Grão de Trigo

A verdadeira riqueza é “ser rico para Deus”

Escrito por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.

28 JUL 2016 - 15H37 (Atualizada em 18 OUT 2021 - 10H28)

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Homilia 18º Domingo Comum - ANO C

Lucas, 12,13-21

Neste domingo Jesus nos previne no Evangelho de Lucas quanto à busca e ao uso do dinheiro, tema nunca desprezível seja para o rico, seja para o pobre. O que é o dinheiro? Uns pensam: ele é tudo; abre todas as portas, sem ele nada se faz; ele compra todas as pessoas. Outros dizem: é o “esterco do diabo”. A tudo corrompe, e não compra a felicidade. O fato é que o dinheiro é um valor ambíguo, ou seja, será bom ou mau conforme o uso que dele se faz. Por exemplo, aí está a cobiça, o apego exagerado a ele. Um sentimento que leva o homem a fazer do dinheiro um ídolo: uma espécie de deus, e a servi-lo quase como um escravo. É uma tentação comum. Por causa dessa idolatria, desse culto ao dinheiro atiçado pela ambição, entra a desonestidade nas relações sociais. Surgem a tapeação, a mentira, o engano, a corrupção, o luxo, o esbanjamento junto com a pobreza e a miséria. Enfim, toda sorte de pecado. Em todos os tempos e culturas, a cobiça ao dinheiro alimentou as ilusões humanas. Em nosso tempo talvez mais do que em outros, quem sabe! Hoje há o deslumbramento fácil por tantas ofertas de gozo, de prazer, de felicidades possíveis. Tudo proporcionado pela febre do consumismo.

O dinheiro é sem dúvida um símbolo poderoso de mando, posse, prestígio ou status. Por um lado ele concentra as conquistas dos homens: materiais e espirituais. Por outro lado, se mata e se morre pelo dinheiro. O pobre que mal o ganha procura economizá-lo. O rico quanto mais o gasta e esbanja, tanto mais o acumula. Os evangelhos têm posição bem definida a respeito da riqueza e do dinheiro. Da sua posse e do seu valor real. Uma parábola de Jesus no evangelho de São Lucas nos previne: o dinheiro e sua cobiça são armadilhas que impedem o acesso à verdadeira riqueza, ser rico para Deus. Vamos ler: Lc 12,13-21.  

Nos primeiros tempos da Igreja, os cristãos praticavam a comunhão de bens, ao menos em algumas situações. Eram muito unidos, pois: “tinham tudo em comum... distribuíam o dinheiro entre todos conforme cada um precisava” (At.2,44s). Assim nos informam os Atos dos Apóstolos. Mas, apesar de todo o fervor inicial, começaram bem cedo na comunidade cristã a competição das riquezas, a ambição. Isso deu motivo a problemas e desentendimentos entre eles. Os estudiosos pensam que o capítulo 12 do Evangelho de Lucas retrata esta situação de fato. Ele condena o apego ao dinheiro porque é uma falsa segurança e uma tentação constante que nos afasta do Reino de Deus.

Tem ainda outro aspecto. Ao mostrar Jesus negando-se a agir como juiz na repartição da herança entre dois irmãos, o Evangelho estaria negando também à Igreja qualquer função econômica na sociedade. Ela não é chamada a assuntos econômicos. Planejar, regulamentar finanças, salários, projetos etc. Sua função social neste setor não é econômica, mas profética. Cabe à Igreja sim, ser fiel ao Evangelho, e por isso, denunciar a corrupção, reclamar ética e justiça dos governantes, combater as ambições e opor-se às desigualdades sociais.

Para alertar seus discípulos contra o perigo da cobiça e a tentação das riquezas, Jesus usou uma parábola, como era seu costume. Um homem rico ficara mais rico com a colheita. Nem sabia mais onde e como guardar sua riqueza. Fez novos e maiores celeiros e começou a fazer planos de administração dos bens. Dali para frente pensava estar garantido até o fim da vida. Ao abrigo de todas as dificuldades, doenças e desgraças. Seu dinheiro seria sua segurança! Não tinha porque se preocupar com nada mais. Estava rico! Pensou consigo mesmo: “Tu tens uma grande quantidade de bens em depósito, para muitos anos. Descansa, come, bebe, comemora!” (v.19). Aí Jesus concluiu e aplicou a parábola: toda aquela riqueza não colocou a vida daquele homem no seguro. Ele morreu naquela mesma noite. Deixou tudo o que havia conseguido. O seu dinheiro ficou para os outros e ele nada aproveitou dele!

Maria viveu uma vida humilde e sofrida, mas foi toda rica para Deus, pois viveu todos esses ideais junto ao Filho.

O cristão pode ser rico ou pobre: tanto faz! Sendo um cristão, deverá ser independente perante os bens materiais e o dinheiro. E saber que a vida só é mesmo rica se vivida para os outros, partilhando bens e dons. De que adianta ter coisas, ter bens, depositar dinheiro em bancos, possuir cartões de crédito, acumular riquezas e fazer sucesso em negócios, se o mundo continuar ameaçado pelas injustiças? Pobres continuam na pobreza e os ricos vazios de coração, sem fé e insensíveis ao destino final. Não vivemos para o dinheiro. Se formos responsáveis no seu uso ficaremos vigilantes contra a vida desonesta. A verdadeira riqueza é “ser rico para Deus”.

Maria viveu uma vida humilde e sofrida, mas foi toda rica para Deus, pois viveu todos esses ideais junto ao Filho. Com ela, vamos aprender a ser fiéis seguidores do seu Filho em nosso tempo. Dentro da Igreja e não fora dela! Marcar a diferença contra a mentalidade generalizada de um mundo materialista. Indiferente ao valor da pessoa humana, refratário ao Evangelho.

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Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R., em Grão de Trigo

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