Há um ano, chamou a atenção não somente dos católicos a beatificação de Carlo Acutis, um adolescente de apenas 15 anos, nascido em Londres em 1991 e falecido em Monza, no ano de 2006, vítima de leucemia, considerado exemplo de vivência do discipulado cristão numa perfeita sintonia com a sua jovialidade em pleno século XXI.
A cerimônia da beatificação ocorreu no dia 10 de outubro de 2020, na cidade de Assis, Itália, na Basílica de São Francisco, onde está exposto seu corpo (que, devido ao bom estado de conservação, também atraiu os olhares de todo o mundo, evidenciando a santidade do jovem e as maravilhas que o Senhor opera por meio dele).
Cabe-nos, aqui, ressaltar entre as muitas virtudes de Carlo, sua piedade e devoção marianas como modelo para a Igreja, especialmente à juventude cristã.
As práticas devocionais daquele menino apaixonado por Maria expressam, na verdade, sua profunda relação e intimidade com Jesus e sua Mãe, a ponto dele afirmar: “A Virgem Maria foi a única mulher da minha vida”. Não se tratava de uma experiência alienante, mas que reconhecia o Cristo e Nossa Senhora como pessoas reais e extremamente próximas, com quem Carlo dialogava aberta e continuamente, sem titubear ou colocar obstáculos estranhos à verdadeira fé.
Sua oração era sincera e natural, parte essencial da vida. Reconhecemos nisso uma verdadeira comunhão de amor, plenificada na recitação diária do Terço, na leitura da Palavra de Deus e na participação nos sacramentos, principalmente a Eucaristia diária. Carlo dizia: “Lembre-se de recitar o Rosário todos os dias”; “O Rosário é a escada mais curta para chegar ao céu”; “Depois da Santa Eucaristia, o Santo Rosário é a arma mais poderosa para combater o demônio"; “Faça pedidos e ofereça flores ao Senhor e Nossa Senhora, a fim de ajudar os outros”.
Muitos santos (por sinal, também jovens) foram testemunhas da importância do Rosário na vida cristã e da convivência filial com Maria, sempre enfatizadas pela própria Mãe do Senhor em suas aparições. Veja-se o caso do índio Juan Diego em Guadalupe, dos pastorinhos de La Salette, Fátima e de Bernadette em Lourdes. Acerca disso, inteligente e observador, Carlo Acutis assim se expressava: “Os milagres realizados por Nossa Senhora durante suas aparições na terra podem ajudar muito a aumentar a fé de muitas pessoas. Como é possível as pessoas ignorarem os apelos que Nossa Senhora nos deixou?”
Certamente, a devoção de Carlo à Virgem Santíssima o aproximou mais de Jesus, impulsionando-o e motivando-o a praticar a caridade com os mais pobres, a amar a Igreja e a oferecer seus sofrimentos por Ela, além de colocar seu grande conhecimento em informática a serviço da difusão de milagres eucarísticos em um site que desenvolveu, a ponto dele ser considerado, hoje, “Padroeiro da Internet” e “Ciberapóstolo da Eucaristia”.
A relação de Carlo Acutis com Nossa Senhora tem reflexos, ainda, na data de sua Páscoa definitiva: 12 de outubro, dia em que se celebra Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Rainha e Padroeira do Brasil) e Nossa Senhora do Pilar (considerada a invocação mariana mais antiga da Igreja). Esse dia, inclusive, ficou definido para a Memória Litúrgica do novo beato.
Leia MaisO milagre do beato Carlo AcutisUm outro interessante fato coloca Carlo Acutis em sintonia com o Brasil e a Mãe Aparecida: o menino miraculado (favorecido com o milagre alcançado pela intercessão de Carlo e cujo reconhecimento garantiu a sua beatificação) é brasileiro: trata-se de um mato-grossense, que, ao tocar uma relíquia do jovem (justamente numa capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida no dia 12 de outubro), foi prontamente curado de uma doença congênita no pâncreas.
Certamente, o que atrai na figura de Carlo, num primeiro momento, é sua imagem juvenil: roupas modernas, cabelo desalinhado, cenários contemporâneos onde foram tirados seus retratos. Temos aí, de fato, um rapaz que evidencia o quão atual é a santidade e sempre acessível a todas as pessoas de boa vontade.
Para além do seu visual, o testemunho de Carlo Acutis é a essência de uma vida santa, seja em sua casa com a família, com os amigos, nas ruas, na escola, na igreja, na rotina simples e comum de um adolescente desta era tecnológica. Quebra-se o “estereótipo” erroneamente estabelecido na mente de muitos de que a vida santificada está restrita aos clérigos e religiosos(as), principalmente os(as) dos séculos passados. E sabemos que a devoção mariana como parte dos esforços para se conquistar os céus não é exclusiva de Carlo.
Seguindo as pegadas de Jesus e guiados por Maria, temos, no Brasil, outros adolescentes leigos que morreram (alguns martirizados) com fama de santidade, como a beata catarinense Albertina Berkenbrock; o coroinha beato Adílio Daronch; a menina cearense Benigna Cardoso da Silva, beatificada em 21 de outubro; além de outros que a piedade popular venera, como, em São Paulo, o Servo de Deus Antônio da Rocha Marmo, popularmente chamado “Antoninho Marmo”.
Maria Santíssima, “Menina que Deus amou e escolheu pra Mãe de Jesus, o Filho de Deus”, segundo canta Padre Zezinho, não se esquivou diante da cruz e, suave e forte, seguiu seu caminho segundo a vontade divina, inserida na sociedade de seu tempo. Ora, na companhia de Maria, todo seguidor de Jesus não foge da dura realidade, mas encontra forças para enfrentá-la e transformá-la à luz da Boa Nova da Redenção, na certeza de que Cristo o escolheu e destinou para dar bons frutos (cf. Jo 15,16-21). Carlo, por sua vez, não buscou fugas para as dificuldades da vida, mas ressignificou-as a partir de seu amor a Jesus Libertador.
De mãos dadas com Maria, Mãe e Mestra, o adolescente superou as dificuldades do seguimento de Jesus, o bullying e a incompreensão que sofreu por isso, e enfrentou os ventos contrários, conseguindo aproximar a própria família da Igreja. De fato, a devoção a Nossa Senhora dá o conforto, o alento e a direção para os seguidores de seu Filho permanecerem fiéis, sendo testemunhas de Cristo no mundo.
Dessa forma, o beato Carlo é um admirável modelo e intercessor para o povo de Deus, especialmente a juventude, que, além de enfrentar os desafios próprios da idade, tem de lidar, em diversas ocasiões, com o difícil ingresso no mercado de trabalho; buscar seu lugar no mundo e a realização de seus sonhos; superar os desafios de pertencer, às vezes, a uma família imersa em seríssimos problemas sociais e onde reina o desamor; buscar uma educação de qualidade e inclusiva; lutar contra a fome, as enfermidades, a guerra, a violência urbana e do campo, a exploração, a intolerância religiosa, o tráfico e os vícios em geral, o desrespeito à natureza, a alienação, as fake news, o bullying e o preconceito nas escolas, nas ruas e na internet, evidenciando que “há necessidade de artesãos de paz prontos a gerar, com inventiva e ousadia, processos de cura e de um novo encontro”, como escreve o Papa Francisco, em sua carta encíclica Fratelli Tutti, inspirado em São Francisco de Assis, a quem Carlo, igualmente, tanto amou.
Aos 15 anos, a jovem Maria de Nazaré assumiu a missão de ser Mãe do Verbo de Deus encarnado; aos 15 anos, Carlinho foi encontrar-se com Jesus e Ela, a quem tanto amou, o ajuda a prosseguir sua missão, agora como “Anjo da Juventude”.
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