grego) foi encontrado em 1917. O autor se dirige a Maria como “Theotókos”, o que equivale a: “Aquela que deu à luz a [Geradora de, Deípara] Deus”. A tradução literal da mais antiga oração mariana soaria assim:
“Sob a tua misericórdia nos refugiamos, Mãe de Deus, não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades, mas livra-nos do perigo, única casta e bendita!” (cf. LG 66).
O Concílio de Éfeso (431) confirmou a maternidade divina de Maria (“Dei Génetrix Sancta Virgo”: DS 251), embora alguns a contestassem, imaginando – erroneamente – alguma relação com as imagens pagãs do nascimento dos deuses e suas mães. O título realça a ação misericordiosa de Deus Pai em Maria, na força do Espírito Santo, a partir do seu “sim” (fiát): “E o Verbo se fez carne” (Jo 1,14) – “Verbo” que é sinônimo de “Filho do Altíssimo” ou “Filho de Deus” (cf. Lc 1,32 e 35).
Na origem remota daquele Concílio estava a polêmica que explodira no Oriente cristão no final do século IV, a respeito da relação entre as naturezas humana e divina de Cristo. O patriarca Nestório (de Constantinopla), escrevendo a S. Cirilo (Alexandria), sentenciara de modo equivocado: “Se considerarmos mais diligentemente a questão, a Virgem santa não deve ser chamada Theotókos mas Christotókos” (Carta a Cirilo). Mais do que um jogo de palavras, estava em discussão a clareza sobre o mistério de Cristo: não é um “homem” unido a um Deus, mas o Filho de Deus que assumiu a natureza humana.
É bom salientar que, antes do Concílio de Éfeso, vários outros autores cristãos designaram Maria como “Mãe de Deus”, tais como Orígenes, S. Pedro Mártir, S. Atanásio, Eusébio de Cesaréia, S. Basílio, S. Gregório de Nissa, S. Ambrósio etc. Por exemplo, S. Gregório Nazianzeno foi categórico: “Se alguém não acredita que santa Maria é Mãe de Deus, separa-se da divindade” (Carta 101). Era esta, portanto, a fé eclesial mais pura e difusa, para além de querelas por vezes precipitadas e envenenadas por vaidades humanas!
“Não se deve adorar somente a Cristo? Mas não se deve honrar também a santa Mãe de Deus?” – exclamou Martinho Lutero, o pai do protestantismo moderno, num sermão muito agitado, a 17/01/1546 (Weimar, t. 51, pp. 128s). Por sua vez, inspirado nos Santos Padres, o convertido – e recentemente beatificado – J. H. Newman (+1890) afirmou:
“A confissão de que Maria é a Deípara, a Mãe de Deus, constitui a defesa que nos permite tutelar e conservar a doutrina do apóstolo João contra todas as objeções, e é a pedra de toque que nos permite reconhecer as maquinações dos espíritos maus do anticristo que infestam o mundo” (in O culto a Maria hoje, EP, 1979, p. 134; cf. 1Jo 2,22s).
Que ao longo de todo o ano de 2014 possamos recorrer com confiança à materna proteção de Maria, sobretudo nos momentos de prova, desânimo e obscuridade, suplicando sempre: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores”! [Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis, peccatoribus]
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