POR TI, SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Por ti, Senhora, quisera possuir o dom da pintura e que minhas mãos por vezes tão profanas, passassem a ser apenas o conduto das vontades espirituais com o mundo exterior.

E ao executar em telas tua imagem, em mística atmosfera como Senhora do Azul; ao representar as constelações e seres celestiais ao teu redor, ao contemplar a obra em seu término, constataria que para isso, para toda essa explosão de luzes e cores, a mim, havias emprestado as ternuras de um sorriso, e logo, minha mãos já não seriam profanas, mas um magnificat onde tela, tinta e pincel contribuíram como persuasivos instrumentos para o homem, cuja alma e credo residem unicamente no olhar.

Por ti, Senhora, se talento tivera, plasmaria em mármore a verdade de tua CONCEIÇÃO IMACULADA, e, por uma notável inspiração, poria especial realce na linguagem de tuas mãos. Dessa suave linguagem de mãos sobre o peito que somente a piedade entende e o fervor apregoa, a simples intenção de pedir pelas infinitas dádivas, nada mais que corações, na bem-aventurança de um sim.

Se o dom de trazer coração em cinzéis eu tivera, quem, tão cético, Senhora, não compreenderia esse mistério da fé, pois se em teu terrestre caminhar, a imaculabilidade foi manifestada, quando na falta de boa vontade, sempre houve a teu dispor, anjos e estrelas e divina graça?

Por ti, para teu louvor, também quisera atingir os altos voos da música. Mas não tão alto chegasse, que a vaidade, - soberana Babel no espírito - fizesse acreditar, ter sozinha, cruzado oceanos e dominado espaços e atingido sonhados horizontes. Nunca mais altos fossem os voos, a esquecer que mesmo as magistrais águias, se sobre os mares, rogam as salvadoras bênçãos de ilhas e rochedos para um calmo repousar...

Sim, tudo isso quisera por ti, Senhora! Mas tenho somente tinta e papel e demais seria, o sonhar com a posse dos ilimitados recursos dos grandes intelectos para que o sentimento pudesse transpirar, vitorioso, através de palavras.

Tenho comigo a devoção. E não essa quarta potência da arte reservada à poesia, para como nenhuma outra, saber colher com maestria as preciosas porém escondidas palavras de imaginação, como são colhidas as pérolas das fecundidades oceânicas.

Aqui, ao pé do altar do templo, sob a invocação da Imaculada... Aqui, houve privilegiadas mãos, pintando em afrescos constelações, anjos e excelsa atmosfera; e houve quem, em admirável inspiração, esculpiu imagem e conjunto de símbolos dizendo da Bem-Aventurada Mulher que em benefício da humanidade, mudou o nome de Eva para Maria.

Aqui, dos teclados, dos sábios teclados de órgão, sempre alçaram voo, magistrais sons com intima convicção da existência de Alguém superlativo a reger as sinfonias do universo. Desse universo, só bendito, porque virginais pés não permitem sobre ele o toque e as desarmonias do maligno...

Diante de ti estou. Porque faço parte do povo amazonense, de um especial povo, pois contigo fez um tratado de amizade secular, quando eleita Santíssima Senhora da Guarda do Amazonas; faço parte de um clã com a esperança de tua contínua presença ao consagrar seu principal templo à Imaculada Conceição; pertenço aventuradamente a ele, o qual atravessando difíceis momentos ou terrenas injustiças é sabedor de que a fé - à tua imagem - sendo rosa, sempre conviverá com espinhos e que seu miraculoso poder consiste em continuamente exibir pétalas sem ferida alguma.

Por isso diante de ti, Senhora, carrego apenas a fé e não quero outros dons. Bastará esse titã da religião, síntese de todos os outros, capaz de verbalizar em breves instantes, os silêncios de sacras estátuas.

Não mais quero outros dons, pois quando a crença incitou um povo a louvar a plenitude de tua Graça, neste feliz instante, tiraste os olhos do Céu e passaste a emprestar à Terra, as ternuras, as sublimes ternuras de teu olhar...

CARMEN NOVOA SILVA é membro da Academia Amazonense de Letras e da Academia Marial de Aparecida
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