O Papa Francisco abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano, na próxima terça-feira (24), durante a tradicional Missa do Galo. A cerimônia, que acontece às 19h de Roma (15h no horário de Brasília), marca o início do Ano Jubilar de 2025, o 27º a ser celebrado de forma ordinária pela Igreja Católica.
“Vai ser um ano todo especial e, claro, com um sinal muito importante, que celebramos em cada Jubileu, que é a cerimônia que abre este tempo de graça, este tempo novo, para toda a Igreja”, explica o doutor em Teologia Cristã, com concentração em Liturgia, padre Rodrigo Arnoso, C.Ss.R..
A convocação para a abertura da Porta Santa foi feita por meio da Bula Spes non Confundit, publicada pelo Papa Francisco. O texto ainda apresenta as especificações para o ritual, bem como os locais em que ele será realizado, além de dispor outras informações sobre o Ano Jubilar.
“O Papa já está nos convidando a este tempo de preparação desde o mês de maio, quando ele publicou a Bula, proclamando assim o Ano Santo, o ano de 2025 como o ano do Jubileu da Esperança, para celebrar os 2025 anos do nascimento de Jesus Cristo”, detalha o sacerdote.
Confira a entrevista completa com o padre Rodrigo Arnoso:
A Porta Santa
Sinal do Jubileu, a Porta Santa da Basílica de São Pedro foi aberta pela última vez durante o Jubileu extraordinário da Misericórdia, em 2016. Desde então, estava vedada por um muro, demolido no último dia 02 de dezembro, durante o rito da “recognitio”.
“Esta porta é uma porta especial na igreja da Basílica de São Pedro. Bem também como nas outras três grandes Basílicas de Roma, que nós chamamos então de Porta Santa”, assinala padre Rodrigo.
Mais do que um espaço de passagem, o símbolo recorda o próprio Jesus, que afirmou: “Eu sou a porta: se alguém entra por mim, será salvo” (Jo 10,10). “Cristo é a porta. É Ele quem agora se abre para que, passando por Ele, possamos atingir, então, o Senhor”, salienta o redentorista.
“A Porta Santa é um sinal particular, a Porta Santa fica fechada por 25 anos e é sempre a mesma Porta”, detalha o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização e responsável pelo Jubileu da Esperança, Dom Rino Fisichella. “Por tradição, a Porta Santa sempre esteve presente nas quatro basílicas papais”.
Tradicionalmente, a primeira Porta Santa a ser aberta é a da Basílica de São Pedro, um costume iniciado pelo Papa Alexandre VI, no Jubileu de 1500. Também estão agendadas aberturas das Portas Santas na Arquibasílica de São João de Latrão, catedral de Roma, no dia 29 de dezembro; na Basílica de Santa Maria Maior, em 1º de janeiro de 2025; e na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em 05 de janeiro do próximo ano.
Por vontade do Papa Francisco, neste ano, uma Porta Santa será aberta, de forma extraordinária, na Penitenciária de Rebibbia, no subúrbio de Roma, no dia 26 de dezembro. Este será o único local, fora das Basílicas Maiores, a possuir o sinal. “Para que nos remeta aquela passagem de Lucas 4, 16: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu, porque Ele me enviou para anunciar a liberdade, o ano da graça, libertar todos das prisões”, contextualiza padre Rodrigo.
A Porta Santa da Basílica de São Pedro ficará aberta até o dia 06 de janeiro de 2026. “Demonstrando que este ano é para que todos possam viver esta experiência de conversão”, comenta o sacerdote. Também por isso, o fechamento da Porta da Basílica Vaticana marca o encerramento do Jubileu da Esperança.
A cerimônia de abertura da Porta Santa
Repleta de significados, a cerimônia de abertura da Porta Santa, no Vaticano, será realizada no início da tradicional Missa do Galo. O livreto da Eucaristia, que será presidida pelo Papa Francisco, foi divulgado na manhã desta sexta-feira (20), pelo Escritório de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.
A celebração, que terá início no átrio da Basílica de São Pedro, começará com a antífona In domum Domini laetantes ibimus – Alegrei-me quando me disseram, vamos à casa do Senhor – extraído do salmo 121. Logo após a saudação inicial, o pontífice convidará os fiéis e a se preparem a “cruzar com fé a Porta Santa”. Ao mesmo tempo em que recordará que o Senhor é “luz da luz, esperança inextinguível”.
Após um momento de oração, será proclamado o Evangelho de São João (10,7-10). Logo depois, serão cantados trechos do Salmo 118, presente nos rituais de abertura da Porta Santa desde o século XVI.
O Papa Francisco abrirá, sozinho e em silêncio, a Porta Santa. Durante seu momento de oração diante da Porta já aberta, os sinos da Basílica vão repicar, marcando o início do Jubileu da Esperança.
Após a entrada do Santo Padre na Basílica, a Porta Santa será atravessada por alguns religiosos que participam da cerimônia. Leigos provenientes de cincos continentes, representando todos os fiéis, também vão ingressar pela passagem, seguindo até o Altar da Confissão – o principal do templo – para a continuidade da missa.
“Todo este caminho ele é feito para que a gente possa alcançar aquilo que é a celebração de um Jubileu, as graças que o Senhor deseja dispensar a sua Igreja, sobretudo neste tempo oportuno onde somos convidados a uma experiência de conversão”, evidencia Arnoso.
Uma antiga tradição
Embora seja um dos sinais mais conhecidos do Jubileu, a Porta Santa aparece pela primeira vez apenas em 123 anos após o início da tradição do Ano Santo. “A Porta Santa no primeiro Jubileu, de 1300, não existia. A primeira vez que encontramos a Porta Santa é em 1475. Portanto, é um sinal que aparece muito tarde”, recorda Dom Rino Fisichella.
A partir de 1500, a cerimônia de abertura foi solenizada, ganhando um rito próprio, elaborado pelo então Mestre de Cerimônias do Papa, Dom Giovanni Burcardo. Em 1525, o ritual recebeu algumas alterações, sofrendo grandes alterações apenas no Jubileu da Redenção, em 1983.
No antigo rito, o próprio Papa golpeava com três marteladas o muro que fechava a Porta Santa, fazendo-o cair. Os sacerdotes responsáveis pelo atendimento de confissões da Basílica de São Pedro lavavam e varriam a passagem, permitindo a entrada dos fiéis.
Um incidente no Natal de 1974, porém, alteraria o ritual secular. Ao martelar a Porta da Basílica Vaticana e fazer o muro cair para iniciar o Jubileu de 1975, o papa Paulo VI foi atingido por fragmentos significativos do muro que fechava a passagem.
Em 1983, no Jubileu da Redenção, o muro foi previamente demolido pelos trabalhadores da Basílica de São Pedro. João Paulo II – hoje canonizado – usou o martelo, mas apenas para bater na Porta, que já estava sem o muro.
O mesmo pontífice abriu novamente a Porta Santa no grande Jubileu do Ano 2000, mas sem o martelo e com o muro demolido dias antes. O formato foi seguido pelo Papa Francisco em 2015, na abertura do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.
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