Revista de Aparecida

O mais longo conclave da História

Durante quase três anos a Igreja viveu a triste experiência de Sede Vacante.

Escrito por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

02 FEV 2024 - 10H45 (Atualizada em 15 FEV 2024 - 09H40)

Vatican News

No dia 29 de novembro de 1268, teve início o mais longo conclave da história que terminou em 1º de setembro de 1271, quando Gregório X foi eleito papa após 34 meses.

A história deste conclave tem muito a ver com o uso deste nome que vem da junção dos termos latinos "cum" (com) e "clavis" (chave), palavra que passou a ser utilizada desde o século XIII, quando a Sé de Pedro ficou vacante por quase três anos, e o governador da cidade de Viterbo decidiu trancar os cardeais com chave para que apressassem a eleição.

Os cardeais reunidos em Viterbo estavam divididos em dois grupos, os franceses e os italianos. Nenhum dos dois conseguia os dois terços necessários dos votos e nem cediam a posição para eleger o novo papa.

No fim do verão europeu de 1270, os cardeais foram trancados no palácio episcopal, tendo, inclusive, o fornecimento de comida e bebida racionado.

Por fim, forçadamente, os cardeais chegaram a um compromisso, devido aos esforços dos reis da Sicília e da França. O Sacro Colégio, formado então por 15 cardeais, escolheu seis deles para entrarem em acordo e emitirem um voto final. Os seis delegados se reuniram no dia 1º de setembro de 1271, unindo os votos para eleger Teobaldo Visconti, arquidiácono de Liège, que não era cardeal e nem sequer sacerdote. Eleito, ele escolheu o nome de Gregório X.

Nascido em Piacenza, o novo papa que esteve um tempo a serviço do cardeal Jacobo de Palestrina, foi nomeado arquidiácono de Liège, tendo acompanhado o cardeal Ottoboni em uma missão na Inglaterra. No momento de sua eleição, estava em Ptolemaida, cidade também conhecida como Acre, junto com o príncipe Eduardo da Inglaterra, em peregrinação à Terra Santa.

Recebendo o chamado dos cardeais para retornar imediatamente, iniciou sua viagem de volta em 19 de novembro de 1271, chegou a Viterbo em 12 de fevereiro de 1271.

Ao contrário deste longo conclave, houve outro, em 1503 que durou apenas algumas horas, e nele Júlio II foi eleito como sucessor de Pedro. Com ele a Igreja entraria de cheio no tempo do Renascimento.

O que é um Conclave?

Conclave, palavra que vem do latim cum clave (fechado), foi instituído apenas em 1271, pelo Papa Gregório X, como uma assembleia destinada a eleger o novo pontífice da Igreja. A obrigação do voto secreto, por outro lado, foi imposta apenas a partir de 1621. A obrigação do segredo dos cardeais durante e após o Conclave veio apenas no pontificado de Pio X, que incluía também a obrigatoriedade da conservação da documentação nos arquivos do Vaticano.

Em 1922, um Motu Próprio de Pio XI, determinou uma espera de 15 dias após a morte do papa reinante para iniciar o conclave, aguardando a chegada dos cardeais de todo o mundo. Uma das razões para isso eram as dificuldades de locomoção e transporte dos cardeais que viviam nas regiões mais distantes do mundo.

Mais tarde, a Constituição Apostólica Vacantis Apostolicae Sedis, publicada em 08 de dezembro de 1945, pelo Papa Pio XII, determinou a necessidade de uma maioria de 2/3 mais 1 dos votos dos cardeais para a eleição de um papa.

O Motu Próprio Summi Pontificis electio, publicado pelo papa João XXIII, simplificou o processo eleitoral. Por ele, veio a determinação de que as listas das votações deveriam ser conservadas em um arquivo e consultadas somente com a autorização de um papa. As anotações dos cardeais também deveriam ser conservadas e não mais queimadas como no tempo de Pio XII e, por fim, deveriam ser queimadas somente as cédulas eleitorais.

Já em nosso tempo, o Papa João Paulo II fixou que o Conclave deveria ser realizado na Capela Sistina. Paulo VI dizia que ‘normalmente’ os Conclaves deveriam ser ali realizados, enquanto que ao longo da história, se dizia que o conclave deveria ser realizado no local onde o pontífice viesse a morrer. Em quatro oportunidades os conclaves foram realizados no Palácio Quirinale, antiga residência dos papas. Também foi João Paulo II que definiu a Casa Santa Marta como local de acolhida dos cardeais durante o conclave. Ele também aboliu as formas de eleição por aclamação ou por compromisso, mantendo apenas a forma por escrutínio.

Hoje o número de eleitores deve ser de pelo menos 120 e sempre que este número desce abaixo de 120, o papa deve convocar um novo consistório para nomear novos cardeais. 

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