O que dizer ao doente, quando estamos frente a um diagnóstico e/ou prognóstico difícil? Esta é uma das questões éticas, mais delicadas e difíceis que os profissionais da saúde e familiares enfrentam hoje.
Num passado não muito distante, a mentalidade cultural defendia a crença de que quanto menos o paciente soubesse a respeito de seu estado de saúde, melhores seriam as chances de recuperação. Em muitas situações, mesmo frente à morte inevitável e iminente, os médicos não comunicariam nada a respeito, temendo que tal comunicação e conhecimento pudesse levar a pessoa a depressão e ao desespero.
Com o crescente despertar dos direitos dos pacientes, entre os quais o direito de saber a verdade, que realça o seu protagonismo e autonomia, existe hoje uma tendência crescente para que se adote uma postura aberta, honesta e verdadeira, ao se revelar as condições de saúde do paciente.
A comunicação de uma verdade em que está em jogo a própria vida, exige delicadeza e respeito pela condição do paciente. Pesquisas nos informam que a depressão em pacientes, que geralmente ocorre após o diagnóstico de uma doença fatal, tem como causa em grande parte a famosa “conspiração do silêncio”.
Ninguém fala nada ao paciente, sobre sua real condição, ou então, quando questionados pelo paciente, simplesmente mentem, alimentando uma ilusão do tipo “não preocupe não, você está melhorando”, “fique tranqüila, no final tudo vai dar certo”.
Não temos o direito de tirar a esperança de ninguém, mas igualmente não podemos acrescentar ilusões. As práticas de mentir e enganar, geralmente são desastrosas, fazem mais mal que bem. O paciente necessita de esperança sim, mas não pede para ser enganado.
O médico será de grande ajuda, se simplesmente se colocar à disposição do paciente para esclarecer as dúvidas e dialogar. O Código Brasileiro de Ética Médica de 2010 no seu art. 34 diz que é vedado ao médico “Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal”. O que ocorre no entanto é que geralmente a praxe médica brasileira, comunica somente aos familiares.
A decisão de se comunicar um prognóstico grave, que pode ser ética em si mesma, pode tornar-se anti-ética, se o médico ao comunicar a situação ao paciente abruptamente, se afasta sem oferecer nenhum apoio emocional.
A certeza de que o médico acompanha o doente, bem como sua disponibilidade, pode ser mais importante do que a má notícia em si. Em muitos dos chamados casos difíceis em que por vezes se “justificaria” ocultar a verdade, a falsa compaixão pode ser o que produz maiores danos do que a comunicação sincera da verdade.
Em suma, a questão ética, no que diz respeito a comunicar a verdade ao paciente, mudou. Não é mais “se devemos ou não comunicar”, mas antes “como” vamos partilhar esta informação. Neste sentido faz-se necessário levar em conta, a condição psicológica do doente, os valores familiares, culturais e religiosos.
A nossa tendência é de decidir pelo paciente (paternalismo) que é melhor para ele, como se pelo fato de estar doente, tivesse perdido o uso da razão e se infantilizado. É necessário parar e perguntar respeitosamente o que ele quer saber. É mais fácil decidir por ele do que com ele, mas certamente o que é mais fácil não é a melhor postura. Em muitos casos, a verdade por mais dura que seja é o melhor presente e gesto de amor que podemos comunicar.
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