Passo após passo, o Filho de Deus desce às circunstâncias mais frágeis da vida humana: tendo assumido nossa carne, submete-se a preceitos religiosos, vive como refugiado em terra estrangeira e identifica-se com aqueles que, ao redor de João Batista, anseiam pela chegada do reino de Deus. Em suas últimas horas, em queda livre, faz-se servo dos seus discípulos lavando seus pés, deixa-se trair, abandonar, prender e condenar à morte.
“Tudo está consumado” (Jo 19,30): envolvido num lençol branco, o corpo nu, rígido e frio de Jesus é sepultado. Ele desceu ao Xeol, “aos lugares mais baixos da terra” (Ef 4,9). Lá, no ventre da morte, encontrou a humanidade prisioneira dessa condição de finitude que nos enche de medo e nos faz voltar para nosso próprio umbigo, no desespero por alguma perspectiva de sobrevivência — e aí o outro passa a ser visto como ameaça à minha existência, e a divisão, a violência e o pecado se instalam entre nós.
Mas Jesus viveu o evento da sua morte em outra perspectiva. A partir de sua liberdade, entregou-se como testemunha do amor do Pai. Assim, ele esvaziou a morte por dentro, tornou inócuo seu veneno. Sua morte — esse aparente fracasso — então se tornou o grande sinal, o “sinal de Jonas” (Mt 12,39-40). O ponto mais baixo se tornou o lugar da irrupção da maior luz; a descida de Jesus se tornou um só movimento com a sua — e nossa — subida.
O evangelho de João é muito sugestivo ao narrar a ressurreição de Lázaro, amigo do Senhor, logo antes da última semana da vida de Jesus. Ele veio e abraçou a morte para que tenhamos vida (cf. Jo 10,10). Ele assumiu nosso lugar no túmulo para que a morte, o medo e a opressão não tenham poder sobre nós, seus amigos (cf. Jo 15,13). Somos livres, vivendo na liberdade do Espírito e não na velhice da letra (cf. Rm 7,1-6).
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