A Igreja Católica realiza anualmente a Campanha da Fraternidade desde 1964, trazendo temáticas voltadas à realidade social, que necessita de mudanças em vista da dignidade das pessoas, de modo especial dos mais pobres. Neste ano a campanha será ecumênica, em sintonia com as igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic): Igreja Católica, Igreja de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia. Também integram esta campanha a Aliança de Batistas do Brasil, o Cesep e a Visão Mundial. A abertura da campanha ocorre na Quarta-Feira de Cinzas, início da Quaresma, como sinal de conversão.
A primeira Campanha da Fraternidade ecumênica realizou-se no ano 2000, com o tema “Dignidade humana e paz”; depois, em 2005, com o tema “Solidariedade e paz”; em 2010, com o tema “Economia e vida”; e, agora, em 2016, com o tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” e com o lema “Queremos ver o direito brotar como fonte, e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5, 24).
A campanha deseja chamar atenção para o vergonhoso déficit de saneamento básico no Brasil e suas consequências para a vida das pessoas.
"A campanha deseja chamar atenção para o vergonhoso déficit de saneamento básico no Brasil e suas consequências para a vida das pessoas".
Iluminadas pela fé, as igrejas cristãs têm como objetivo nesta campanha assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas, promovendo atitudes responsáveis, e também despertar nos governantes a urgência de políticas públicas que garantam a dignidade humana. A fé cristã não se reduz ao espírito, mas deve promover a solidariedade e o amor ao próximo – neste caso, aos desprovidos do direito à vida digna.
O tema desta Campanha da Fraternidade segue o pensamento do papa Francisco, que publicou a encíclica Laudato Sì, que trata do cuidado da casa comum, que é o nosso planeta. Por isso essa temática traz dois elementos muito importantes: o cuidado com a criação e a luta pela justiça, ressaltando que em vários lugares do Brasil os serviços de saneamento básico não existem. Muitos são os excluídos destes direitos fundamentais, revelando assim a ausência de justiça social.
A campanha deseja chamar atenção para o vergonhoso déficit de saneamento básico no Brasil e suas consequências para a vida das pessoas, e ao mesmo tempo busca apoiar e incentivar os municípios à elaboração e execução de seu Plano Diretor de Saneamento Básico. Este déficit torna-se tão presente a ponto de doenças como a dengue se espalharam de forma assustadora.
Precisamos proteger a “casa comum” utilizando de maneira responsável os dons da natureza – de modo especial, a água, que corre o risco de acabar caso a política de uso não seja revista. Também os eventos climáticos intensos, cada vez mais frequentes, afetam as diversas regiões do país, trazendo sérias consequências à população, especialmente aos pobres, os que mais sofrem.
As religiões podem contribuir positivamente na conscientização dos valores necessários para a proteção da “casa comum” e no diálogo para que a vida seja respeitada. O papa Francisco disse: “Faço um convite urgente a um novo diálogo sobre o modo como estamos construindo o futuro do planeta” (LS, 14). Nisto as igrejas filiadas ao Conic pretendem contribuir pastoralmente para um cuidado maior com a “casa onde vivemos”, para que a criação em sua totalidade seja cultivada com responsabilidade, e que todos tenham vida digna (Jo 10, 10). Que cada um de nós se sinta responsável pela nossa “casa comum” e possa promover a fraternidade e a solidariedade, especialmente com os mais necessitados.
Pe. Joaquim Parron, C.Ss.R.
Ex-provincial da Província de Campo Grande
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