Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 27 MAR 2019 - 11H00

Páginas de História da Igreja

No início do século XVI surgiu na Europa um movimento de reação à Igreja Católica que ficou conhecido como Reforma Protestante. Motivado por alguns erros internos da Igreja esse movimento pedia a reforma da cabeça (papa e bispos) e dos membros da Igreja (clero e povo). O problema é que quase todos os movimentos de reforma da Igreja atingiam o povo, mas quase nunca chegava até a cabeça da Igreja.

Paralelo a isso a sociedade europeia e o mundo em geral passavam por uma fermentação em todos os campos, desde a cultura até a política. Esta fermentação estava levando a uma mudança de época embalada por uma serie de fatores.

O problema é que uma boa parcela da Igreja, a começar do papa, não percebeu a abrangência desta movimentação que ganharia um caráter político por causa do apoio dos reis e príncipes desejosos de se livrarem da tutela da Igreja. Quando a Igreja abriu os olhos já era tarde e foi preciso correr contra o prejuízo com o movimento conhecido como Contrarreforma.

O movimento reformista protestante viria coincidir com o tempo do fortalecimento dos Estados Nacionais Modernos e com o desenvolvimento do Sistema Capitalista em sua primeira fase, a comercial.

O Fortalecimento dos Estados Modernos

No ano de 1303, havia acontecido um atentado contra o papa Bonifácio VIII em Anagni, como um sinal dos tempos modernos, pois nunca a pessoa de um papa havia sido atingida desta forma. Em 1517, Martinho Lutero publicaria as suas 95 teses, pregando-as na porta da capela do convento de sua cidade.

Em 1545 se daria a abertura do Concílio de Trento e entre os anos de 1545 e 1648 se daria a reação da Igreja conhecida como Contrarreforma que seria concluída com a Paz de Westfallia em 1648, marcando o fim da Guerra dos 30 anos que teve como uma de suas principais características a de ser uma guerra de motivações religiosas.

Rei Luis XVI

Foto: O rei Luís XIV foi o símbolo mais real do Estado Nacional Moderno

O século XVI

O século XVI teve como uma de suas manifestações mais profundas o processo das reformas religiosas, responsáveis por quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa. Levando ao advento de uma série de novas igrejas que, embora cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder proposto por Roma, as chamadas igrejas protestantes que até hoje continuam o seu processo de divisão.

Mais do que ser apenas um movimento religioso, a Reforma Protestante insere-se no contexto mais amplo que marcou a Europa a partir da Baixa Idade Média, sendo sinal da superação da estrutura feudal tanto em termos de fé como também em seus aspectos sociais e políticos.

Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas como um processo que se iniciou apenas no século XVI. Ao contrário, elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha se manifestando na Europa desde o início da Baixa Idade Média, fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo declínio do mundo feudal, pelo crescimento do comércio e da vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos reis e pelo advento de uma nova camada social, a burguesia.

Também não se pode deixar de lado a influência do Renascimento Cultural, no sentido de romper com o monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média, ainda que tenha sido a Igreja a sua iniciadora e uma de suas principais financiadoras.

O Renascimento veio possibilitar a aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles vividos até então, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja exercia na Idade Média.

Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são filhas do Renascimento, e representam, como este, uma adequação de valores e de concepções espirituais às transformações pelas quais a Europa passava nos campos econômico, social e cultural.

Características do Mundo Moderno

A Idade Moderna, ao contrário do mundo feudal que era mais estático por ser baseado no rural, era de grande movimentação por ser baseada no mundo urbano e comercial.

Toda a movimentação do mundo moderno provocou uma crise de identidade nos povos e nos países católicos por causa da crise da unidade feudal. No rastro desta crise de identidade veio o fenômeno do nacionalismo e da perda do poder por parte do papa. Neste período começou o processo de afirmação dos Estados Nacionais Modernos que se fundamentam sobre uma cultura, uma língua e sobre valores específicos, distintos do caráter de universalidade proposto pela Igreja.

Com a afirmação dos Estados Modernos acontece também o princípio da afirmação das diversas nacionalidades.

cidade medieval

Foto: O crescimento das cidades determinará as mudanças na ordem social do mundo moderno

Ao longo deste período acontecerá a laicização da arte, da cultura e da sociedade em geral. Nos setores mais radicais virá um anticlericalismo crescente. A secularização da cultura vai provocar a diminuição da força do sistema escolástico que usado pela Igreja e que vigorava até então.

Como pilastras do novo sistema socioeconômico que surgia baseado no capital cresceram o individualismo, o subjetivismo e o antropocentrismo ligado aos outros ismos deste período como o naturalismo, racionalismo e subjetivismo religioso, acompanhado do renascimento das artes e das letras.

comerciantes

Foto: O Capitalismo Comercial nascente significará o golpe de misericórdia no feudalismo

A ruína do feudalismo se completará com o crescimento das cidades que passaram a receber levas continuadas de pessoas trazidas pelo Êxodo Rural. Crescendo as categorias urbanas, aos poucos vai se dando a submissão da nobreza aos reis, com a decadência do Ideal de Cavalaria e desenvolvimento do comércio e da indústria.

A economia monetária passa a se sobrepor então à economia feita na base de trocas que era o sistema usado até então. Com o capitalismo nascente desperta-se o poder da burguesia que passa a ditar as regras da economia.

Por outro lado, o absolutismo real vai se fundando cada vez mais na centralização do poder e da administração. Com isso, o Estado Moderno luta para submeter a Igreja. Esta política fica conhecida como regalismo.

Desde então constitui-se o chamado “Homem Moderno”, que é individualista, laico e profano. Estas características vão se aprofundando com o passar dos tempos até chegar ao que temos hoje.

:: Igreja na Idade Moderna: Europa, um continente em mutação

Colunista padre Inácio

Escrito por:
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Missionário redentorista graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da antiga Província Redentorista de São Paulo, tendo sido também diretor da Rádio Aparecida.

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