Revista de Aparecida

O que são os arquivos secretos do Vaticano?

Escrito por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

02 FEV 2024 - 11H55 (Atualizada em 15 FEV 2024 - 09H40)

Vatican News

Muitos cinéfilos gostam de assistir filmes de espionagem ou de histórias secretas e certos personagens do mundo cinematográfico como James Bond, ou personagens criados pela escritora britânica Agatha Christie não perdem a atualidade, atravessando gerações.

Tudo o que é secreto ou aquilo que se desenvolve em segredo sempre gera uma grande curiosidade da parte da maioria das pessoas e logo se pensa em algo que não pode ser revelado, que está escondido por ser considerado perigoso. A partir dai surgem muitas lendas, hipóteses e superstições.

Isso acontece também em relação aos arquivos do Vaticano que por terem o nome de “Secretos” geram uma série de especulações. Mas como veremos, de secreto hoje pouca coisa os arquivos apresentam.

Os arquivos e seus segredos

Os Arquivos Secretos estão localizados no Vaticano, constituindo-se em repartições onde está guardada a documentação histórica da Igreja. Alguns prédios resguardam um grande tesouro do Cristianismo que narra a História da Igreja Católica.

Os arquivos foram criados a partir de 1610, pelo então Papa Paulo V, a fim de resguardar e preservar a trajetória da Igreja Católica. Ali está cada decreto, carta, publicação, processos, enfim, toda a documentação eclesiástica.

Os pastores da Igreja, em sua missão de zelar pelos ensinamentos de Jesus, para que eles sejam transmitidos de geração para geração sem adulterações, ao longo do tempo foram ampliando os arquivos para que textos evangélicos, correspondências apostólicas e outros escritos fossem preservados. São eles que ajudam a explicar e a fundamentar a tradição da Igreja. Desta forma, a solução foi criar um Arquivo que pudesse conter e guardar toda esta documentação.

Hoje o termo “secreto” encontra-se apenas na expressão que dá nome ao conjunto de documentos que, em grande parte, já está disponível para estudiosos e pesquisadores, e até mesmo podem ser acessados virtualmente.

Em geral, a Igreja permite o acesso de um documento arquivado depois de 75 anos. Em 1883, o Papa Leão XIII tomou a iniciativa de liberar os escritos de seus predecessores para pesquisadores não ligados à Igreja. O estudioso Ludwig von Pastor foi o pioneiro no estudo destes documentos para escrever a História dos Papas, uma coleção de livros que traz a biografia dos papas da Igreja.

Aos poucos novos textos foram sendo disponibilizados pelos papas seguintes, englobando pontificados anteriores, até chegarmos ao pontificado do Papa João Paulo II que, em 2002, tornou acessível a documentação pertencente ao Arquivo Histórico da Secretaria de Estado (Segunda Seção), que contém os valiosos textos que narram as relações do Vaticano com a Alemanha durante o tempo do Nazismo. O atual Papa Francisco também já liberou o acesso a novos documentos chegando ao pontificado do Papa Pio XII.

Quilômetros de corredores e estantes

Como podemos perceber, os nada “Secretos” Arquivos do Vaticano já contam com quase 85 quilômetros de estantes repletas de documentos que aos poucos vão dando base aos muitos estudos de pesquisadores especializados.

Claro que o acesso a esta vasta documentação tem um caráter privativo, não sendo possível o acesso de qualquer pessoa, precisando os estudiosos serem munidos das necessárias autorizações, sendo pessoas de bom senso que não deturpem a interpretação do que virem e acessarem.

Nas estantes do arquivo os documentos estão organizados em seis grupos: Cúria, Delegações Papais, Singulares ou Familiares, Concílios, Ordens Religiosas, Mosteiros e Confrarias e outros.

Os arquivos do Vaticano estão dispostos em dois recintos modernos destinados à pesquisa, com capacidade para receber a visita de pelo menos 1500 estudiosos. Há também um espaço que abriga índices, uma biblioteca, uma sala de restauração e estudos mais privativos, um laboratório de fotografias digitais e outro de informática, além do espaço administrativo.

No site do Vaticano já estão disponibilizados muitos documentos históricos da Igreja cujos originais encontram-se nos arquivos dos quais falamos. 

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