A tradição eclesial fez brotar no coração dos fiéis a oração Salve, Rainha. Nela a Virgem Maria é invocada com o título mater misericordiae (mãe da misericórdia). O que fez a Virgem de Nazaré ser reconhecida e invocada com tão divino nome?
:: Aspectos Teológicos do Ano Santo da Misericórdia: com um olhar para Maria
:: A Origem da Salve Rainha
A Igreja sempre ensinou que todos os méritos de Maria têm sua origem em Cristo Jesus. Não há devoção mariana que não seja consequentemente caminho para o Filho e, deste, ao Pai. Como nos recorda o papa Paulo VI, a devoção à Virgem Maria está inserta num único culto: o cristão. “Pois de Cristo se origina e assume eficácia, em Cristo encontra completa expressão e por meio de Cristo, no Espírito, conduz ao Pai, por isso, é elemento qualificante da genuína piedade da Igreja.”
Ao proclamar um Jubileu Extraordinário para a celebração da misericórdia de Deus em 2016, o papa Francisco convida-nos a fixar o olhar em Cristo Jesus, misericordiae vultus (o rosto da misericórdia). E, nesse olhar, maravilhar-se com a misericórdia do Pai, tal qual Maria se maravilhou no Magnificat (cf. Lc. 1, 46-55).
O olhar divino do Pai chega a nós pelo rosto humano do Filho. Deus-Pai primeiramente “olhou” para a humildade da Virgem Maria (cf. Lc 1, 48) porque ela, como serva, colocou-se à disposição da vontade salvífica do seu Senhor, dizendo: “Faça-se em mim”! (cf. Lc 1, 38). Desse fiat (faça-se) nasceu-nos o Salvador. E assim, em sua humilde história de vida, Maria contemplou o rosto misericordioso do Pai. Primeiro, porque reconheceu que na inteira história do seu povo o “Todo-poderoso fez grandes coisas e sua misericórdia perdura de geração em geração” (Lc 1, 49) e, ainda, que seu Senhor se lembrou do seu povo por causa da sua misericórdia (cf. Lc 1, 54). Segundo, porque foi ela a gerar no próprio ventre o rosto da misericórdia (cf. Lc 1, 31). E não só gerou, foi ela quem primeiro contemplou tomando-o em seus braços, protegendo-o com faixas (cf. Lc 2, 6-7). Que alegria inefável, que divina bem-aventurança! Contemplar a face misericordiosa de Deus no rosto de uma criança! Com razão a chamamos gratia plena (cheia de graça). Não há graça maior do que se contemplar na misericórdia de Deus. Jesus é o espelho no qual o ser humano se contempla redimido. Maria, com seu fiat, gerou-nos um rosto misericordioso e, materna e piedosamente, a mesma face apresentou-nos (cf. Lc 2, 22). E com o velho Simeão, contemplando essa sagrada face, bendizemos e adoramos o Pai “porque nossos olhos viram a salvação” (cf. Lc 2, 30).
A glória do Pai no rosto do Filho chega-nos também pelo “olhar” de Maria. A Ela clamamos enquanto, muitas vezes, caminhamos como em “vale de lágrimas”, nas dores e nos sofrimentos. A Ela, Nova Eva, recorremos porque em nossos pecados nos sentimos “degredados filhos da primeira Eva”. Desejamos que os “olhos misericordiosos” de Maria se voltem para nós e neles e por eles possamos contemplar Misericordiae Vultus.
Pe. Luís Fabiano dos Santos Barbosa, SDB
Coordenador do curso de Teologia do UNISAL, Campus Pio XI
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