No início do século XX, próximo a um antigo vilarejo chamado popularmente de Feira do Pau que divide os estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, uma família de descendência afro-brasileira cultuava uma singela imagem da Virgem Mãe de Deus.
Era a Imagem de Nossa Senhora Aparecida numa época pós-abolição dominada pelo racismo e pela exploração do trabalho negro.
Essa família de nome popular “Cupira” morava nas terras do Sítio Alívio, na parte próxima ao vilarejo pertencente ao Rio Grande do Norte.
Sua casa era a casa de Nossa Senhora, abrigava a imagem e recebia seus devotos das localidades em torno do sítio.
Lá ao redor da pequena e primitiva imagem, faziam suas orações e novenas e encontravam na devoção a uma Virgem Negra a força para lutar contra o preconceito.
A devoção cresceu e a Virgem precisou de uma casa própria para receber os seus filhos e devotos. No ano de 1922 o então vigário da paróquia paraibana de São João do Rio do Peixe, o padre Joaquim Cirilo de Sá, construiu uma pequena capela para Nossa Senhora Aparecida em um terreno doado pela família dos Valdivinos e por dois italianos que doaram terras suficientes para a constituição do patrimônio da capela, onde mais tarde muitas pessoas construiriam suas casas povoando a antiga vila.
A capela foi palco de significativos movimentos históricos, como a passagem da Coluna Prestes em 5 de fevereiro de 1926. Na vila histórica de Feira do Pau, um grupo de 100 rebeldes roubou o dinheiro do posto fiscal da divisa entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba e retiraram os selos, que depois deixaram no telégrafo e foram encaminhados legalmente, fato registrado pelos estudiosos potiguares Raimundo Nonato e Rostand Medeiros.
Ocorreu também o movimento armado contra a posse do governo do Rio Grande do Norte Rafael Fernandes chefiado pela Major Baltazar Meireles, em 30 de outubro de 1935 com depredações na vila de Aparecida , fato presente nas memórias do jornalista Gaudêncio Torquato. A primitiva capela foi testemunha dos acontecimentos políticos e revolucionários da história do Brasil.
Como símbolo resistente da história e da fé, passou por algumas modificações, como em 1931, após uma forte chuva que derrubou o seu telhado, o padre Sá juntamente com as pessoas da comunidade reconstruíram o teto e construíram também o patamar. Neste ano aconteceu a primeira festa de Nossa Senhora Aparecida como padroeira da vila.
A devoção cresceu e o antigo nome de Feira do Pau, devido ao lugar ser conhecido por brigas e conflitos, deu lugar a Vila Aparecida pelo novo sentido que a devoção revestiu o cotidiano do lugar. Em 1955, uma nova e maior imagem de Nossa Senhora Aparecida foi doada à capela pela senhora Luíza Pinto, conhecida como Dona Lulu, proprietária de uma fazenda que originou parte da vila. Mas por sua cor negra, a imagem foi rejeitada pela população local, segundo os mais velhos como a senhora Maria Ferreira, conhecida como Maria Pequena, antiga zeladora da capela e a senhora Lourdes Pereira, as pessoas não queriam “rezar para uma negra desta” e nem “fazer promessa para uma negra”, explicou as senhoras, citando a fala das pessoas.
Este fato nos lembra o pensamento de Frantz Fanon em seu livro 'Pele negra, máscaras brancas' sobre os conflitos psicológicos que passam os negros na elaboração de sua identidade, em relação aos referenciais do branco e o pensamento de Paul Giroy em sua obra 'O Atlântico Negro', ao afirmar que as culturas dos povos negros são indissociáveis dos traumas do tráfico negreiro, da escravidão e do racismo.
Com o tempo, a simbologia da Imagem venceu o preconceito e a devoção à Virgem Negra se tornou signo de resistência e de fé dos povos negros e o resgate histórico de uma das mais antigas capelas de Nossa Senhora Aparecida no Brasil.
O encontro da Imagem de Aparecida no Rio Paraíba nos dá força na luta contra o preconceito, a intolerância religiosa e reaviva a fé na intercessão da Mãe de Deus. Ela está presente em cada momento da história dos seus filhos, nas lutas por libertação e superação, símbolo da diversidade cultural na religiosidade e na identidade cultural brasileira.
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