Milhares de pessoas reúnem-se ao meio-dia de domingos e Dias Santos na Praça São Pedro, para acompanhar a Oração mariana do Angelus conduzida pelo Papa Francisco. Mas, como se desenvolveu esta tradição?
A recitação do Angelus, acompanhada pelo badalar dos sinos das igrejas, teve início no século XIII, de grande devoção mariana. Era chamada na época de “oração da paz”, pois o objetivo era honrar o Filho de Deus que, encarnando-se no seio da Virgem Maria, colocou os fundamentos da paz entre Deus e os homens. A oração era rezada somente no início da noite, pois se acreditava que o Arcanjo Gabriel apresentou-se a Virgem Maria ao entardecer. Inicialmente era composta pelas palavras da primeira parte da Ave Maria, repetidas diversas vezes. Somente mais tarde assumiu a fórmula rezada atualmente.
Alguns defendem que a prática tenha nascido na Alemanha, no início do século XIII, baseados em expressões marianas escritas em sinos. Outros atribuem a origem da prática mariana a Gregório IX, (por volta de 1241), o Papa que foi eleito aos 85 anos.
A primeira notícia precisa sobre o Angelus Domini remonta a 1269, período em que São Boaventura de Bagnoregio, conhecido como “dr. Serafico”, foi Geral da Ordem franciscana. De fato, durante o Capítulo Geral dos Frades Menores realizado em Pisa, foi prescrito aos frades a saudação a Nossa Senhora todas as noites, com o som dos sinos e a recitação de algumas ‘Ave Marias’, recordando o mistério da encarnação do Senhor. Foi estabelecido também, que nas pregações, “os freis deveriam persuadir o povo a saudar algumas vezes a Bem aventurada Virgem Maria ao som do sino de Compieta, à noite”. Já no Sínodo de Strigonia (Hungria), em 1307, um Decreto prescreveu que os sinos deveriam tocar todas as noites “instar tintinnabuli” (docemente) e os fiéis que tivessem recitado três Ave Marias receberiam indulgência plenária. Com o passar do tempo, a oração passou a ser rezada também durante a manhã, a partir de 1400.
Mas foi o Papa Calisto III, em 1456, que prescreveu o baladar dos sinos do Angelus também ao meio-dia com a oração de três Ave Marias. Por fim, um Sínodo realizado em Colônia no início do século XV, estabelecia claramente: “De agora em diante, todos os dias, em cada igreja, no nascer do sol, seja tocado três vezes os sinos como se costuma fazer ao entardecer, para saudar a Virgem gloriosíssima”. E se concedia indulgência àqueles que, durante o tocar dos sinos, tivessem recitado três Ave Marias. O Papa Paulo VI, incluiu a oração no documento Marialis cultus, exortando a manter vivo o costume de recitá-la diariamente. O Angelus também foi uma oração muito cara ao Papa João Paulo II, que a constituiu momento de encontro com fiéis de todo o mundo, na Praça São Pedro. O Angelus do meio-dia – hoje o mais difundido, mesmo porque é vivido como forma de parada nos cansaços do dia e elevação do pensamento a Mãe do Céus – foi o último a ser introduzido na prática dos fiéis e difundiu-se muito lentamente. Em 1475, o Rei da França, Luis XVI, obteve do Papa Sisto IV que fossem concedidos 300 dias de indulgência àqueles que “ao meio-dia recitassem devotamente três Ave Marias pelo bem da paz e a unidade do Reino”. Tal prática – chamada por isto ‘a Ave, Maria da paz” – foi logo colocada em relação com a Ave Maria da noite e transformada no Angelus do meio-dia. Sob o Pontificado do Papa Sisto IV (1471-1484) o Angelus do meio-dia foi introduzido também na Inglaterra, a pedido da Princesa Elizabeth, futura mãe de Henrique VIII. Em um livro de orações de 1526 se especificava que Sisto IV havia concedido especial indulgência a quem tivesse recitado “três Ave Marias às 6 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde”.
Pio XII inaugurou o encontro com os fiéis, assomando à janela do escritório do palácio Apostólico para “dar uma palavra de fé aos fiéis e a bênção e João XXIII introduziu outras palavras à oração do Angelus. Já a primeira ‘transmissão’ do Angelus festivo ocorreu com o Papa Pio XII, em 15 de agosto de 1954, em Castel Gandolfo, por ocasião da convocação do Ano Mariano Universal. Antes da oração, o Padre Francesco Pellegrino explicou a importância do acontecimento e o significado da homenagem a Maria, desejada “para que todos os fiéis pudessem unir-se ao Papa na saudação a Mãe de Deus”. (JE)
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