Foto: Shutterstock
Papa Francisco tem encantado e vem educando o mundo pela afetividade. Sua humildade e simplicidade se revelam ao conviver com as diferenças, ao convocar para paz, ao não ter medo de seguir em missão, ao espalhar sorrisos, ao lavar os pés dos mais pobres, ao ir ao encontro dos que sofrem, ao telefonar para alguém ou ao responder uma carta. Esses e muitos outros gestos causam-nos admiração; eles nos provocam e desafiam para que também façamos o mesmo. Esse foi o pedido de Jesus no Lava Pés: Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. (Jo 13,15).
Papa Francisco é autoridade! Ele representa 1,27 bilhão de Católicos e tornou-se liderança religiosa respeitada por todas as denominações cristãs e religiões. Sua autoridade é exercida pelo serviço e suas atitudes transbordam de ternura. Pela afetividade ele nos mostra a urgência de amor.
Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anuncio do Evangelho no Mundo Atual, Papa Francisco reflete e nos exorta sobre o afeto: “Para partilhar a vida com a gente e dar-nos generosamente, precisamos reconhecer também que cada pessoa é digna da nossa dedicação. E não pelo seu aspecto físico, suas capacidades, sua linguagem, sua mentalidade ou pelas satisfações que nos pode dar, mas porque é obra de Deus, criatura sua. Ele criou-a à sua imagem, e reflete algo da sua glória. Cada ser humano é objeto da ternura infinita do Senhor, e Ele mesmo habita na sua vida. Na cruz, Jesus Cristo deu o seu sangue precioso por essa pessoa. Independentemente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece o nosso afeto e a nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida. É maravilhoso ser povo fiel de Deus. E ganhamos plenitude, quando derrubamos os muros e o coração se enche de rostos e de nomes! (274)”.
Precisamos levar a Pedagogia de Papa Francisco para as escolas. A Educação escolar não é um amontoado de ações cognitivas e racionais que pode dispensar a afetividade. A capacidade evolutiva não está ligada somente à capacidade cognitiva do sujeito e sem a dimensão afetiva todas as demais podem ser bloqueadas. Amar e ser amado: uma das grandes experiências humana! Quando somos amados, ainda que tenhamos que enfrentar o medo, teremos equilíbrio, pois sentimo-nos seguros, motivados, encorajados e sabemos que não estamos sozinhos. O afeto não nos permite cair nos abismos que nos minimizam. Pessoas quando amadas, espalham amor e alegria ainda que estejam passando por problemas. Na escola, precisamos ter sensibilidade e ir ao encontro dos mais frágeis. Não podemos ocultar nos esquemas escolares, o suspiro daqueles que estão sufocados por práticas pedagógicas não humanizadas. Assim como também disse Papa Francisco, precisamos ir às periferias materiais, mas também as periferias existenciais. Nossas escolas estão marcadas pelas periferias existenciais. O afeto livra os alunos das periferias existenciais, e também por ele, tira muitos dela.
Vale recorrer à ciência, pois também ela comprova a importância da afetividade. Para Henri Wallon, a afetividade tem ligação direta com a formação da personalidade. Ele afirma que a afetividade se manifesta antes mesmo da inteligência. Ela é o ponto de partida para a harmonização do indivíduo com o mundo e consigo mesmo. Sua teoria revela-nos a importância de conhecer os fatores orgânicos e biológicos de quem pretendemos educar, mas também revela que precisamos conhecer sua condição humana. A educação não pode pretender formar o indivíduo a partir de uma única dimensão. No processo de formação, é preciso levar em conta a cognição, mas também as dimensões motora e emotiva. E em nosso caso, como educadores cristãos, podemos utilizar esta dimensão para chegar àquela espiritual, ou “abertura à transcendência”, como já afirmou Papa Francisco. Pela afetividade os indivíduos transitam em seus estágios de crescimento e assim, as experiências cognitivas, motoras e emocionais se agregam na afetividade. Henri, WALLON (1995, p. 288) na obra “A evolução psicológica da criança”,esclarece: “A afetividade é um domínio funcional, cujo desenvolvimento dependente da ação de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma relação recíproca que impede qualquer tipo de determinação no desenvolvimento humano, tanto que a constituição biológica da criança ao nascer não será a lei única do seu futuro destino. Os seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias sociais da sua existência onde a escolha individual não está ausente”.
Há confusões que precisam ser dissipadas para não criar equívocos quanto à afetividade: autoridade não é autoritarismo. A autoridade não impede que o educador seja afetuoso. Ser exigente não significa ser ríspido. A exigência não impede o afeto de se revelar. Organização não é sinônimo de ambiente frio. A organização não camufla a essência da afetividade. Muitas vezes, o argumento da falta de afetividade, justifica nosso vazio, nossas incertezas e em alguns casos, até nossos erros. Essa justificativa comprova que temos consciência, de que a ausência do afeto, dificulta a formação humana. Todos nós precisamos de afeto. Podemos até esconder ou ter vergonha de assumir, mas não há como negar.
Não podemos confundir afetividade com sentimentalismo. Assim como também não podemos confundir o afeto com discursos bonitos, que pela retórica definem o mesmo. O afeto é o canal para o desenvolvimento dos valores essenciais à convivência humana. Também na obra “A evolução psicológica da criança”, Afirma Henri Wallon (1995. p. 45). “A importância das relações humanas para o crescimento do homem está escrita na própria história da humanidade. O meio é uma circunstância necessária para a modelagem do indivíduo. Sem ele a civilização não existiria, pois graças à agregação dos grupos que a humanidade pôde construir os seus valores, os seus papéis, a própria sociedade”.
A Afetividade interfere diretamente em nosso desenvolvimento e a falta dela, em nossa estagnação. Com a educação afetiva abrimos os horizontes de nossa sensibilidade e reforçamos os laços humanos. A educação afetiva forma pessoas que têm mais condições de enfrentar seus conflitos com harmonia, evitando o uso de remédios, pois esses têm assumido o lugar terapêutico exclusivo na vida de muitas pessoas. Os conflitos, as emoções, a dificuldade de lidar com os desafios não encontram respostas interior, talvez pela falta da afetividade no processo de formação.
Receber afeto e ofertar afeto é garantia de viver bem no coletivo e na vida pessoal. Uma Educação afetiva é sensível à realidade do educando, pois esse não é um papel em branco à espera da transferência de conhecimento. Ele é parte de um todo construído por muitas realidades e a afetividade perpassa toda sua história, desde sua concepção.
:: Educação e enculturação: encontrar-se consigo e com o outro
Boleto
Carregando ...
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:
Carregando ...
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.