Muito já se discutiu, e ainda se discute, em relação ao termo "mulher" usado em alguns momentos por Jesus quando se dirige à sua Mãe. É importante perceber, que não se trata de um termo depreciativo de trato da parte de Jesus para com a sua mãe, mas sim de um termo apreciativo, pois, se refere à perfeição da primeira Mãe, à plenitude de "ser mulher" que Eva possuía no Paraíso antes da desobediência. No "princípio" Deus idealiza um projeto de harmonia ao criar o homem e a mulher. Essa harmonia está precisamente na igualdade da criação de ambos: "Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou" (Gn 1,27). Deus vê que tudo que Ele criou é muito bom. Mas entende que: "Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2,18) e por isso cria a "mulher" a partir da costela de Adão o que os coloca no projeto da criação em pé de igualdade. Criar a mulher a partir da costela é um símbolo de igualdade, pois, retirada a partir do lado do tronco de Adão, ambos, não assumem no trabalho criacionista de Deus um grau de inferioridade e nem mesmo de superioridade. Adão reconhece essa igualdade a partir de sua conscientização: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn 2,23). Homem e Mulher criados cada qual com suas devidas particularidades e dignidade, o que permite que se completem em suas necessidades. "O homem deu à sua mulher o nome de Eva, porque ela seria a mãe de todos os viventes." (Gn 3,20). É essa "mãe de todos os viventes" que levará a sua descendência a uma condenação eterna ao obedecer a antiga serpente o inimigo de seu Criador. Sobre este tentador recairá a maldição divina travando assim uma luta implacável entre o bem e o mal. A maldição se instala entre a "descendência" da serpente, ou seja, os pecadores e "descendência" da mulher o que nos remete a humanidade justa. Ao passo que em Cristo vamos contemplar o "Novo Adão" que irá redimir com seu sangue a humanidade decaída, contemplamos na pessoa de sua Mãe a "Nova Eva", a mãe dos que revivem em Cristo. Eva foi criada para ser a mãe dos viventes, ao pecar traz à sua descendência a condenação. Maria, possui a mesma condição de perfeição que Eva possuía, torna-se assim a Mãe daqueles que em Cristo revivem para uma vida nova, torna-se a Mãe do corpo místico de Cristo. Ao ser chamada de "Mulher" por seu filho nas Bodas de Caná (Jo 2,1s), Maria evoca a figura da mulher resgatada na sua dignidade primeira que tem como vocação feminina de sua condição cultural introduzir os filhos na sociedade como educadora da descendência. A Mulher "Maria" introduz seu Filho na vida pública da sociedade de seu tempo e abre para nós um caminho para a Eternidade junto de Deus.Leia MaisA Noiva de Caná
Ao dirigir-se a sua Mãe como "Mulher" aos pés da cruz: Jesus enaltece a mulher que agora será capaz de introduzir na vida pública os Discípulos e a Igreja para o testemunhar. O termo mulher remete a Eva, mãe dos viventes, que Cristo usa agora para com a sua Mãe que torna-se, junto ao madeiro, a Mãe da nova criação. O Vaticano II apresentou e concluiu tudo o que de seguro e universal pode ser dito e sentido sobre a missão histórica da "sócia generosa do Redentor", sobre o valor de sua colaboração, sobre os elementos formais que a caracterizaram. O destaque dado ao elemento antropológico expresso por Maria, a interpretação crítica e exegética sobre os textos bíblicos marianos e sobre os patrísticos e magisteriais, o cuidado ecumênico com que foi tratada toda a questão mariana fizeram que o capítulo VIII da Lumen Gentium enunciasse uma doutrina clara, segura, profunda, sobre a cooperação humana expressa pela sócia do Redentor em face do resgate do homem. É claro que o objetivo do Vaticano II não foi tanto de caráter dogmático, porém de preferência pastoral. Isso significa que a sua doutrina deve ser entendida como um incentivo para que a Igreja olhe Maria não como um ser particular distante de todos os outros seres humanos, mas como seu modelo específico. Se, de fato, Maria foi chamada para colaborar com Cristo na aquisição da graça, a Igreja é chamada para perpetuar essa cooperação na aplicação dos frutos da Redenção a todos os homens. A Igreja deve, portanto, olhar para Maria como seu modelo operante.
Por Vinícius Aparecido de Lima Oliveira
Associado da Academia Marial
Bibliografia
Pinto, Rafael Augusto Linhares - Compêndio de Mariologia - Cultor de Livros, São Paulo 2018
Ravasi, Gianfranco. Os Rostos de Maria na Bíblia - Paulus.
Del Gaudio, Daniela - Breve tratado de Mariologia - Paulus, 1° Edição - 2016
Dicionário de Mariologia - Paulus - Páginas 981-982
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