“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela.” (Gn 3,15)
Leituras: Gn 3,9-15.20 / Ef 1,3-6.11-12 / Lc 1,26-38
I. “Maria, então, disse: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Maria é a Santíssima Serva do Senhor, aquela que foi preservada da culpa original para fazer a plena vontade de Deus, por isso que ela é a Imaculada Conceição, sendo concebida sem o pecado original. Deus mesmo preparou uma morada na terra para si, e preservou-a da transmissão do pecado, em sua infinita bondade nos deu uma Mãe puríssima, que tendo gerado o Filho de Deus, Cristo Jesus, seria também capaz de gerar para Deus espiritualmente outros filhos de Deus. São Paulo diz: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no Amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado” (Ef 1,4-6). Deus nos escolheu desde toda eternidade, antes da fundação do mundo, preparou um caminho para que pudéssemos receber a filiação adotiva, e para que fossemos santos e irrepreensíveis, Ele nos enviou o seu Filho Amado, e para que o Perfeito e Santo pudesse vir a nós, era necessário que o meio também fosse perfeito e santo. Maria foi escolhida por Deus para trazer a causa da salvação humana, para que ela fosse a nova Eva, para que por sua condição de perfeição pudesse transbordar a graça divina e trazer por força do Espírito Santo, Jesus Cristo o Filho de Deus, o Bem-amado, que nos cumulou com sua graça, para sermos verdadeiros Filhos de Deus.
II. “Alegra-te, Cheia de Graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). O Anjo Gabriel ao encontrar Maria a saúda, nominando-a a Cheia de Graça (Kecharitomene), isso significa que aquela menina já possuía uma plenitude em seu ser, uma perfeição original, nela o próprio Deus conservou aquilo que Eva perdera pela sua desobediência, para que a Cheia de Graça fosse canal da graça divina a cada um de nós. O Anjo também diz: O Senhor está contigo! Mostrando que antes dela conceber o Filho de Deus, o Senhor já estava com ele, e o Anjo vai continuar: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.”(Lc 1,30). A vida de Maria era agradável a Deus, tão agradável que o próprio Deus se encanta com a Virgem Maria, pois diferente de Eva, ela soube corresponder livremente à vontade de Deus. A plenitude de Graça em Maria, unida à liberdade dela, faz com que ela deseje sempre o bem, pois a docilidade que há em sua alma, faz com que ela perceba em tudo a vontade divina, e assim se realiza plenamente nela aquilo que ela se propõe a realizar: “faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Deus em sua infinita bondade cumulou a Virgem Santíssima de uma plenitude de Graça singular, plenitude essa que torna Maria cheia da presença de Deus, e por ser Cheia, nela não há espaço para o mal, a plenitude de graça a torna a criatura mais perfeita que existe.
III. “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus.” (Lc 1,36) A plenitude de Graça em Maria, faz com que nela se manifeste uma outra singularidade, que é uma plenitude de graça transbordante e constante, e é por essa plenitude de graça que a presença divina que ela possuía em si, é transbordada para fora de si, e quando essa graça transbordou, veio ao mundo o Filho de Deus. O Espírito Santo veio sobre a Virgem Maria, e a união dessas duas santidades, fez com que o Verbo se Encarnasse e viesse morar entre nós. Jesus o Filho de Deus é a graça encarnada que transborda de Maria, e como um rio de Água Viva que jorra para eternidade, Maria irriga toda terra com essa Água que transborda de si, para que o próprio Pai nos abençoasse “com toda a benção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no Céu.” (Ef 1,3) Maria é uma fonte transbordante que irriga toda a terra de forma ininterrupta. Diferente de Maria nós conseguimos ser uma fonte que jorra para eternidade somente em alguns momentos, pois em nós há uma inclinação ao mal, e essa inclinação faz com que nós interrompamos o transbordar da Graça. Por isso, o próprio Deus preparou a sua morada na terra e a preservou de todo mal, para que aquela que fosse santa e irrepreensível, pudesse trazer o autor da Santidade.
IV. Desde a antiguidade muitos santos e teólogos chamavam Maria de Pan-hagia, termo que significa Toda Santa, que originaria outro termo que é o título de Imaculada. Será muito frequente, não só no âmbito devocional, mas também no teológico, chamar Maria de Imaculada. No perpassar dos tempos muitos teólogos e santos tiveram dificuldades em dizer que Maria foi Concebida sem pecado, uma vez que tendo em vista a necessariedade do Sacrifício de Cristo para a Redenção humana, e sendo o Sacrifício de Cristo para todos, se Maria não tivesse participado da Redenção de Cristo, isso mostraria uma debilidade da obra de Redenção. Por isso, que muitos diziam que Maria era Imaculada, mas teria sido purificada num primeiro instante de sua vida, pois ela teria herdado o pecado original de seus pais, na concepção. Por muito tempo essa questão ficou sendo discutida, mas muitos tinham uma santa prudência em afirmar e negar esse dado da piedade cristã. Somente no século XIII, Duns Scotus, nos elucida a doutrina da Imaculada Conceição, e nos diz que Maria verdadeiramente participou dos Méritos da Redenção de Cristo, mas de uma forma singular, pois toda humanidade participa dos méritos da Redenção de forma liberativa, mas Maria participou de forma preservativa. Com isso, Maria no momento da sua concepção foi preservada da culpa original, e o pecado de seus pais não foi transmitido a ela, e aquela pequena semente no seio de Santana, cresceu e floresceu para ser a perfeita Serva do Senhor, para ser aquela alma dócil suficiente, para permitir que se realizasse nela segundo a Palavra de Deus.
V. “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). Deus colocou inimizade entre a serpente e Maria, e isso significa que a serpente não suporta estar perto da Mãe de Deus, e por isso também que ela é chamada Imaculada, pois se o autor do mal não pode chegar perto dela, ela não poderia ser maculada, e assim permaneceria intacta e isenta de pecado. O texto sagrado do Livro do Gênesis remete a mulher e a sua descendência, a Maria e a Jesus Cristo, e consequentemente também aos filhos de Deus. Eva se aproximou por livre vontade da serpente, Maria por livre vontade permanece e se aproxima mais ainda de Deus, Eva perdeu a sua perfeição original, Maria conservou a pureza original que o próprio Deus lhe concedeu, Eva transmitiu o seu pecado a toda sua descendência, Maria transmite a Graça aos que assumiram em Cristo, a filiação adotiva. A escolha de Maria para ser a mãe Imaculada do Filho de Deus, esmagou a cabeça, a soberba da serpente. E a serpente que achara ser a criatura mais sabia sobre a terra, foi desterrada pela humildade da Virgem Imaculada, que em si recebeu a Sabedoria Encarnada, e com isso a serpente foi humilhada, rebaixada ao pó. A serpente agora nada mais pode fazer do que ferir o calcanhar, e isso significa que a serpente agora só pode tornar os passos vacilantes para tentar nos fazer cair. Mas, quanto estamos juntos a Virgem Imaculada, o maligno não suporta tamanha humildade, e tentando se exaltar acaba sendo humilhada, enquanto a Imaculada Virgem Maria por sua auto humilhação é exaltada.
VI. Deus a fim de preparar uma Mãe digna para o seu Filho, preservou Maria da mancha do pecado original, cumulando-a com a plenitude de sua Graça. Para que ela fosse capaz de dar um corpo sem mancha ao Filho, para que ela fosse uma puríssima habitação para Cristo, preservada de todo pecado para ser a Mãe de Jesus, trouxe-nos a Salvação a nós, e essa não poderia ter vindo a nós por uma via imperfeita, por isso Deus em sua infinita bondade quis criar um meio perfeito para que àquele que é a perfeição, pudesse em sua plenitude aperfeiçoar, tornando todos aqueles unidos ao Filho, santos e irrepreensíveis no seu Amor. Dessa forma, vemos que Maria é a via perfeita para chegarmos a Cristo, o único mediador, ela foi preservada do pecado para ser a perfeitíssima formadora e educadora do Filho de Deus, e por isso precisamos dela, pois se o Pai quis contar com Maria para ser aquela que conduzisse o Filho à maturidade completa, ela também é aquela que tem a guarda sobre todos os filhos de Deus para conduzi-los à maturidade completa. Busquemos ficar bem perto de Maria, pois junto àquela que é a Imaculada, o mal não pode nos alcançar, e se o mal não nos alcança, junto dela, a sua graça transbordante pode nos santificar.
“Virgem puríssima, toda Bela, em vós mal algum pôde tocar, faz-me todo teu, para que por ti um verdadeiro filho de Deus possa me tornar.”
(Dogma declarado em 1854, Papa Pio IX, Bula Inefabillis Deus)
Padre Rafael Augusto Linhares Pinto
Sacerdote, professor, escritor
Especialista em Mariologia, Artes Sacras, Teologia Bíblica e Espiritual
A Imagem de Nossa Senhora que emerge dos Santos Evangelhos e da vida do nosso povo
Ela é toda do povo e está onde o povo está.
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