Título Oficial: Nossa Senhora da Conceição de Luján
Padroeira: Argentina
Festa: 08 de Maio
A nossa viagem pela Fé e a Devoção Mariana na América Latina se inicia na terra do primeiro Papa latino-americano. A Argentina, terra do Sumo Pontífice, o Papa Francisco, guarda uma especial devoção para com a Mãe de Deus. Na Argentina a devoção mariana remonta aos seus colonizadores, no início do século XVI. Diz à tradição que nas guerras da independência os conquistadores e generais não saíam para as batalhas sem antes pedir com seus soldados a proteção da Virgem Maria¹.
Descendo pela extensa costa atlântica da América do Sul, se encontra o caudaloso rio da Prata, às margens do qual está Buenos Aires, capital da Argentina, a terra dos pampas e dos altivos gaúchos. Partindo dessa metrópole e viajando cerca de 70 quilômetros a oeste, chega-se a uma pitoresca cidadezinha que se formou em torno do mais importante santuário mariano do país².
A devoção a Nossa Senhora de Luján, padroeira oficial da Argentina, teve início a partir de uma encomenda de uma imagem da Virgem Maria feita pelo português Antonio Farias de Sá, que era fazendeiro de Sumampa no território de Córdoba do Tucumán (atual Córdoba). Sá encomendou a um compatriota dele, residente em Pernambuco (Brasil), uma imagem da Virgem Maria em dedicação ao mistério da Imaculada Conceição a ser exposta à veneração na capela que ele estava construindo em sua estada do pagamento de Sumampa (Santiago del Estero)³.
Antonio Farias, sobre quem não há muitas informações adicionais, era, muito provavelmente, um desses personagens da “diáspora” portuguesa espalhados pela América espanhola. O fenômeno da presença marcante de portugueses na América sob domínio de Espanha é nitidamente anterior ao período da União Ibérica (1580-1640), como bem demonstra a presença de inúmeros deles entre as tripulações dos navios castelhanos e entre os contingentes de conquistadores e povoadores ao longo de praticamente todo o século XVI4. Conforme relatos históricos foram enviados do Brasil pelo amigo a Antonio Farias de Sá duas imagens da Virgem Maria. Uma das imagens seguia os padrões da encomenda, sendo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que vai ficar conhecida após os acontecimentos à beira do Rio Luján de “Pura y limpia Concepcion de Luján”.
A outra, conhecida como Virgem de Sumampa, é uma representação de Nossa Senhora da Consolação, com o menino Jesus nos braços. É menor que a de Luján, pois mede 23 centímetros. Na imagem, a Virgem senta-se sobre uma banqueta apoiada em um pequeno monte5. Trazidas por um marinheiro lusitano de nome Andrea Juan, na embarcação San Andrés (…) no ano de 1630, por volta do mês de maio, duas imagens em terracota da Virgem Maria — uma de Nossa Senhora da Conceição e outra de Nossa Senhora da Consolação — desembarcaram no porto de Buenos Aires.
As imagens teriam ficado retidas, como parte de um carregamento de contrabando, na Real Audiência da cidade platina. Além de outras cargas, fazia companhia às imagens um negro escravo de nome Manoel, também ele, muito provavelmente, clandestino e retido como carga ilegal. Depois do pagamento da fiança feito pelo rico proprietário de estâncias Don Rosendo de Oramas, Andrea Juan, a carga e o escravo embarcaram numa longa viagem terrestre, nas carretas que percorriam o Camino Viejo para Potosí e que passavam pela província de Tucumã.
Depois de dois dias de viagem, a caravana parou nas terras de Rosendo, nas cercanias de Luján, para o pouso rotineiro. No dia seguinte, ao tentar retomar a viagem, a carreta não se moveu. Tudo se tentou, mas foi inútil. Algumas mercadorias eram descarregadas para aliviar o peso e nada dos bois retomarem seu caminho. Somente quando a caixa que continha uma das santas foi desembarcada é que finalmente a carreta se deslocou. Testou-se, sob o olhar incrédulo dos presentes, recolocar a caixa e novamente a carreta estancou. Retirou-se e ela andou. Ficou claro a todos que a imagem da Virgem — a da Conceição — queria ali permanecer.
Desembarcada a imagem, que coincidentemente ficou nas terras dos Rosendo sob os providenciais cuidados do negro Manoel, a caravana retomou seu rumo até Córdoba, onde parte das mercadorias foi colocada sobre os lombos de algumas mulas para o seguimento da viagem6. Os desígnios de Deus cruzaram os caminhos da Virgem da Conceição de Luján e do Negro Manuel. Manuel chegou ao Rio da Prata como parte de um lote de escravos africanos, provenientes do estado de Pernambuco, no Brasil, para ser comercializado em Buenos Aires.
Ao ser batizado em Cabo Verde, recebeu o nome de cristão, Manuel e esse nome juntou-se o lugar de nascimento, como era costume na época: Manuel Costa dos Rios. Seu senhor era o capitão Bernabé Gonzáles Filiano Oramas que o vendeu e o converteu em propriedade exclusiva da Virgem de Luján, a cujo serviço continuou na Vila de Luján, ao longo de 56 anos, até quando morreu, em finais de 1686. Por este motivo, o Negro Manuel sempre se considerou “Ser da Virgem e de mais ninguém” e por isso ele a invocava constantemente como sua “Dona” e “Senhora”. Ele foi sempre uma manifestação viva de seu terno amor para com a Virgem Imaculada, sempre devorado de um santo zelo para procurar sua maior glória, através do fiel ministério de servi-la na condição de humilde sacristão7.
Em Sumampa, próximo a Santiago del Estero, a mula que levava em seu lombo o peso leve da segunda Virgem e se dirigia às terras de Sá desgarrou-se do comboio e caminhou sozinha até a uma localidade onde empacou. De novo, não havia maneira de mover o animal. A vontade da Virgem — agora a da Consolação — impôs-se novamente, e ali mesmo ela ficou. Farias de Sá, resignado, mandou construir uma capela naquele local, de taipa e palha, o que foi feito, segundo as crônicas religiosas, por índios Abipones evangelizados. A pequena igreja, depois melhorada, ainda está de pé, abrigando a imagem da padroeira de Santiago del Estero e dos viajantes, a Virgem de Sumampa.
Quanto à imagem estacionada em Luján, essa teve um destino ainda mais glorioso. Conhecida como Virgen estanciera ou Patroncita morena, ganhou uma primeira ermida, pobrezinha, nas terras de Rosendo, na margem esquerda do rio Luján, em 1633. O lugar se tornou ponto de devoção. Em 1674, uma rica estancieira viúva, de nome Ana de Matos, desejou transladar a imagem até suas terras, na margem direita do mesmo rio Luján e convenceu os herdeiros das vantagens.
Ana prometia a construção de uma capela e uma infraestrutura para o acolhimento dos peregrinos. Translado feito, no dia seguinte a imagem reapareceu na velha ermida, sob os cuidados do sempre zeloso escravo Manoel, agora já idoso. Somente com a bênção do bispo e com uma procissão oficial, acompanhada pelo mesmo Manoel, a imagem aceitou se aquietar na sua nova morada. De capela o lugar cresceu, virou centro de romaria, ganhou basílica e, em 1930, o papa Pio XI declarou a “pura y limpia Concepcion de Luján” como a padroeira da Argentina (...).8
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Referências:
Jornada da Esperança, o caminhar do Ano Litúrgico com a Virgem Maria
Jornada da Esperança: Compreender a presença da Virgem Maria na história da Salvação por meio do Ano Litúrgico,uma série de conteúdos formativos em audiovisual, totalmente gratuita e disponível na plataforma YouTube de modo permanente.
Aprofundamento das Sagradas Escrituras: Um convite para uma Igreja mais Bíblica
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Ela é toda do povo e está onde o povo está.
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