Por Família dos Devotos Em Revista de Aparecida

A infância de Jesus

Desde o nascimento de Jesus, desenha-se uma tensão: a sua existência vivida como dom será, de fato, realizada como oblação

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues

“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4-5). A Palavra do Pai se emaranha cada vez mais nas tramas da nossa história. O evangelho apócrifo de Pseudo-Mateus diz que em Belém José e Maria entraram “numa gruta subterrânea, na qual nunca houvera luz”. É no meio dessas nossas trevas que começa a brilhar a luz da Palavra. Posta como alimento no cocho, ela se oferece como dom.

O dom é para todos, mas quem o reconhece é quem está atento à sua própria sede e estende as mãos para acolhê-lo — como os magos do Oriente: não eram do povo eleito, mas ouviram seu coração, leram as estrelas e se puseram a caminho. Por outro lado, as autoridades religiosas de Israel estão surdas: seu conhecimento da Lei não serve à salvação, mas se sujeita aos projetos de morte dos poderosos deste mundo.

Jesus é “sinal de contradição” (Lc 2,34), como diz Simeão quando seus pais o apresentam no templo de Jerusalém. Ali, o próprio altar, centro do culto sacrificial de Israel, é só uma prefiguração da verdadeira oferta: abrir os ouvidos e, do fundo do coração, dispor o corpo inteiro para realizar a vontade libertadora do Pai (cf. Sl 39/40,7-9; Hb 10,5-7).

Para Jesus, isso exige um êxodo ao contrário: com seus pais, se refugia no Egito, a terra identificada na história de Israel com o mal, porque a dita terra prometida é um lugar inseguro para o Messias. Ele é mesmo a Palavra viva e eficaz, diante de quem tudo está nu e descoberto (cf. Hb 4,12-13), que veio ao mundo dar testemunho da verdade (cf. Jo 18,37): a verdade da nossa identidade filial, fazendo-a emergir de baixo dos rótulos e máscaras que muitas vezes os próprios sistemas religiosos nos impõem.

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