Revista de Aparecida

A paixão de Jesus

Numa queda vertiginosa, Jesus entra na morte; contrariando todas as expectativas, nos salva abraçando a fragilidade e não exibindo sua força

Escrito por Revista de Aparecida

26 SET 2024 - 06H55

Por Felipe Koller

Quem olha para a parte frontal da Fachada Sul do Santuário Nacional vê duas sequências verticais de cenas, uma relacionada à infância de Jesus e outra à sua paixão. São como duas setas que apontam para baixo, indicando o movimento descendente do Verbo de Deus: ele se abaixa, sem nunca se deter, até se identificar com todos nós — com os últimos de nós —, até tomar sobre si também a nossa mais profunda fragilidade: nossa mortalidade.

Entretanto, se os eventos do lado esquerdo da fachada abrangem cerca de trinta anos (cf. Lc 3,23), do seu nascimento ao seu batismo, as cenas do lado direito não contabilizam sequer um dia: são uma queda vertiginosa.

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues
O lava-pés


Vendo o cerco se fechar contra si — sobretudo, segundo os evangelhos sinóticos, com seus fortes gestos no pátio do templo (cf. Lc 19,45-48) —, Jesus reúne os seus discípulos para uma ceia. É um momento denso, dramático. Jesus sintetiza todo o seu ministério em um gesto: lavar os pés (cf. Jo 13,1-11), dar-se como alimento e bebida (cf. Mc 14,22-25). Judas, porém, entra na noite da autorreferencialidade: recusando a lógica do dom, toma a firme decisão de levar vantagem sobre toda essa situação de aparente fracasso do projeto de Jesus (cf. Jo 13,30).

Carlos Rodrigues
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Jesus sua suor e sangue no Horto das Oliveiras


Jesus, ao contrário, abraça esse movimento de descida que Judas rejeita. No jardim das oliveiras, confia-o às mãos do Pai (cf. Lc 22,42), como uma semente capaz de dar fruto (cf. Jo 12,24). Dali em diante, Jesus está simplesmente entregue às mãos dos pecadores (cf. Mt 26,45). Os guardas dos sumos sacerdotes, guiados por Judas, o prendem e o levam para o julgamento. Inerte em meio aos jogos de poder e de ganância, mesa de negociações entre Judas e os sumos sacerdotes, Jesus permanece desarmado, vulnerável, testemunhando o amor de um Deus que não se vinga, não se impõe, não condena.

Carlos Rodrigues
Carlos Rodrigues
Jesus é condenado a morte


Condenado à morte, Jesus transfigura o horrível evento da sua execução no mais alto sinal de Deus-Amor. Na cruz, ele soberanamente se entrega, num gesto da mais profunda liberdade (cf. Jo 10,18). E assim o instrumento da sua morte se torna o trono a partir do qual ele exerce o seu reinado, uma soberania completamente diferente dos reinados deste mundo (cf. Jo 18,36-37): com os braços pregados na cruz, Jesus não domina, não manipula, não subjuga. Seu reinado é tão paradoxal que não nos faz súditos, mas livres (cf. Mt 17,26; Lc 14,18; Gl 5,1; 2Cor 3,17).

Ele cravou na cruz toda palavra que pudesse se levantar contra nós (cf. Cl 2,14). Estamos salvos, libertos, pois não há nada que interrompa o amor de Deus por nós (cf. Rm 8,39).

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