Por João Pedro Ribeiro e Victor Hugo Barros
A participação na missa sempre foi parte integrante das romarias a Aparecida, sobretudo a partir de 1900. Naquele tempo, as cerimônias eram realizadas em latim, com o sacerdote e os fiéis voltados juntos para o altar. Esta forma de celebração durou até o dia 15 de agosto de 1964 quando, pela primeira vez, a missa foi rezada em língua portuguesa no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. A iniciativa, promulgada pelos bispos brasileiros, era uma resposta concreta à Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, um dos primeiros frutos do Concílio Vaticano II.
O fato foi registrado no volume de 1961 a 1983 do Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida. Nele é possível ler o relato daquele dia 15: “Festa da Assunção de Nossa Senhora. Hoje dia marcado pelo bispo para começar a Missa em português. Nas Missas paroquiais, na Basílica e nas capelas (…) esplendidamente a inovação. O povo aceitou e pelos comentários ouvidos poderá contribuir para um maior afervoramento da paróquia”.
Neste período, apenas algumas partes da celebração eram feitas em português. A Oração Eucarística, por exemplo, continuou a ser rezada em latim. Já outros momentos, como todo o começo do ritual até o ofertório, eram feitos em português.
Também no Santuário, as mudanças foram feitas de forma gradativa. O almanaque Ecos Marianos de 1965 detalhou que “devido a várias dificuldades, não foi possível estender esta inovação para todas as missas dos romeiros”.
Entre elas, estava a preocupação pastoral com o fluxo de peregrinos. “Sendo eles de regiões e dioceses diferentes, tornava-se difícil dar um caráter de homogeneidade às cerimônias”. Por isso, em um primeiro momento, optou-se por mesclar entre celebrações em latim e em português.
Repercutindo a mudança, a edição de 16 de agosto de 1964 do Jornal Santuário de Aparecida publicou: “Espera-se que com esta inovação as missas paroquiais sejam mais concorridas e que os assistentes participem mais intimamente das cerimônias”.
A preparação
A mudança havia sido anunciada um mês antes, em 12 de julho de 1964, pelo então Cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. O purpurado, na época presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), promulgou para todo o país as decisões votadas em Roma sobre o uso do vernáculo na Liturgia. O Jornal Santuário de Aparecida comentou a ação no dia 19 de julho de 1964, com uma matéria de capa.
A preparação dos fiéis para a inserção da língua portuguesa na liturgia foi demonstrada de diversas formas. Na Arquidiocese de Aparecida, o então arcebispo coadjutor, Dom Antônio Ferreira de Macedo, lançou, em 20 de julho de 1964, um comunicado afirmando que “há necessidade de instruir e preparar o povo sobre a liturgia e principalmente sobre a cerimônia, que vai ser dialogada”.
Outro comunicado, assinado pelo mesmo prelado, determinou, por decisão do Cardeal Motta, a realização de uma Semana Litúrgica na Arquidiocese de Aparecida. O evento aconteceu de 9 a 16 de agosto de 1964, contando com “uma explicação e de exercícios práticos sobre as cerimônias da Missa, onde o povo toma parte”, como explicitou o documento.
O mesmo Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida descreve a realização da Semana: “Começamos hoje uma reforma litúrgica visando instruir o povo em respeito à Missa em português. Foram promovidas reuniões e explicações na Basílica e em todas as capelas com crianças e adultos”.
Também por meio de um comunicado, datado de 26 de julho de 1964, o cardeal-arcebispo fixou o dia 15 de agosto de 1964 para o início das celebrações em português. A decisão foi tomada a partir da reunião do Regional Sul da CNBB, realizada no fim de julho daquele ano. A partir do encontro, grande parte das dioceses do estado de São Paulo também iniciaram as missas em vernáculo entre os dias 15 e 16 de agosto e decidiram realizar, igualmente, a semana de formação sobre a liturgia.
Novas reformas
Motivados pela maior participação dos fiéis na missa, os Missionários Redentoristas iniciaram também em 1964 a preparação dos peregrinos para o sacramento da Confissão. A prática, que até hoje vigora no Santuário Nacional, também foi impulsionada pelo Concílio, que naquela altura se encaminhava para sua terceira sessão.
Com o caminhar das sessões conciliares, a reforma litúrgica também deu novos passos. Em 7 de março de 1965, primeiro Domingo da Quaresma, o ritual em português entrou oficialmente em vigor. A edição do Jornal Santuário daquele dia detalhou as mudanças: “O texto das orações em português é um só para todas as dioceses e paróquias e substitui os diversos textos que estavam sendo usados até esta data”.
A edição do dia 21 de março do mesmo ano apresentava os novos textos, agora uniformizados. Os comentários do periódico marcam que “algumas partes foram supressas, outras foram introduzidas e o uso da língua portuguesa foi ampliado”. “Além das partes já autorizadas em português desde o ano passado, alarga-se a possibilidade de usar o vernáculo na missa, segundo a decisão da assembleia da CNBB, confirmada pela Santa Sé”.
Foi só em 3 de abril de 1969 que uma nova edição do Missal Romano foi promulgada pelo Papa Paulo VI, hoje canonizado. A tradução em português foi oficialmente apresentada na primeira metade da década de 1970, .
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.