"Senhor, quem morará em vossa Casa e no vosso monte santo habitará?” (Sl 14/15)
Chegando julho, entre as invocações marianas desse mês, destaca-se a VIRGEM DO CARMO ou DO MONTE CARMELO.
É interessante como existem tantos e variados títulos de Maria que fazem alusão às formações montanhosas de relevo: Nossa Senhora do Monte Carmelo; da Penha (de França); do Monte Serrat; de Montevergine (Monte Virgem); de Czestochowa (Monte Claro); do Monte Calvário; do Montenegro; da(s) Montanha(s); do Morro; do Monte simplesmente...
De fato, a Virgem Maria, sinal do Paraíso e imagem da Igreja Triunfante, escolhera muitas regiões altaneiras, mais próximas do céu, para manifestar-se e estabelecer morada em capelas, igrejas matrizes, basílicas, santuários ou monumentos ali erigidos em sua honra, aos quais seus devotos, com espírito confiante e filial, acorrem, fazendo a subida. Vem-nos à mente, aqui, a peregrinação dos muitos romeiros de ontem e de hoje que sobem, com seus veículos, a pé e até descalços ou de joelhos, colinas sagradas para entrar em comunhão com a Mãe de Deus, fazer penitência, pagar suas promessas ou suplicar uma graça a Nossa Senhora, como verificamos nos Santuários da Penha de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de Vila Velha; no Santuário da Padroeira de Minas Gerais na Serra da Piedade; no Santuário do Morro da Conceição no Recife; no monumento de Nossa Senhora do Monte Serrat em Salto-SP ou na ermida a Ela dedicada em Santos-SP e em tantos outros recintos marianos fixados em regiões elevadas pelo Brasil e o mundo.
O movimento de fazer a subida, peregrinar para o alto da montanha, é marcante na tradição de várias civilizações e culturas da Antiguidade, mas, especialmente, do povo de Deus, que, ao longo da História do Cristianismo, por toda a terra, sacralizou o cimo das serras, “plantando” ali cruzeiros, imagens monumentais e estações da Via-Sacra ou edificando templos e até cidades. O monte é símbolo da habitação do Altíssimo (Sl 23/24), lugar do encontro com o Senhor, onde, geralmente em meio à natureza virgem – obra da Criação que deve ser preservada e pela qual temos o dever de zelar – opera-se o “extraordinário” por meio de teofanias. As Escrituras estão repletas de relatos que envolvem montanhas, morros, montes, colinas ou planaltos e peregrinações a estes.
Já no Antigo Testamento, por exemplo, Abraão ascende ao Moriá para realizar o sacrifício de Isaac; Moisés sobe o Sinai para ouvir Deus e receber o Decálogo, com o qual o Senhor faz uma Aliança com seu povo escolhido. Na plenitude dos tempos, o Altíssimo envia seu Filho, Jesus, o Cristo, que, por sua vez, também realiza subidas ao monte, tal como verificamos no episódio da Transfiguração (no Tabor) ou durante o drama da Paixão, quando caminha, com a cruz às costas, ao Calvário (Gólgota, o Lugar da Caveira), onde sela a nova e definitiva Aliança, dando a vida por amor aos seus.
A Virgem Santíssima elegeu o Monte Carmelo (onde, segundo a tradição, o profeta Elias havia operado grandes feitos em nome do Senhor) para irradiar, a partir daquele lugar célebre e sagrado, uma nova devoção mariana, hoje conhecidíssima entre nós: Nossa Senhora do Carmo. Por inspiração divina, no século XI, os primeiros carmelitas, seguindo um modelo de vida eremítica estabeleceram-se ali e ergueram uma capela dedicada à Mãe do Senhor. Já o escapulário, atualmente tão popular e querido entre os cristãos do mundo todo, foi entregue por Nossa Senhora ao superior dos carmelitas, São Simão Stock, em 16 de julho de 1251, como sinal da proteção e intercessão da Virgem do Carmo contra os inimigos e na busca pela salvação.
Nossa Senhora do Carmo, como boa Mãe do Céu, à medida que nos diz: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5), educa-nos no seguimento de Jesus, ensinando-nos a ir ao seu encontro por meio de uma vida pautada na caridade, na justiça e na superação do pecado, de acordo com a Boa Nova da Libertação. Jesus Cristo, o Filho de Maria, por sua vez, se nos apresenta como “Pão Vivo descido do céu” (cf. Jo 6,51), “Pão da Vida” (cf. Jo 6,48), “Fonte de Água Viva” (cf. Jo 4,14), “Porta” (cf. Jo 10,9), “Bom Pastor” (cf. Jo 10,11), “Caminho, Verdade e Vida” (cf. Jo 14,6), “Ressurreição e Vida” (cf. Jo 11,25), dentre outras denominações. Ora, assim, podemos também fazer uma analogia de Cristo, nosso Mediador por excelência, com o “monte”, que nos coloca em comunhão e proximidade com o Pai, que está nos céus: Cristo, de fato, é o Monte, o Morro, a Montanha!
Nesse sentido, para o devoto de Nossa Senhora do Carmo, o Monte Carmelo deve ser compreendido como símbolo do Cristo, Rocha firme e Salvação (Sl 62/61), Pedra Angular da Igreja (Sl 117), Ápice e Cume de nossa fé, O qual almejamos alcançar na difícil escalada da vida, de mãos dadas com Maria, nossa Mãezinha. E ainda que a subida se faça laboriosa, ainda que a cruz nos pese às costas, tomados pelas mãos por Nossa Senhora, o desânimo, a dor e a fadiga não prevalecerão, tal como nos recorda, tão belamente, Irmã Miria T. Kolling neste hino que compôs à Virgem do Carmelo:
“Na mão da Mãe não se cansa / quem quer a montanha escalar. / E por Ti, chegaremos ao Monte-Jesus, / nossa Vida, Céu e Luz!”
Leonardo C. de Almeida
Associado da Academia Marial de Aparecida
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