A empresária Alessandra Sitolini estava grávida de seis meses do primeiro filho, quando presenciou uma mãe abandonando o filho logo após o parto. Na época, trabalhava como instrumentadora cirúrgica num hospital.
O fato trouxe à tona um desejo que havia dentro dela já há bastante tempo: adotar uma criança. “Eu queria muito ficar com aquele nenê e meu marido me apoiava. Depois disso, a ideia não saiu mais dos nossos corações. Mas na verdade, tenho essa vontade desde criança”, conta.
Contudo, a adoção não aconteceu naquele momento. O casal teve dois filhos e só depois tomou uma decisão. “Dissemos um ao outro: o próximo vem pronto, não queremos mais filhos de gestação biológica, só adotado”, recorda. Quando o filho mais novo, Samuel, completou dois anos, o casal deu entrada no fórum da cidade e iniciou o processo de adoção.
Foto de: Hudson Matos
Assim como Alessandra, milhares de mulheres esperam nas filas de adoção a oportunidade de ser mães. A grande maioria decide adotar pelo fato de não poder gerar filhos.
Buscando incentivar no país a prática de adotar crianças, no próximo dia 25, comemora-se no Brasil o Dia Nacional da Adoção. Contudo, ao contrário do que se imagina, o número de pretendentes é muito superior ao de crianças disponíveis para adoção. Segundo dados de 2012 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem 28.114 pretendentes listados no Cadastro Nacional de Adoção e apenas 5.284 crianças e adolescentes às espera de uma nova família.
O que trava a fila são as exigências dos pais. Quase 33% dos pretendentes só aceitam adotar meninas. Mais de 34%, só querem crianças de cor branca. Os que aceitam adotar irmãos não chegam a 20%. Mais de 92% não aceitam crianças acima de 6 anos nem adolescentes. Com isso, a fila anda devagar, pois não há um número suficiente de crianças para atender aos pretendentes.
Há ainda o caso de crianças que apresentam problema de saúde ou algum tipo de deficiência. Atualmente cerca de 1200 estão nessa situação, muitas consideradas inadotáveis. Era o caso de Leandro Sitolini, hoje com 15 anos de idade. No orfanato, todos diziam que ele não sobreviveria muito tempo, pois não conseguia se alimentar e era muito doente.
Apesar das advertências, Alessandra e o marido, Elvio Cano, decidiram adotá-lo mesmo assim. Para a surpresa de todos, Leandro não tinha doença alguma. “O que faltava era amor, carinho, atenção. Logo que o trouxemos para casa, ele chorava muito. Então o levamos para fazer exames, fomos cuidando dele e, aos poucos, foi se alimentando normalmente e hoje é um menino bom, inteligente e bonito. Se ele tinha alguma doença, foi curado pelo amor”, relata.
Em fevereiro, uma nova lei, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, altera o Estatuto da Criança e do Adolescente, que agora determina que a tramitação dos processos de adoção de crianças e adolescentes especiais tenham prioridade. No Brasil, 125 grupos de adoção trabalham ajudando pais que adotaram filhos especiais a aprender a lidar com as necessidades deles.
O processo de adoção de Leandro durou nove meses. Para Alessandra, a espera é chata, tensa e desagradável. Contudo, ela reconhece a necessidade de passar por isso. “Para qualquer tipo de maternidade é necessário gestar no coração. Realmente o casal precisa desse tempo de espera, do olhar de outros sobre nós, e também do casal olhar para dentro de si mesmo, para dentro da própria relação. Essa experiência amadurece, dá confiança e, quando a criança chega, você já a ama tanto que não sabe como pôde viver até ali sem essa pessoa”, argumenta.
Segundo Alessandra, a maior dificuldade para se conseguir adotar um filho no Brasil é a burocracia. “A justiça da infância e juventude no Brasil está muito atrasada e muito vagarosa. Isso judia demais, tanto dos pais quanto das crianças, que poderiam ir mais cedo para um lar”, conclui.
Medos
Um dos grandes tabus é o medo de contar à criança que ela é adotada. Para não demonstrar preferências, muitos pais preferem esconder a verdade. Há casos em que os filhos chegam à idade adulta sem saber que são adotados. O cinema já retratou esse drama em diversos filmes. Recentemente, no filme Thor (Marvel Comics), o irmão do herói, Loki, revolta-se contra o pai ao conhecer sua verdadeira origem.
Na vida real, casos assim também acontecem. Por isso Alessandra defende que se diga a verdade desde cedo. “Nunca se deve mentir ou esconder a história da criança. Isso nunca deve existir, pois acaba com qualquer relação entre pais e filho”, adverte.
E ela não perdeu tempo. “Desde a primeira noite, eu, meu marido e as crianças, rezávamos juntos e contávamos como ele chegou até nós e o quanto era importante. Desde que era bebê, todos conhecem a linda história dele”, recorda.
Outro medo que muitos pais adotivos têm é de que, ao crescer, o filho queria conhecer os pais biológicos. “Ele ainda não demonstrou interesse. Esperamos estar preparados para que, caso ele queira, possamos ajudá-lo a encontrar essas pessoas que nos deram o maior presente que alguém pode dar: um filho”, afirma.
Para quem pensa em adotar, Alessandra tem um conselho. “Adote primeiramente no coração, depois na cabeça e, por último de fato. Assim você vai ser muito feliz. Nunca se sinta uma pessoa melhor por isso, como se estivesse fazendo um favor à sociedade, senão você acaba com própria vida e com a da criança. Não há diferença entre ser mãe biológica e mãe adotiva. Desde que não nos deixemos levar por modismos ou por simples comoção. É preciso encarar a adoção como um amor único é incondicional”, conclui.
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