Por Pe. Leo Pessini (in memoriam) Em Igreja

A necessidade e a importância dos cuidados paliativos

A prestigiosa revista sobre economia mundial, Economist, publicou recentemente (7/10/2015) o chamado “O Index de qualidade de morte 2015”, estudo e pesquisa patrocinado pela Fundação Lien de Singapura, que faz uma radiografia em 80 países a respeito da existência ou não de programas de cuidados paliativos.

Cuidados Paliativos

O Reino Unido ocupa o primeiro lugar neste ranking de 80 países analisado, sendo que o Brasil, longe disso, ocupa a vergonhosa e delicada posição no. 42 neste universo de 80 países. Temos pela frente muito o que fazer para integrar esta filosofia de cuidados no nosso sistema público de saúde (SUS), formar profissionais especializados, criar programas de educação específicos, integrar esta temática na formação dos futuros profissionais da saúde e conscientizar a população em geral a respeito de sua necessidade e importância. É isto que existe nos países que lideram o ranking de cuidados paliativos no mundo.

O que entender por cuidados paliativos (CP)? O que isto significa? A maioria dos profissionais da saúde me nosso país, sem falar do público em geral, praticamente desconhece o que significa, não sabe da existência de programas e serviços de cuidados paliativos e, quando ouve algo sobre uma ação ou medida paliativa, o entendimento vai no sentido de que se trata de uma ação ou medida que na verdade não resolve um determinado problema ou desafio, mas apenas “coloca panos quentes” e a realidade permanece inalterada. Felizmente este horizonte de visão e compreensão está mudando com o surgimento de publicações pioneiras sobre o assunto em português.

O termo “paliativo” deriva do vocábulo latino pallium, que significa manta ou coberta. Assim quando a causa não pode ser curada, os sintomas são “tapados” ou “cobertos” com tratamentos específicos, por exemplo, analgésicos. Em inglês Palliare, pode ser traduzido por aliviar, mitigar, suavizar. Refere-se ao voc[abulo care (cuidar) em vez de cure (cura) segundo os pioneiros ingleses. No Dicionário Aurélio Paliativo. Adj. 1) que serve para paliar; 2) Terap. Que serve para acalmar, atenuar ou aliviar momentaneamente um mal. S.m. 3. Qualquer tratamento que apenas fornece alívio, de duração variável, a um doente.

A definição de CP evoluiu ao longo dos anos, na medida em que o campo foi se desenvolvendo em vários países. Os CP foram definidos tendo como referência, não um órgão, idade, tipo de doença ou patologia, mas antes tendo como referência uma avaliação de um provável diagnóstico e em relação às necessidades especiais da pessoa doente e sua família. Tradicionalmente, os CP eram vistos como sendo aplicáveis exclusivamente no momento da morte iminente.

Em 2002, a Organização Mundial de Saúde definiu CP como sendo “uma abordagem que aprimora a qualidade de vida, dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual”.

Os valores fundamentais dos cuidados paliativos são os seguintes:

a) valorizam o atingir e manter o controle um nível ótimo de dor e administração dos sintomas. b) afirmam a vida e encaram o morrer como um processo normal. c) não apressam e nem adiam a morte. d) integram aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados do paciente. e) oferecem um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte. f) ajudam a família em lidar com a doença do paciente e no luto. A família e o paciente constituem uma única unidade de cuidados. g) A abordagem de cuidado é inter e multidisciplinar (equipe terapêutica) h) visam aprimorar a qualidade de vida. i) podem ser aplicados no estágio inicial da doença, concomitantemente com as modificações da doença e terapias que prolongam a vida.

 

O cuidado os familiares é um dos aspectos mais importantes do cuidado global dos pacientes internados nas UTIs.

Um outro aspecto ético e humano de grande impacto nas relações e interações humanas e profissionais é considerar o paciente e família como uma única unidade de cuidados. O cuidado os familiares é um dos aspectos mais importantes do cuidado global dos pacientes internados nas UTIs. Este cuidado é um dos pilares do cuidado humanizado. Existe a necessidade humana de se ficar perto do paciente e também de ser informado adequadamente sobre a evolução do estado de saúde do paciente. O cuidado da família ainda merece o respeito necessário, no âmbito assistencial e nem no processo formativo dos profissionais.

Quando alguém diz que não tem mais nada que fazer perante uma doença crônico-degenerativa, incurável, ou terminal, na verdade é uma mentira. Não se tem nada a fazer na linha de investimentos terapêuticos que visem a cura. Isto somente prolongaria um processo peno de sofrimento e morte (seria a prática da distanásia). Tem tudo a que se fazer na linha de cuidados, e aqui é que entram os Cuidados Paliativos. Cuida-se da pessoa no seu todo, nas suas necessidades físicas, sociais, psíquicas e espirituais. Neste sentido o cuidado sempre deve estar presente, mesmo quando a cura não seja mais possível. Caso contrário estaríamos abandonando a pessoa doente no momento mais crítico de sua existência.

assinatura padre leo pessini

Escrito por
Pe. Léo Pessini Currículo - Aquivo Pessoal (Arquivo Pessoal)
Pe. Leo Pessini (in memoriam)

Professor, Pós doutorado em Bioética no Instituto de Bioética James Drane, da Universidade de Edinboro, Pensilvânia, USA, 2013-2014. Conferencista internacional com inúmeras obras publicadas no Brasil e no exterior. É religioso camiliano e atual Superior Geral dos Camilianos.

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