A visita de Maria a Isabel

Thiago Leon

Mosaico da Colunata Sul representa visitação da Virgem Maria a Santa Isabel

“Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (1Jo 3,14). O amor ao próximo é critério da qualidade da nossa vida de oração, da nossa escuta das Escrituras, das nossas celebrações litúrgicas. O Evangelho de Lucas mostra que a primeira manifestação do “sim” de Maria à Palavra é o serviço a Isabel (Lc 1,39), pois abrir-se à Palavra gera em nós um movimento de abertura à pessoa próxima de nós que necessita de atenção.

É verdade: a acolhida de um amor que nos precede, que se dá inteiramente a nós sem pedir nada em troca, nos desarma. “Não tenha medo” (1Rs 18,13): é o que diz Elias a uma viúva ao se refugiar em Sarepta, uma terra pagã, suscitando nela um gesto de compaixão e de partilha. A Palavra nos anuncia o Deus vivo, que não nos amedronta — ao contrário, nos devolve uma vida vivida na gratuidade e na liberdade, o que derruba também os receios que temos diante do outro. “O amor lança fora o medo” (1Jo 4,18).

É essa a atitude do samaritano na parábola que Jesus conta ao tratar do amor ao próximo. Aqueles que parecem muito religiosos — o sacerdote e o levita — não dão atenção à pessoa caída justamente por serem reféns de uma imagem falsa de Deus, que proíbe tocar nas feridas do outro. Porém, aquele que é considerado pagão, oriundo da Samaria, simplesmente “viu e se compadeceu” (Lc 10,33), sem medo, nem de Deus, nem do outro.

Num gesto assim se manifesta o rosto de Cristo, que não teme chegar perto das nossas feridas. “Quem ama nasceu de Deus e conhece a Deus”, mas “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Quando recebemos cuidado e atenção de alguém, independentemente de suas convicções religiosas, podemos reconhecer nessa pessoa a manifestação da Palavra de Deus-Amor em nossa vida.

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